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Noites do Primavera Sound 2025 encerram com êxtase coletivo e sons cruzados

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Guitarradas, bass lines e reverberação: A última noite de festival foi marcada pelas atuações de Kim Deal, Wet Leg e Jamie xx, uma brisa áspera e multidões dançando em jeito de celebração.

Maria Reis abriu a terceira noite de festival. A estética da cantora de rock independente, que canta temas sobre depressão e amor, faz lembrar a de ícones como PJ Harvey. Maria Reis começou a sua carreira na banda Pega Monstro, enquanto cantora e guitarrista. Pisa pela primeira vez a solo no Primavera, trazendo o seu primeiro álbum Suspiro(2024), lançado em setembro.

Seguiu-se EU.CLIDES, luso-cabo-verdiano que começou os estudos no Conservatório de Aveiro como aluno de guitarra. Talvez isso justifique a mistela eclética de géneros que se fizeram ouvir no palco. O artista apresentou Declive(2024), o seu álbum de estreia.

Nunca mates o Mandarim Cantam os Clássicos(2024), Parou P’ra Ver (2023) e Dominó(2025) são os trabalhos mais recentes da banda portuense. Auto-classificam-se de indie-pop-rock e esgotaram o “tempo que tinham para matar” num concerto que reuniu fãs da cidade.

Mais tarde, David Bruno levantou nortadas no palco Revolut. O trovador do século XXI, que tem vindo a afirmar-se na cena do hip-hop português desde 2012, cantando histórias sobre Gaia, fez-se acompanhar dos portuenses Rui Reininho e Presto (banda Mind da Gap), que o acompanharam nas canções Terra de Sequeira e Dez em Dez. O artista, que também integra a dupla Conjunto Corona, brindou o público com faixas do álbum lançado em novembro, Paradise Village (chamado assim em honra à freguesia da qual é natural, Vilar do Paraíso).

Horsegirl foi o primeiro grupo internacional da noite. O grupo feminino é composto por Nora Cheng, Penelope Lowenstein, and Gigi Reece e veio de Chicago, Illinois. Depois do álbum Versions of Modern Performance(2022), trazem agora Phonetics On and On(2025).

Fotografia: Inês Aleixo

Inaugurando o serão no Palco Primavera, Kim Deal cumprimentou o público com a belíssima canção Nobody loves you more, que dá o nome ao seu álbum (2024). A ex-baixista da emblemática banda Pixies, e ainda vocalista nos The Breeders, estreou-se no a solo 4 décadas depois do início da sua carreira, com 64 anos. Trouxe com ela dez músicos, uma alegria nova, saudosas guitarradas e icónicas bass lines dos anos 90, a um público que a recebeu de letras na língua e eletricidade no corpo.

Seguiram-se-lhe os australianos Parcels, banda disco-soul/electro-pop que encheu de cor o palco tal qual pista de dança. Ganharam fama após colaborarem com os Daft Punk no single Overnight(2017), parceria seguida pelo o álbum Parcels(2018), um estrondoso sucesso.

Fotografia: Inês Aleixo

Praticamente ao mesmo tempo, os Carolina Durante deram o concerto mais barulhento da noite. A banda de Madrid fundada em 2017 já tem 2 álbuns: Cuatro Chavales(2022) e Elige tu própria aventura(2024). A banda jovem ofereceu um rock animado em castelhano, citando clássicos e fazendo os seus originais explodir em alto e bom som

Fotografia: Inês Aleixo

Os canadianos Destroyer seguiram-se, no palco Super Bock. A banda do vocalista Dan Bejar, vinda de Vancouver, formou-se há 20 anos e fez soar o seu novo álbum Dan’s Boogie(2025). A introspetividade do disco resultou um concerto calmo e refrescante, para uma audiência contemplativa.

Fotografia: Inês Aleixo

O álbum Chaise Longue(2023) de Wet Leg, venceu o Grammy de Melhor Álbum de Música Alternativa. Na mesma edição, a banda foi nomeada para Artista Revelação. No concerto em que o sol se despedia, o indie-rock encheu o maior palco e fez a chusma dançar euforicamente. A vocalista Rhian Teasdale conquistou o público, com o seu carisma, talento vocal, dança e guitarradas.

Fotografia: Inês Aleixo

As irmãs Este, Danielle, e Alana Haim, mais conhecidas como HAIM em maiúsculas, marcaram também presença num concerto de 90 minutos. Delas, a mais familiar é talvez Alana, estrela do filme Licorice Pizza(2021), de Paul Thomas Anderson, nomeado ao Oscar de Melhor Filme. A aguardada banda pop-rock entregou uma forte revolta feminina, versando sobre os dissabores dos desgostos amorosos. O seu próximo disco, I quit, estará disponível nas plataformas de streaming no dia 20 deste mês.

Simultaneamente, os Squid atuaram no palco ao lado. A banda de pós-punk vinda de Brighton fez ressoar o experimentalismo no palco Revolut, sob a forma do seu terceiro e mais recente álbum, Cowards(2025).

A atração seguinte foi Jamie xx, membro da banda britânica the xx, a solo. Com 3 álbuns, o mais recente The Waves(2024), o DJ presenteou um público à pinha com a sua música eletrónica característica. Trouxe ainda êxitos do álbum Color(2015), como Loud Places. O trabalho a solo do artista é em tudo muito diferente do da banda, marcado pelas batidas repetitivas, atraindo uma multidão jovem e irrequieta.

Os Cap’n Jazz, norte-americanos, ainda tiveram tempo de se estrear no Parque da Cidade. Com um estilo indie-rock emo, o grupo dos irmãos Tim e Mike Kinsella tocou a música de Shmap’n Shmazz(2025), nada mais que um remaster deste ano do seu álbum único, Analphabetapolothology (1998). Passados 27 anos, mas com uma energia semelhante, a boa sonoridade do grupo só ficou comprometida pela voz de Tim, que se esforçou para fazer uma rendição de Take on Me, dos a-ha, ficando bastante aquém.

Os punk hardcore também teve lugar, com a presença da última grande atração, os também norte-americanos Turnstile. O seu disco Glow On(2021), com as canções Blackout e Holiday, resultou em três nomeações para os Grammy Awards desse ano. Vieram promover o fresco álbum, Never Enough(2025), que lançaram no passado dia 6.

O nome português que já fazia falta, Capitão Fausto, terminou a participação das bandas com o que promete sempre: ritmos frescos, animados, sobre a vida e condição humana, agora sob a forma do disco Subida Infinita(2024). A banda, composta por Tomás Wallenstein, Domingos Coimbra, Manuel Palha e Salvador Seabra está ativa desde 2014.

Fotografia: Inês Aleixo

Na linha de Jamie xx, Floating Points live fechou com mais um concerto para os mais festeiros, desta vez com um sabor a jazz. O DJ e premiado compositor, oriundo de Manchester e líder do Floating Points Ensemble, lançou em 2021 um álbum com a London Symphony Orchestra, Promises(2021), que lhe valeu a nomeação para o Mercury Prize 2021. Mais recentemente, compôs a música para um bailado, Mere Mortals(2024), para o San Francisco Ballet, e ainda para o filme de anime japonês Lazarus(2025).

Fotografia: Inês Aleixo

A última noite do Primavera Sound foi fresca mas agradável, pensada para várias audiências, marcada pelas multidões entusiásticas e por uma programação excelente dedicada às guitarras e aos DJ sets. Lamentavelmente, o som de baixa qualidade do palco Vodafone prejudicou a atuação de alguns dos artistas. Por outro lado, a excessiva sobreposição de quase todos os concertos, por vezes frustrante por obrigar os espectadores a deixar concertos a meio para não perder nenhum, pode justificar-se pela extraordinária afluência de públicos, tanto portugueses como estrangeiros.

Fotografia: Inês Aleixo

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