Crónica

LIBERTEM O FIDALGO!

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Sofia Carvalhinha

Era uma vez um cão chamado Fidalgo. Vivia amarrado pelas correntes ditatoriais do seu dono. O dono, por cortesia, ou quiçá motivado pela intencionalidade maquiavélica de lhe criar uma ilusória ideia de liberdade, de vez em quando, soltava-o. Fidalgo corria avidamente, procurando saciar as suas ânsias de liberdade. Ocorria, por vezes, esquecer-se o magnânimo patrão de voltá-lo a acorrentar. Fidalgo ofertava o seu próprio corpo. Tão habituado se encontrava à sua prisão que voluntariamente voltava ao dono, para que este o prendesse de novo.

“Acordados”, cremos. Dão-nos, os nossos tão amados donos, a falaciosa ideia de liberdade. Votamos em quem queremos, estudamos o que queremos, compramos o carro que queremos, o telemóvel, o jornal, o noticiário, a roupa que vestimos e aquilo que comemos.

“Pai, quero matar-te. Mãe, quero…”. Despertam-nos assim o que de inumano subsiste. Creio que ao tornar-nos animais somos mais facilmente manipuláveis. O que é livre é naturalmente reflexivo. Crítico, ousaria. Não vês o que nos fazem? Retiram-nos a possibilidade de pensar criticamente. Domam-nos sem que disso sequer tenhamos consciência. Continuas a vaguear por caminhos que crês ter criado? Não temos armas para a emancipação intelectual. Precisamos de armas! Temos acesso ao poder: o conhecimento. Mas nem isso parece-te ser já útil, não é correcto?

Questiono-me se não seremos todos Fidalgos? És livre, mas impedido de te concretizares no mundo. És livre, mas constrangido por decisões terceiras e que a ti, nada te dizem respeito! És livre, mas não emancipado. És livre, mas não tens poder de compra. És livre, mas sem uma possibilidade de escolha real e abrangente. És livre, mas sem liberdade.

PS, PSD, PS, PSD, CDS, PS, PSD. Liberdade?

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