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ALFREDO DI STÉFANO, A “FLECHA LOURA”

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O antigo avançado do Real Madrid morreu esta semana, aos 88 anos, não resistindo a um historial de problemas cardíacos. O mundo do futebol chora a perda de um dos seus mais habilidosos e virtuosos executantes. Eusébio da Silva Ferreira considerava-o o melhor jogador de sempre, suplantando, na sua opinião, “magos” como Pelé e Maradona. Alfredo Di Stéfano retribuía também os elogios e considerava a “Pantegra Negra” o mais evoluído futebolista de todos os tempos. Este atacante foi internacional por três selecções nacionais diferentes: Argentina, de onde é natural, Colômbia, país de exílio, e Espanha, onde residiu quase toda a vida. A “Flecha Loura”, cognome criado por um jornalista das “Pampas” no início da sua carreira, eternizará este magnífico profissional de futebol, cinco vezes campeão europeu consecutivamente pelo Real Madrid.

Nascido em Barracas, um bairro de Buenos Aires, a 4 de Julho de 1926, Alfredo Di Stéfano Laulhé começou por jogar em equipas de bairro e não pensava que alguma vez viesse a ganhar dinheiro como futebolista. Di Stéfano tinha 17 anos quando foi fazer testes ao River Plate e, tendo impressionado os seus dirigentes, foi contratado. Dois anos depois, em 1945, estreava-se pelo primeiro escalão dos “milionários”.

Em 1946 foi emprestado ao Huracán, regressando ao River um ano depois afirmando-se em definitivo. Venceu o campeonato argentino e a Copa América com a selecção. Jogou mais um ano e meio no seu país até que, em meados de 1949, uma greve de futebolistas o compeliu a competir na Colômbia, defendendo as cores do Milonarios de Bogotá. Até 1952, arrecada três títulos de campeão, sendo convocado para competir pela selecção colombiana (a FIFA nunca lhe atribuiu o estatuto de internacional).

A mestria de Di Stéfano ecoava na Europa e, durante uma digressão pelo velho continente, despoleta o interesse de vários emblemas. Em Espanha, o presidente do Real Madrid, Santiago Bernabéu, “enamorou-se” pelo craque, lutando ferozmente com o Barcelona pela sua contratação. O “casamento” com os “merengues” durou 11 épocas (1953 a 1963) e foi frutífero em importantes conquistas. Venceu oito campeonatos espanhóis e cinco Taças dos Campeões Europeus seguidas, entre 1956 e 1960.

Agraciado por duas vezes como o melhor jogador do mundo, este tecnicista refinado foi por cinco vezes o maior goleador do campeonato espanhol (pichichi). Vestiu pela primeira vez a camisola da selecção “Roja em 1957. Apesar de jogar por três selecções diferentes, este “às” dos relvados nunca participou num Campeonato do Mundo. Terminou a carreira de jogador profissional no Espanyol, onde competiu duas épocas, despedindo-se aos 40 anos de idade.

Como treinador teve algum sucesso, embora não com a mesma magnitude. Venceu títulos de campeão com o Boca Juniors e o Valência (tendo arrecadado também uma Taça das Taças). Com o “seu” Real apenas ganhou uma Supertaça de Espanha. Treinou ainda River Plate, Elche, Rayo Vallecano e Castellón. Em Portugal orientou o Sporting, onde experienciou uma efémera e turbulenta estadia. Saiu em ruptura com o presidente “leonino”, João Rocha, que o catalogou como um “turista malcriado”.

É imperativo salientar a sua enorme longevidade, aptidões goleadoras, inteligência e velocidade. O antigo internacional inglês Sir Bobby Charlton, quando o viu actuar pela primeira vez, em 1957, tinha já Di Stéfano 31 anos. Rendido à magia da “Flecha Loura”, exclamou:

“Quem é este homem? Recebe a bola do guarda-redes, diz aos defesas o que fazer. Onde quer que ele esteja, está sempre pronto a receber a bola. Nunca vi um jogador tão completo. Era como se ele tivesse o seu próprio centro de comando no jogo.”.

3 Comments

  1. Sergio Ferreira

    15 Jul 2014 at 14:35

    Viva,
    Antes de mais parabéns por mais uma excelente rubrica.
    Achei que só foi pena não haver uma referência ao facto de Di Stefano ter sido o único vencedor da super bola de ouro, em 1989, premio criado em celebração dos 30 anos da revista france football.
    E ainda 4o na lista FIFA 100, que representa os melhores jogadores de sempre, que ainda estão vivos.
    Abraço, grande David.

  2. A.J.R. Guimarães

    15 Jul 2014 at 15:00

    O hectare relvado onde se desenrola um jogo de futebol é um resumo do mundo. A acção e a emoção, as tácticas e as técnicas, a fruição do belo ou a percepção do erro, ou outras instâncias, enfim, da vida que aí se joga, apelam a uma exigente capacidade de compreensão e competência de análise, e consequente explicação.
    O vosso redactor David Guimarães tem essas qualidades, precisamente porque tem ideias, ideias sobre o jogo e a vida em seu redor, e sabe expressá-las com inteligência e destreza, humor e amor.
    Um leitor indevidamente identificado.

  3. Carlos Martins

    18 Jul 2014 at 11:06

    Grande David, mais um bom artigo! Uma justa recordação de uma daquelas “lendas” do futebol que povoam o nosso imaginário…

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