Opinião

Obrigatoriedade das Aulas: Uma Ideia em Discussão

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Entre a tradição académica e as novas formas de aprender: a universidade contemporânea em debate | Imagem: Filosofias da educação SORA (IA)

A universidade promete independência e preparar-nos para a vida adulta. No entanto, continua a controlar-nos através de folhas de presença. Será que a obrigatoriedade das aulas se justifica? E será que é benéfica?

Ao longo do ensino secundário, sempre me disseram que a faculdade seria completamente diferente daquilo a que estávamos habituados. Diziam que os professores não estariam interessados na aprendizagem dos alunos, que só quereriam dar toda a matéria que estava prevista. Diziam que teríamos de ser nós próprios a decidir o que apontar no caderno, porque os professores não destacariam os aspetos mais importantes. No fundo, seríamos totalmente autónomos, tratados como adultos (que somos).

Entrei na faculdade este ano. Verifiquei que, efetivamente, os professores não nos acompanham tanto como na escola, embora considere que a ideia de completa indiferença pelos alunos que nos foi passada tenha sido exagerada. É verdade que temos de estudar de forma muito mais individual. No entanto, estranhamente, não nos é dada a autonomia prometida: somos obrigados a ir às aulas.

Penso que a obrigatoriedade das aulas é uma medida infantil. Quando um estudante ingressa no ensino superior, espera-se que seja maduro e responsável o suficiente para gerir o seu tempo, encontrar os seus métodos de estudo e definir as suas prioridades. É curioso acharem que não será capaz de decidir se uma aula acrescenta valor à sua aprendizagem. Aliás, diria que isto revela até alguma ingenuidade.

Estar presente fisicamente numa aula não significa que se esteja a aprender. Como as aulas têm muitos alunos, por vezes tornam-se barulhentas e é difícil seguir o professor. Isto quando não é o próprio professor que dá a matéria a um ritmo impossível de acompanhar.

Obrigatoriedade das Aulas: Uma Questão de Ensino

A realidade é que as pessoas são diferentes e aprendem de forma diferente. Mesmo que o ambiente da aula seja teoricamente apropriado, há quem prefira estudar em casa, por conseguir estar mais concentrado, por exemplo. Além disso, esta regra ignora totalmente aqueles estudantes que trabalham, ou que moram longe, ou que têm outro tipo de responsabilidades, e que têm de usar o pouco tempo que têm da forma mais eficiente possível.

Em vez da faculdade ter um sistema de funcionamento flexível e, portanto, inclusivo, insiste em adotar um sistema uniformizado que pouco reflete a apressada vida adulta (leia também IA ocupa salas de aula e escancara analfabetismo digital).

Costumam dizer que as presenças obrigatórias aumentam o interesse e incentivam a participação dos alunos. Mas a participação genuína não se impõe, conquista-se. Surge quando a aula é cativante. Sim, é verdade, se as aulas não fossem obrigatórias umas salas estariam cheias, outras não teriam absolutamente ninguém. Obrigar os alunos a estarem presentes não resolve o problema da falta de qualidade de alguns profissionais.

Se um estudante optar por não ir às aulas e falhar academicamente, essa consequência deve ser suficiente. Assim como se tiver sucesso, comprova que a presença nas aulas não é indispensável.

O papel da faculdade não é controlar, mas acolher e incentivar. Eu não defendo a preguiça nem o desinteresse. Defendo a liberdade e uma universidade que confia nos seus estudantes.

 

Texto da Autoria de Sofia Queiros

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