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Educação

Propinas de mestrado na FCUP aumentam entre 50 e 1300 euros

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Os programas de mestrado da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) viram aumentos nas suas propinas, variando entre os 50 e os 375 euros para os estudantes nacionais, e de 1300 euros, em alguns mestrados, no caso dos estudantes internacionais. Simultaneamente, as licenciaturas da mesma faculdade sofreram uma diminuição nas suas propinas em 174,52 euros, passando a valer, para estudantes nacionais, 697 euros por ano.

Este aumento de propinas não é, no entanto, exclusivo da FCUP, tendo todas as faculdades da Universidade do Porto (UP) alterado os valores para o ano letivo de 2020/21 após Conselho Geral a 17 de junho de 2019. Os aumentos variam entre os 10% na Faculdade de Engenharia e na Faculdade de Farmácia, e os 40% na Faculdade de Ciências, tendo-se definido o valor base em 1300 euros. Importante será salientar que os estudantes internacionais oriundos de estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) têm um regime diferente de propinas, normalmente mais económico em relação aos restantes estudantes internacionais. Em 2020/21, no entanto, a FCUP aumentou em 87.5% (face aos 40% dos restantes estudantes internacionais) as propinas dos estudantes nacionais de países cuja língua oficial é o português.

Diogo Lopes, aluno do mestrado em Aplicações em Biotecnologia e Biologia Sintética, diz ter descoberto o aumento das propinas “ao efetuar a renovação da matrícula”. “Comecei a falar com os meus colegas e verificamos que o aumento era muito diferente de mestrado para mestrado”, frisa. Foi com surpresa que Diogo e outros colegas da FCUP receberam esta informação, uma vez que a comunicação, dizem, foi “insuficiente”. Aliás, no momento de publicação desta notícia, é impossível encontrar publicamente os valores das propinas de mestrados para o ano letivo 2020/21 na FCUP.

A própria direção da faculdade admite, através de um esclarecimento geral enviado por correio eletrónico, que a informação sobre os valores das propinas na plataforma digital da UP, a plataforma SIGARRA, “não está suficientemente explícita para consulta pelos estudantes”, comprometendo-se ainda a “uma alteração e melhoria de toda a informação relevante para os Estudantes da FCUP”.

A mesma desinformação é queixa de Jéssica Roque, mestranda em Biologia Celular e Molecular, que viu a sua propina aumentar em 375 euros face ao ano anterior. “Não estávamos a contar, quando descobrimos até procuramos os despachos e as comunicações antigas da faculdade e não encontramos nenhuma informação relativa a este aumento”, conta.

Trabalhadora-estudante e deslocada do seu agregado familiar, a mestranda de Vale de Cambra vê o seu orçamento diminuído com este aumento inesperado, e, apesar de ser beneficiária de bolsa de estudos, o futuro próximo é muito incerto. “Provavelmente o valor das bolsas [871,25 euros] será o mesmo, o que significa que vou ter de dar mais dinheiro da minha parte”, confessa, acusando ainda a falta de comunicação por parte da faculdade: “contactei a reitoria, a Associação de Estudantes, a Federação Académica do Porto e a secretaria. Fui mandada de um lado para o outro e ninguém sabia nada. A DGES já nem me atende o telefone.”

Joana Castro, colega de curso de Jéssica Roque, lamenta a mesma situação. A vida autónoma no Porto, longe da família, dificulta também a viabilidade dos seus estudos, “sendo ainda mais difícil acarretar os custos do curso e das despesas com o ordenado de um part-time”. Admite candidatar-se à bolsa da Direção-Geral de Ensino Superior (DGES), sendo a única solução apresentada pela FCUP.

A situação só ficaria mais grave ao perceber que, no caso dos alunos internacionais, “o aumento é entre os 750 e os 1300 euros”, comenta ainda Diogo Lopes. É o caso de Gabrielle Cabral, brasileira, mestranda em Biologia Celular e Molecular, que viu o valor da propina aumentar em 1300 euros.

Fruto da pandemia da COVID-19, vários dos estudantes internacionais que se deslocaram até à UP para realizar os seus programas de mestrado estão a ponderar o regresso aos seus países de origem. A instabilidade económica e o abrupto aumento das propinas estão na raiz destas situações, pelas quais passam alunos como Gabrielle Cabral, trabalhadora-estudante, a quem “não foi apresentada nenhuma solução por parte da FCUP”. “Não existem bolsas para estudantes internacionais, e eu não consigo pagar o valor e ainda as despesas de viver no Porto com o ordenado do meu trabalho.” Assim descreve a aluna brasileira o seu estado atual.

Falta de informação, escalões e abrandamentos nos planos de financiamento

Contactada pelo JUP, a diretora da FCUP Ana Cristina Freire, no cargo desde 2019, remete para o facto de estes aumentos das propinas terem sido decididos “em 2019, num período em que não se pensava que fôssemos entrar numa pandemia global”. Assim, não são novidade, relembra, “tendo sido anunciados em janeiro deste ano, a tempo das primeiras candidaturas aos programas de mestrado”.

A informação, admite, “poderia ter sido melhor veiculada”. No entanto, Ana Cristina Freire coloca também a bola no campo dos estudantes, acusando a sua falta de atenção à plataforma SIGARRA e consequente desinformação. “Os alunos não leem os mails institucionais e não visitam o SIGARRA. Temos acesso a esses dados e percebemos que muitos não mostram interesse em procurar a informação nestes canais oficiais da UP”, confessa.

Se o diálogo entre a FCUP e os seus estudantes foi deficiente, a definição do plano de aumento de propinas foi, segundo a diretora da Faculdade de Ciências, transparente e tramitada com toda a normalidade dentro dos protocolos internos da universidade. Refere ainda que, como consequência do momento global de pandemia que vivemos e as consequentes dificuldades económicas dos estudantes da FCUP, foram feitas alterações no plano de aumento de propinas. “O plano seria aumentar as propinas gradualmente, ao longo dos anos letivos de 2020/21 e 2021/22, mas de maneira a não dificultar a vida aos estudantes, foi decidido que o segundo aumento seria suspendido até a situação normalizar, ou seja, esperamos pelo ano letivo 2022/23″, explica Ana Cristina Freire.

“Estes aumentos permitem à FCUP ter uma maior qualidade nas suas infraestruturas e nos materiais de ensino, bem como aproximar-se aos valores dos restantes mestrados da UP.” Assim justifica a diretora da Faculdade de Ciências o mais recente aumento das propinas da faculdade, realçando ainda que, mesmo com este aumento, “a UP continua a ser uma das universidades do país com propinas de mestrado mais baixas, nomeadamente para estudantes internacionais”.

Os mestrados da FCUP foram, no âmbito deste ajuste de propinas, divididos em três níveis:

Nível 1 – Mestrados em linha com as formações de 1° ciclo

Nível 2 – Mestrados com especificidade temática/carácter profissionalizante e com índice de procura média

Nível 3 – Mestrados com especificidade temática/carácter  profissionalizante e com elevado índice de procura

Propinas dos mestrados FCUP 2020/21. Por Soraia Ramalho.

É no nível mais alto que se encontra o mestrado em Biologia Celular e Molecular, que verá as suas propinas aumentar em 375 euros para os estudantes nacionais e em 1312,50 euros para os estudantes internacionais de países da CPLP, totalizando 2812,50 euros por ano. Valor que viria ainda a aumentar no ano letivo 2021/22 para 3375 euros, não fosse pela suspensão deste aumento como medida de resposta à crise levantada pela COVID-19.

“São aumentos justificados pela alta procura e pela qualidade dos cursos”, defende Ana Cristina Freire, relembrando novamente que continuam, ainda assim, a ser “dos valores mais baixos a nível nacional e internacional”, rondando os valores anuais em universidades como a Universidade Nova de Lisboa, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Lisboa os 7000 euros anuais para estudantes internacionais.

Estudantes levam revolta às redes sociais

A revolta perante o aumento geral das propinas não é recente, mas ganhou forças nos últimos meses, fruto da necessidade dos alunos de renovar as suas matrículas na FCUP, resultando na consequente descoberta dos aumentos. No Instagram, o movimento #upnaoaumenta nasce em maio de 2020, arrecadando cerca de 1000 seguidores e partilhando publicamente as precárias situações dos estudantes que viram os seus planos afetados por estes aumentos, nomeadamente estudantes internacionais.

O mesmo tema foi alvo de preocupação pelo Núcleo de Estudantes Internacionais da Universidade do Porto, no Facebook, que dirigiu uma carta aberta ao reitor da UP, o Prof. Dr. António Sousa Pereira, em março de 2020.