Artigo de Opinião
ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL FORA DAS COMEMORAÇÕES DOS 40 ANOS
Ao contrário do que aconteceu nos últimos dois anos, em que se recusou a marcar presença, a Associação 25 de Abril mostrou-se disponível para comparecer nas cerimónias comemorativas dos 40 anos da Revolução dos Cravos, que ocorrem tradicionalmente na Assembleia da República. Apesar desta aparente disponibilidade, os militares faziam depender a sua presença da possibilidade de usarem da palavra, de pleno direito, no protocolo da festividade.
Até aqui tudo parecia correr de feição: os capitães de Abril recuavam na sua posição extremada de ficarem ausentes da comemoração e os portugueses em geral viam enriquecida a cerimónia com a presença daqueles que, bem ou mal, foram os actores principais do evento que ali se celebrará. Não fosse o “inconseguimento”, por parte da nossa presidente da AR, em implementar um regime de mecenato que financiasse o certame, e tudo seria um mar de rosas (ou, neste caso, de cravos).
Ainda a possível presença dos capitães não passava de um mero pedido incapaz de, por si só, gerar todo o circo mediático que se lhe seguiu e já várias vozes afetas à maioria parlamentar PSD/CDS-PP demonstravam a sua discordância com este pedido, defendendo que os militares não devem ter direito a intervir porque “as cerimónias sempre se realizaram com este formato e é assim que devem continuar”. Este modelo de discurso torna-se ainda mais ridículo e desprovido de sentido se atentarmos ao seu carácter altamente reversível. Por exemplo, as legislaturas sempre ocorreram com Governos que respeitavam o Tribunal Constitucional e era assim que devia continuar…
Ora, como o leitor deve facilmente ter percebido (se não ficou esmagado com a qualidade e irrefutabilidade do argumento citado) estamos aqui perante uma dissertação ilustrativa de um conservadorismo bacoco que em nada dignifica a liberdade que supostamente deveria ser celebrada, ainda com mais fervor, naquele dia e naquele espaço que é, por excelência, o lar da Democracia. De nada interessa festejar o 25 de Abril com grande pompa e circunstância, com cravos na lapela e discursos eloquentes repletos de citações de Churchill se aquilo em que aparentemente se acredita é a rigorosa antítese dos valores que ali se tentam relembrar. Estes senhores pecam enquanto se confessam…
Negar o direito aos capitães de Abril de intervirem nas comemorações da Revolução que estes planearam e levaram a cabo é um acto vil, de completo desprezo por tudo o que nos foi oferecido por estes operacionais, máxime pela liberdade de expressão que, paradoxalmente, permite hoje a estes parlamentares proferirem declarações tão infelizes como as que aqui replicamos. O raciocínio que deve presidir à resposta a dar a este problema tem que ser precisamente o contrário: permitir que os oficiais usem da palavra é uma correcção e uma oportunidade de remissão de uma injustiça histórica uma vez que estes deveriam ter tido, desde sempre, o direito de discursarem nesta cerimónia. A simples presença destas personalidades não expressa, nem de perto nem de longe, a enorme gratidão e respeito que todos nós, enquanto portugueses, devemos nutrir por estes homens.
Orlando
29 Abr 2014 at 7:43
Ola Rui ao ler o teu artigo não podia deixar de subscrever, ainda que em parte, algumas coisas que foste dizendo ao longo do texto. Mas na minha opinião achei que não deveria subscrever por completo e tendo em atenção não envolver qualquer tipo de cor ou pensamento politico nem indo ao ponto de querer dizer que na nossa casa da democracia todos são sérios e credíveis acho que as coisas têm outro prisma. Não há qualquer tipo de dúvida em relação ao agradecimento que todos nós portugueses temos a todos esses bravos homens qie decidiram ter esse verdadeiro acto heróico que nos permite ser aquilo que somos hoje. Homens que desafiaram o poder e a sua carreira e se calhar até estariam dispostos a por a sua própria vida em causa em prol de um povo que vivia há décadas oprimido e descontente. Mas a situação de hoje é bem diferente e se calhar até é fácil para muitas pessoas mais novas como eu dizerem que “estamos pior do que nessa altura” mas a questão é que não estamos. E não estamos nem economicamente e muito menos cultural e socialmente como todos temos noção. O problema é que estes senhores ao longo dos anos foram desenvolvendo aquilo a que eu denomino do “Síndrome da falta de miminhos”! Passo a explicar. Eu rejeito sistematicamente o convite de um amigo meu para estar presente no seu aniversário e um dia lembro-me de lhe dizer que este ano se ele quiser eu até me dou ao trabalho de aparecer masno bolo de aniversário dele terá de ter o meu nome e a festa tem de se desenvolver em torno da minha pessoa. Ora bem atendendo a isso não posso dizer que a decisão daqueles que organizaram a festa foi correcta ao não me convidar mas também não posso dizer que foi errada porque nos ultimos anos eu também não tenho sido correcto com eles que em actos quer se calhar também em algumas palavras. Acho que deverá haver moderação em tudo o que se faz e eu tudo o que se diz em qualquer altura mas muito mais nesta altura delicada. Certas coisas deveriam ser ditas e feitas com mais cuidado e mais cautela porque se hoje vemos Mario Soares abraçado a Otelo também temos de saber que nem sempre foi assim e que às vezes a conveniência não é assim tão positiva e lembremos Salgueiro Maia que sendo provavelmente o maior obreiro de Abril até à sua morte pouco disse e quando disse soube exactamente onde e como o fazer. Cumprimentos a todos os elementos do JUP e continuação do vosso bom trabalho.