Artigo de Opinião
É urgente a reforma do ensino português
Expressões como “Portugal tem hoje a geração mais qualificada de sempre” foram ao longo do último ano de 2021 amplamente diferidas pelos Media tradicionais e digitais. Mas será que isso é verdade?
Relativamente às taxas de abandono escolar, Portugal já esteve acima do objetivo europeu de 9% previsto até 2030, mas em 2021 atingiu mínimos históricos de 5,9%, dados estes fornecidos pelo Governo XXII e pelo Instituto Nacional de Estatística. Contudo, estes dados não representam nem significam que os jovens alunos portugueses sejam hoje os mais aptos, competitivos, culturalmente sábios e intelectualmente emocionais.
Apesar de o ensino secundário ter a já tão desejada liberdade de escolha no que se refere às disciplinas que os alunos irão optar por escolher para esses anos de estudo, esta nova medida não deixa de representar uma mera ilusão. A carga horária e o limite de unidades curriculares que cada aluno possa vir a escolher são por si só um mero coelho que sai da cartola e que certas juventudes usam pateticamente como bandeira partidária.
Disciplinas como a de Educação Moral e Religiosa, apesar de opcional, são a prova viva de que o ensino português, em comparação com modelos nórdicos de nível europeu, estão gravemente desatualizados. Este atraso educacional que se vê governo após governo, independentemente da cor partidária, é dramático e gritante. Daí uma reforma do ensino ser tão urgente e necessária.
Não deixa de ser irónico que disciplinas como a já supracitada sejam convertidas em meros pinos de lapela. Do estudo da moral e da religião para a disciplina da borga e da vida boémia em que se organizam viagens que, na sua expressão, em nada acrescentam para a formação dos jovens alunos. Além do mais, num Estado que se diz ser laico na teoria, na prática ter disciplinas de religião e moral como opcionais representa apenas um símbolo da discórdia e do desinteresse público perante o ensino português.
Como pode um país consagrar-se desenvolvido e desejar jovens adultos de convicções assentes em doutrinas de inovação, progresso, competitividade e de liberdade, estes detentores de um pensamento crítico afiado, quando são condicionados pelo modelo educacional que lhes é à partida imposto?
Num cenário inovador e reformista, disciplinas como as de literacia mediática, literacia económica, literacia da informática avançada e de literacia Política são um ponto chave para a melhoria do cenário pantanoso que é o ensino português.
Literacia mediática implica um estudo sobre a procura de soluções para aumentar a capacidade crítica e autónoma dos jovens alunos sobre os meios de comunicação social. O objetivo é ensinar aos jovens portugueses os princípios básicos do jornalismo: a verificação da informação, como ter a certeza da veracidade dos factos ou como consultar novas fontes. Pretendendo-se desta forma qualificar e datar os alunos com critérios exigentes sobre as competências e qualidade dos conteúdos diferidos pelos Media portugueses e internacionais.
Literacia económica visa ajudar a fazer leituras de gráficos e de escolhas de poupança, gastos e boa governação. Apesar de haver a tão dita e importante matemática, decorar o teorema de Pitágoras ao final do dia não irá ajudar na hora de se gerir uma família, uma casa ou até uma empresa, mesmo que pequena. Com isto não apelo ao fim da matemática, mas sim que esta disciplina, a de literacia económica, tenha um papel de complemento e de reforço adicional ao já abordado pela matemática.
Num mundo cada vez mais digital, são inúmeras as crianças e jovens que quase já nascem com iPads como extensão dos seus cordões umbilicais. Para tal, disciplinas como as de Tecnologias da Informação e Comunicação, a chamada TIC, eram boas apenas nos anos 90. Atualmente, todos os jovens sabem como se liga e desliga um computador e como se trabalha no mesmo, contudo são poucos os que conhecem os riscos e a forma secreta de como estes pequenos aparelhos realmente funcionam. Para tal, literacia da informática avançada, visa um estudo intensivo sobre as formas seguras de navegação em redes e na aprendizagem da instrução básica para a programação, acrescentando ainda a análise de dados informáticos.
Por fim, a literacia política. A política é a atividade humana que integra todas as outras, logo é de extrema importância a introdução desta disciplina no ensino, pois irá datar os jovens portugueses não só da política interna como da externa do seu país. Hoje em dia é quase impossível compreender o mundo atual sem se entender os fenómenos políticos e tudo aquilo que eles acarretam.
Por outro lado, é também urgente ampliar as escolhas opcionais relativas às ofertas linguísticas que cada escola detém, sendo necessária a implementação de opcionais como mandarim, sueco ou árabe. Poderão estas ser também um dia línguas importantes, num mundo que se mostra cada vez mais globalizado.
Outra das medidas reformistas necessárias é a abolição total das avaliações bienais e finais do ensino secundário (12º ano), deixando estas de serem obrigatórias. Apenas alunos interessados em prosseguir estudos superiores realizariam um único exame de conhecimentos/ proficiência global, este adaptado à via educacional que cada jovem escolheu no 10º ano. O exame poderia seguir talvez os moldes do modelo americano, de escolha múltipla e de resposta restrita.
Claro está, o modelo de educação português é antigo e obsoleto. Uma aplicação desta envergadura pode levar meses ou até anos para se obter uma reforma decente e completa. Contudo, não é sábio gastar tempo nem recursos em planos de tubo de ensaio que a curto ou longo prazo em nada beneficiam o aluno português. O importante é sim, não deixar a educação cair nas ruas da amargura, a mesma em que a cultura se encontra.
Artigo da autoria de Diogo de Sousa