Ciência e Saúde
CANÁBIS E OUTRAS DROGAS: INVESTIGAÇÃO MOSTRA RISCO ACRESCIDO PARA JOVENS
Um estudo de Lisa D. Hawke, Emiko Koyama e Joanna Henderson, investigadores do Centre for Addiction and Mental Health em Toronto, em associação com o departamento de psiquiatria da Universidade de Toronto, alerta para as ameaças à saúde mental dos jovens consumidores de canábis. No trabalho publicado em agosto deste ano na revista científica Journal of Substance Abuse Treatment foi dado ênfase às consequências do consumo da substância mediante as diferenças entre sexos, idades e frequência de uso.
Nas camadas mais jovens, os malefícios da planta Cannabis sativa, quando consumida com grande frequência, foram comprovados em estudos passados. Consequências físicas, cognitivas e mentais, como dificuldades na aprendizagem, falta de memória, problemas respiratórios e risco de cancro, são alguns dos efeitos do uso prolongado de canábis. Apesar disso, existe a perceção generalizada de que a planta é inócua, o que representa uma preocupação, segundo os especialistas.
A amostra estudada consistiu em mais de 1300 jovens, entre os 14 e 24 anos e inseridos em tratamentos do Youth Addiction and Concurrent Disorder Service no Centre for Addiction and Mental Health, em Toronto. As principais variáveis independentes consideradas foram o sexo e a idade, em que a última foi dividida em dois grupos – adolescentes (14 a 17 anos) e jovens adultos (18 a 24 anos).
A primeira conclusão do estudo foi a de que o sexo masculino, mais de 60%, representa a maioria dos consumidores, o que demonstra a predisposição deste género para o consumo de canábis. Vários questionários foram realizados no sentido de apurar as condições socioeconómicas de cada participante, a frequência de uso de várias substâncias, a idade de início de consumo e diagnóstico de transtornos internalizantes (depressão, ansiedade, paranoia) e externalizantes (problemas de conduta) devidos ao uso de drogas de abuso.
As diferenças entre sexos foram evidentes, quando analisado e comparado o uso das várias substâncias ilícitas. Apesar de os homens adultos identificarem com maior frequência a canábis como a substância a que mais recorrem, as mulheres adultas parecem ter maior predisposição para o consumo de cocaína, opióides, metanfetaminas, alucinogénios e álcool. Evidenciou-se a necessidade que o sexo feminino manifesta no tratamento, já que as adolescentes e jovens adultas são mais predispostas a apresentarem transtornos internalizantes e externalizantes simultâneos resultantes do uso dessas substâncias.
Para além disso, as diferenças entre as faixas etárias também foram demonstradas. Os adolescentes são mais propícios a consumir canábis com maior frequência do que os jovens adultos e a apresentar um maior número de transtornos externalizantes. Já os jovens adultos, apresentam principalmente transtornos internalizantes.
Os resultados publicados indicam que as estratégias de tratamento devem ser repensadas, já que o sexo e a faixa etária de cada consumidor resultam em necessidades individualizadas. Devido ao número de casos com múltiplos transtornos observados em simultâneo, é recomendável um tratamento coordenado entre os serviços de saúde mental e os de toxicodependência. Tal não acontece em muitas jurisdições canadianas, estando estes dois sectores desconectados.
Segundo os investigadores, esta dissociação entre estes serviços representa uma lacuna, já que deixa jovens vulneráveis, nomeadamente os do sexo feminino, sem resposta adequada aos seus transtornos. Com a legalização da canábis para uso não medicinal no Canadá, os autores afirmam ser essencial repensar uma terapia diferenciada. “Investigações a tratamentos específicos para os jovens consumidores de canábis são necessários” e “uma integração e colaboração mais próximas” entre a toxicodependência e a saúde mental dos mais novos.