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Artigo de Opinião

SÓS E(T) AL.

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Alexandra Albuquerque

Alexandra Albuquerque

Não sou utilizadora muito frequente das redes sociais; pelo menos não para arranjar ou conversar com amigos. Não coloco muitos “gosto”, nem faço muitos comentários. Utilizo as redes essencialmente para partilhar informação, curiosidades ou contactar a geração que está sempre “on”; mas também não acho que as redes sociais sejam, elas próprias, iminentemente negativas. Parecem-me ser suficientemente flexíveis para as usarmos conforme nos convém mais, com maior ou menor frequência, como menor ou maior exposição.

No entanto, parece-me mais ou menos óbvio que as redes sociais, a internet e outras aplicações interactivas e sociais, especialmente quando disponíveis num dispositivo móvel e devidamente apetrechadas com uns mais ou menos visíveis auscultadores, são extremamente úteis para nos ocuparem os “momentos mortos” quando estamos sozinhos e expostos a abordagens, comentários, olhares…: esperar por ou andar de transportes públicos, viajar, almoçar, passear… Fechamo-nos no nosso mundo musical ou virtualmente social e a mensagem para o mundo é clara, especialmente para o mundo desconhecido: “Estou ocupado. Por favor não incomode.” E, assim, se alguém na paragem precisar de saber as horas ou se o autocarro já passou, não vai perguntar, porque “vê”o sinal; se estivermos a almoçar sozinhos, ninguém se vem sentar à nossa mesa; se, numa viagem mais longa, o passageiro do lado quiser meter conversa, retrai-se, a não ser que seja um fala-barato inveterado que não respeita quaisquer regras…

Deixamos entrar vários desconhecidos ou conhecidos nas nossas redes virtuais, e chamamos-lhes “amigos”, mas depois usamos essas redes como carapaças, redomas, para nos protegermos dos outros desconhecidos: os que também viajam sozinhos, almoçam sozinhos ou esperam na paragem. Até há algum tempo, estes momentos mortos eram usados para socializar, para “meter conversa” e observar o que nos rodeava. Agora, isso acontece quase somente com pessoas de gerações mais velhas: as que não usam carapaças e ainda acham que “o bom dia se dá a toda a gente”.

Os tempos mudam… sem dúvida. Mas quantas pessoas interessantes deixamos de conhecer porque não estamos disponíveis? Quantas histórias de vida? Quantos encontros de experiências? Sim, concordo, também evitamos ouvir histórias aborrecidas, de ter de responder a perguntas indiscretas… Enfim, é um risco, como todo o desconhecido. Mas, sempre que o encontro não interessa, podemos socorremo-nos do telemóvel e dos auscultadores e fechar a redoma.

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