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Artigo de Opinião

PEQUENO ANIMAL HUMANO

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Carina Dias

Carina Dias

Assunto cliché, mas que infelizmente tem de ser comentado todos os anos, especialmente no Verão. Refiro-me ao abandono dos animais, principalmente dos cães. Muitas vezes comparo este amargurado “fenómeno” com o fumar, ou seja por mais vezes que no maço de tabaco diga que “fumar mata”, as pessoas continuam a fumar. O mesmo acontece neste caso, em que todos os anos as pessoas são alertadas para este tema, mas continua-se a abandonar os animais. É revoltante e repugnante, mas é o “pão nosso de cada Verão”.

Posto isto, qual é o fundamento das pessoas quererem ter um cão ou gato, ou outro animal, se depois são largados como se fosse lixo? É moda, agora, todos nós termos um cão? Às vezes parece-me que sim. Contudo, um animal nunca passa de moda. É para a vida. É aquele que com certeza nos piores instantes da nossa vida está lá. É aquele que late de contentamento quando aparecemos em casa, depois de um dia fatigante de trabalho. É aquele que se deita aos nossos pés, como se dissesse “deixa lá, amanhã é um novo dia e tudo vai correr bem”. Estão sempre a imaginar o que podem fazer para nos deixar alegres. São verdadeiramente altruístas. E nós o que fazemos? Largamo-los no meio de uma estrada, sem lhes dar qualquer satisfação. Somos egoístas, impiedosos e cruéis com eles. Em relação a isto, relato o caso recente de um cão que foi abandonado numa praia de Aveiro e que não aceita comer nem bebida, continuando no mesmo sítio à espera que o seu “melhor amigo” volte para o buscar. O pensamento dele será “de certeza que ele vai voltar, deve estar muito ocupado”. O problema é que ele não vai regressar. Aportou para férias com a sua família e posteriormente se for preciso “arranja” mais um cão com validade até ao próximo Verão. E o que poderá acontecer a este cão, assim como acontece a outros? Vai morrer de fome e sede se ninguém ficar com ele ou cessa no canil.

Os cães e todos os outros animais não contêm validade, tal como nós não possuímos. Nasceram para serem felizes como nós tencionamos ser. Ter um animal é um compromisso que fazemos, tal como quando temos um filho. A nossa validade e a deles acaba quando naturalmente partimos deste Mundo.

Vamos refletir sobre isto e pensar que afinal não somos tão humanos quanto àquilo que consideramos que somos. Este Mundo não é só nosso, nem nunca vai ser. Este Mundo é de todos os animais, incluindo nós, criaturas que se intitulam de “Humanos”, mas que ostentam comportamento desumanos, pois abandonam os animais na valeta, permanecendo indiferentes àquele olhar perdido que o cão faz quando corre atrás do carro que o resignou.

Os animais não são objetos. São seres vivos iguais a nós, a única dissemelhança é que eles têm coração e mais sensibilidade. São na maioria das vezes o modelo daquilo que nós, os intitulados “raça superior”, deveríamos fazer. Perante tal, vamos pôr a nossa mão na consciência e conjeturar que estes animais não têm culpa dos “outros animais” terem criado aviões ou carros que os levam para férias. Eles têm direitos e nós, considerados os “seus donos”, temos deveres. E abandonar um animal é um atentado gravíssimo aos direitos daqueles que não têm voz, mas que conseguem, mesmo assim, expressar tudo aquilo que sentem, ao contrário de nós, que somos tão dotados, mas ao mesmo tempo tão limitados à nossa essência de “animal selvagem”.

Por ora, sei que neste instante muitos animais estão a sofrer e ser abandonados, todavia fica o apelo para nós, “animais ditos racionais”, tomarmos conta destes “pequenos animais humanos”.

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