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Ciência e Saúde

Legumina: 2ª Edição do Congresso de Alimentação Vegetariana

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Realizou-se, nos dias 17 e 18 de novembro, no Instituto de Ciências Abel Salazar (ICBAS) no Porto,  o congresso de alimentação vegetariana Legumina, organizado pela Associação Vegetariana Portuguesa (AVP). 

 

Após uma 1ª edição em Lisboa em 2022, o congresso regressou para uma 2ª edição, desta vez a Norte. O encontro, que durou 2 dias, contou com  palestrantes, de várias áreas, entre nutricionistas, educadores, médicos, farmacêuticos, e legisladores, alguns dos quais internacionais (Alemanha e Brasil).

Para assistir a este evento, os participantes puderam escolher entre a modalidade presencial e online. Esta edição contou com a participação de 176 pessoas presencialmente, o que traduz um aumento de cerca 61% de participantes face à edição anterior, e 68 pessoas em formato online.

Sexta-Feira,17 de novembro 

O início do congresso foi marcado pela sua inauguração, que contou com Nuno Alvim, presidente da Associação Vegetariana Portuguesa (AVP), Maria João Gregório, diretora do Programa Nacional Para a Alimentação Saudável (PNAA) da DGES e Pedro Graça, diretor da FCNAUP.

As sessões da manhã dividiram-se em 2 painéis com temas como a nutrição Materno-Infantil, desafios da alimentação de crianças em idade escolar, mas também o papel da alimentação vegetariana no tratamento, controlo e prevenção de problemas crónicos como a obesidade.

O JUP esteve presente na tarde de sexta-feira, que ficou marcada pela intervenção do reconhecido, Dr. Viriato Ferreira, médico, co-fundador e presidente da Associação Portuguesa de Medicina Preventiva e Diretor do Centro de Vida Saudável VitaSalus. Apesar de ter sido apresentado como vegetariano desde os 19 anos, o Dr. Viriato revelou que desde a sua infância foi introduzido ao vegetarianismo, quando a sua mãe misturava carne com soja na sua alimentação. Para além de divulgar os projetos que desenvolve e contar a sua experiência pessoal acerca do tema, o Dr. Viriato falou ainda de diferentes formas de como a alimentação vegetariana pode ter um papel preventivo na medicina. Desde a relação entre os laticínios e a prevalência de cancro da próstata, ao menor risco de diabetes, hipertensão e colesterol LDL relacionado com um maior consumo de hortaliças, cereais integrais, leguminosas e frutas, o palestrante deixa a ideia geral de que o vegetarianismo é parte da solução para algumas doenças é uma ferramenta importantíssima na medicina preventiva. Houve ainda espaço para dar nota da importância dos factos relatados no documentário Blue Zones e alguns estudos publicados nesta área:  Adventist Health Study-2; EPICDiet strategies for promoting healthy aging andlongevity: An epidemiological perspective.

Ainda sobre o impacto da alimentação de base vegetal no envelhecimento, a Doutora Patrícia Padrão, nutricionista e professora na FCNAUP, referiu que é possível aumentar a longevidade em 14 anos no caso das mulheres e 12 anos no caso dos homens, se estes, aos 20 anos de idade, alterarem o sua alimentação no sentido do aumento de consumo de leguminosas, frutos oleaginosos e cereais integrais e redução de consumo de carnes vermelhas. Contudo, a nutricionista alerta para a importância da ingestão protéica de boa qualidade, aliada ao exercício físico, em pessoas com mais de 65 anos e para o perigo das dietas veganas e vegetarianas não equilibradas que podem conduzir ao défice de vitamina B12, ferro, zinco e aumento da homocisteína que se relaciona diretamente com o aumento de risco de doença cardiovascular.

As doenças cardiovasculares foram mote para a talk do Doutor Gil Carvalho, médico,  investigador e comunicador científico. A mensagem principal deixada pelo palestrante relaciona-se com a importância da dieta na diminuição do risco cardiovascular e a existências de novos biomarcadores que, na sua opinião, devem ser quantificados com vista a estabelecer uma relação com o risco cardiovascular nomeadamente, níveis de Apolipoproteína B (ApoB) e Lipoproteína (a) (Lp(a)).

O primeiro dia do congresso contou ainda com vários workshops. Estas sessões práticas abordaram não só temas técnicos como também temas práticos da alimentação vegetariana. Os assuntos dinamizados estenderam-se desde as análises clínicas e suplementação, por Sandra Gomes Silva, a workshops práticos de cozinha para bebés, por Ana Isabel Monteiro, e cozinha com leguminosas, por Ana Brandão. O tema da prática desportiva também foi abordado num workshop conduzido por Lucas Oliveira e Rafaela Honório. Já Rogério Ribeiro e Lisandra Ribeiro reuniram-se na apresentação do workshop sobre a dieta vegetariana e Diabetes tipo 2. Márcia Gonçalves, Adriana Marques e Eric Slywitch tiveram ainda a oportunidade de fornecer aos participantes bases relativas à manutenção de uma alimentação vegetariana.

Os participantes referiram que os workshops foram um ponto alto no evento, ao oferecer a oportunidade de estes se aproximarem dos oradores e colocarem em prática novos conhecimentos, após assistirem a painéis que aprofundaram conceitos mais técnicos, no Auditório.

Para além destas duas modalidades, houve ainda lugar para uma sessão de Posters, que resultaram de trabalhos de investigação de estudantes de Ciências da Alimentação ou Medicina, com foco no estudo de elementos da alimentação vegetariana.

Sábado, 18 de novembro

Foram vários e abrangentes os temas abordados no segundo dia do congresso  focado na Alimentação Vegetariana.

A primeira sessão explorou a evolução dos produtos alimentares de base vegetal na Europa. Marta Vasconcelos chamou a atenção do público para a necessidade da opção por alimentos nutricionalmente resilientes devido às alterações climáticas. Já Mayumi Delgado partilhou a sua experiência na inovação em produtos de origem vegetal do ponto de vista das grandes superfícies comerciais, com ênfase nas preocupações económicas dos consumidores.

Foram também analisados os Guias Alimentares a nível nacional e internacional, com o foco internacional da especialista em saúde e nutrição Anna-Lenna Klapp, em nome da ProVeg International, ONG onde atua. Esta destacou a importância deste tipo de guia  e a valorização da inclusão de alternativas vegetais e preocupações ambientais. A nível nacional,  e com uma Roda dos alimentos que não é atualizada há 20 anos, Maria João Gregório apresentou algumas justificações para a não inclusão de substitutos vegetais às fontes proteicas.

O último painel da manhã abordou a temática da alimentação vegetariana nas cantinas públicas, destacando-se o caso de São João da Madeira. Irene Guimarães, vereadora na Câmara de São João da Madeira, explicou as medidas tomadas neste movimento pioneiro na promoção da alimentação vegetariana em cantinas escolares.

As sessões da tarde foram iniciadas com a análise do papel da dieta de base vegetal no tratamento e prevenção do cancro e diabetes, discutindo-se os seus benefícios em casos concretos mas também a consciencialização e sensibilidade do público para este tema.

Eric Slywitch, representante da União Vegetariana Internacional, abordou de forma prática, os tipos de marcadores de saúde óssea e as situações clínicas que implicam défice de cálcio no organismo. Sendo este um problema comum em pessoas vegetarianas, foi abordada a forma como a leitura das análises pode ajudar no diagnóstico.

Os dois últimos painéis retrataram as preocupações da alimentação vegetariana com a sustentabilidade ambiental. Com sessões conduzidas por oradores de áreas diversas, como Francisco Guerreiro, eurodeputado dos Verdes, aprofundou-se a multidisciplinaridade do problema tirando partido das diferentes experiências profissionais dos oradores.

No fim das palestras, os participantes tiveram ainda a oportunidade de participarem numa sessão de networking.

Ao Jornal Universitário do Porto, os participantes demonstraram o seu agrado para com o congresso, tendo realçado uma experiência positiva de aprendizagem, apesar de alguns problemas técnicos no dia inaugural. Os temas abrangentes e a informação atualizada e pertinente foram referidos como pontos muito positivos do programa técnico. Já o ambiente convidativo foi também responsável pela presença de público das mais diversas áreas que se deslocou de vários locais do país para estarem presentes no congresso.

Em entrevista, a organização do evento referiu que para além do cariz cosmopolita e internacional, a proximidade à sede da AVP e da comissão organizadora foram algumas das razões para a escolha da cidade do Porto como palco desta 2ª edição.Em balanço, a organização destaca “a diversidade e qualidade do conteúdo em geral, em torno da alimentação vegetariana“, referindo ainda a recepção de um feedback muito positivo dos participantes. A organização acrescenta ainda que “as várias sessões caracterizaram-se pela sua elevada utilidade prática para o exercício profissional” e que acreditam “ que o evento não apenas forneceu conhecimentos teóricos, mas também habilidades tangíveis”. Assim, a organização terminou o evento com um sentimento positivo mas sublinha as várias aprendizagens que retira para edições futuras. Revelaram ainda, que o congresso voltará em novembro de 2024 para a 3ª edição. O local será em breve revelado no site do Legumina.

Texto por Diana Cunha e Maria Amaro. Fotografia por Leonardo Machado. Revisto por Joana Silva.

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