Crónica

O Paradoxo da Felicidade

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"Não existe caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho." | IMAGEM: Jean Mannheim (Obra-IA)

“Felicidade [fəlisiˈdad(ə)]: qualidade ou estado de feliz; sorte; sucesso”. Esta é a definição tradicional de um dos sentimentos mais queridos do ser humano. Embora se manifeste de formas diferentes, é inerente a todas a pessoas, que a adornam com os adjetivos mais generosos. Eu, porém, gostava de adicionar outro: efémera.

É uma verdade universalmente conhecida que todos os seres humanos procuram a felicidade. Muitos materializam-na na posse de objetos, bens ou dinheiro, outros creem que se consegue atingi-la de formas menos mundanas, ao rodearmo-nos, por exemplo, de pessoas bondosas. É, assim, inegável a procura por algo que preencha todos os buracos e cure todas as feridas, mas são igualmente incontestáveis a estranheza e o sentimento de vazio que parecem brotar quando se atinge a tão desejada felicidade plena.

O cérebro humano é constituído por inúmeros neurotransmissores, autênticos “mensageiros” que transmitem sinais entre as células e que conseguem, assim, regular comportamentos e ações. Alguns deles, como a serotonina ou a dopamina, são conhecidos por “hormonas da felicidade” e são responsáveis por emoções como a motivação, prazer e bem-estar.

Ora, várias atividades promovem a libertação de tais hormonas, como o exercício físico, uma boa alimentação, ou até simples atos como ouvir música ou rir com amigos – tudo o que traga alegria e satisfação à pessoa. Quando há um défice ou uma variação desses transmissores é comum ocorrerem várias oscilações no comportamento, podendo, até, causar ansiedade ou depressão.

Sentimento de Felicidade

Este fenómeno prova que o sentimento de felicidade e a busca por tal são praticamente intrínsecos ao ser humano, para além de cruciais para manter o bem-estar físico e mental. Daí não ser de espantar que os indivíduos dediquem as suas vidas a definir objetivos que lhes permitam alcançar a felicidade plena e “concretizar os seus maiores sonhos”, seja conseguir um emprego específico, uma viagem muito desejada ou até o simples mérito por algo que tenham alcançado.

Porém, é aqui que surge a questão “O que acontece depois de atingir essa felicidade?”. Muitas vezes, traçam-se caminhos com o objetivo de chegar a um destino específico, mas não será, neste caso, a jornada mais relevante e a meta efémera?

Supondo que todos os obstáculos foram ultrapassados e todas as “guerras” travadas, o sentimento de paz e alívio inunda qualquer pessoa e traz-lhe a recompensa tão esperada – a felicidade plena. No entanto, esta emoção “tem os dias contados” e a alegria fervilhante irá, eventualmente, dar lugar ao tédio e a um vazio.

A procura pela felicidade assenta, essencialmente, no percurso a trilhar para a alcançar, pois é ele que obriga ao crescimento pessoal e à superação de dificuldades. Quando se faz algo com um objetivo bem definido em vista, não só se desenvolve um espírito mais meticuloso e resiliente, como também cresce a esperança e a motivação para chegar ao fim cobiçado.

A Normalidade do/no Normal

É, muitas vezes, nesta fase que o indivíduo é testado e forçado a desenvolver-se como pessoa, podendo revelar capacidades e atributos que nem sabia que possuía e que o enriquecem. Assim, algum tempo depois de cruzar a meta e saborear a vitória, o crescimento dá lugar à estagnação e a felicidade vai atenuando até se transformar em monotonia e retornar à normalidade.

Além do mais, o ser humano também pode ser considerado um ser ganancioso, que busca sempre por mais, mesmo quando já tem o suficiente. Encontrar a pura alegria contenta qualquer um até certo ponto, mas, quando esse tempo se esgota, a natureza insaciável dos humanos pode vir ao de cima, levando a uma necessidade constante de procurar mais e melhor.

Deste modo, a felicidade apresenta-se como um conceito bastante paradoxal – muitos moldam as suas vidas em torno dela, mas, após algum tempo de convivência, ela dissipa-se e dá lugar ao enfado e à “perda de rumo”. Afinal de contas, “Não existe caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho” (Thich Nhat Hanh).

 

Texto da Autoria de Madalena Neves

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