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Artigo de Opinião

PRAXE

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José Pedro Rocha

José Pedro Rocha

O conceito de praxe é interessante como caso de estudo. Jovens que entram numa instituição de ensino superior aceitam pertencer a um grupo que estabelece um código e uma hierarquia arbitrária. Nada de inédito, mas um pouco diferente de outros grupos deste género, porque numa idade em que o acesso à universidade é generalizado, o “orgulho” em se frequentar o ensino superior não me parece justificação para o uso de trajes e a criação de rituais de praxe, ou outros que sejam. Quanto à integração, é discutível, mas há outras maneiras.

Praxe. Ou se odeia, ou se ama, ou não se conhece e se tem uma vida muito mais tranquila.

Um dos perigos que eu, como alguém que não vive a praxe e que até teve um primeiro contacto interessante com a mesma, vejo é a criação de uma atitude defensiva em algumas pessoas, acompanhada de uma certa insensibilidade. No caso da morte dos jovens no Meco, quando alegadamente participavam em rituais de praxe, isto foi levado a um extremo que incluiu o egocentrismo de achar que a revolta dos chamados “anti-praxe” estava relacionado com as flexões e marchas cabisbaixas que grande parte dos jovens praxistas fazem e não com o facto de terem acabado de morrer 6 pessoas sem razão que conforte os que cá ficaram.

“A culpa é da praxe” era, e ainda é, o comentário sarcástico que as pessoas deixam sempre que alguém refere o que aconteceu, ou critica de alguma modo as praxes, e isto custa-me a ver. Como é que é essa a reação instintiva perante a morte de 6 pessoas que partilhavam a mesma paixão pela “tradição académica”? Defender o bem precioso que é a praxe e não reconhecer que esta tem os seus perigos e que o que aconteceu foi uma tragédia enorme. Quando se nega a História, ela tende a repetir-se.

Quando quem está em praxe deixar de tentar convencer as pessoas que não está sobre qualquer tipo de coerção, ou pressão social, talvez sejam levados mais a sério por quem os critica. Podem sair quando quiserem, já sabemos, mas se quiserem ficar têm de aguentar, e se já aguentaram 2 anos, não vão desistir quase no fim. Acontece com muitas coisas na vida, não é exclusivo da praxe. Mas é aí que as coisas correm mal e é esse o risco que tem de ser assumido. O Meco foi um caso com resultados extremos, mas não necessariamente uma praxe extrema. E resultados semelhantes já existiram no passado, o Meco não foi uma estreia.

Não peço a proibição de uma coisa já de si clandestina, só é meu desejo, irrealista que seja, que as pessoas admitam que em praxe, ou noutra qualquer organização, existe pressão para cumprir as regras. E tenham a hombridade de reconhecer que a autoridade e pressão de companheirismo fazem as pessoas aumentarem os seus limites. Um pouco como, com as devidas distâncias, em tempo de guerra, em que os soldados lutam uns pelos outros, e não pelo seu país. Elogioso, diria eu.

E se vocês gostarem de praxe, e se sentirem bem nela, e se acharem que as regras impostas vos fazem falta ou se estão dispostas a respeitá-las por qualquer outra razão, perfeito para mim. Fico radiante e acho que é o vosso direito. Mas não generalizem, a vossa experiência não é de toda a gente

Outro pormenor: com a quantidade de praxes que por aí existem, vamo-nos lembrar que eu conheço 0 e os praxistas, por norma, só conhecem mais 1.

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6 Comments

6 Comments

  1. Fábio

    16 Out 2014 at 20:24

    Portanto quem frequenta as praxes e se proclama defensor delas é,generalizando,desonesto pois não admite estar sobre algum tipo de “coerção,ou pressão social”…
    Era só isso?..
    Cala a boca Zeca, a instituição “ensino superior” também não tem um “código e uma hierarquia arbitrária”,não se percebe o ponto do teu vomitado mental rapaz..

  2. Zeca

    16 Out 2014 at 20:50

    Oh Fábio, a vida é injusta, o Japão é na Ásia e não foi isso que eu disse. Tudo factos muito interessantes

  3. Raul

    16 Out 2014 at 20:55

    Após uma leitura cuidadosa devo dizer que gostei bastante não só pelo conteúdo mas pela maneira como partilhas a tua opinião sem qualquer tipo de ofensa ou até mesmo agressividade.

  4. Fábio

    21 Out 2014 at 16:08

    Sei bem o que disseste Zeca,disseste tudo…e não disseste nada…é uma arte como outra qualquer..
    Para além de apontares a falta de honestidade de quem defende praxes,da mesma maneira que defendes o que escreveste porque é “teu”,ignorando as próprias incongruências..não vejo que mais disseste..pois ai entraria no campo da insinuação,relativa as tuas…
    Já agora entre ti a tua mamá, o teu papá e a espelunca universitária que frequentas existe que tipo de código associado ao dinheiro que possibilita os teus estudos? Só para se perceber que tipo de 0 és tu..

  5. Diogo silva

    22 Out 2014 at 15:03

    José,

    Relativamente ao assunto sou da mesma opinião que tu. Apontaste argumentos ponderados e respeitaste o limiar do respeito que em tudo deve estar bem delineado.

    Gostei de ler.

    Reparei que houve comentários menos agradáveis mas pelo nome já entendi que a pessoa costuma fazer estes comentários a todos os redactores de opinião do JUP, fica tranquilo.

    Abraço,

    Diogo Rodrigues da Silva

  6. Fábio

    23 Out 2014 at 0:57

    É preciso bater continência Diogo?

    Fica a saber que também não achei nada agradável a opinião do Zeca (muito menos fiquei contente com a falta de sensibilidade que ele tem só porque o Japão fica na Ásia..),nem dos teus gostos,pelo que fiquei pouco tranquilo com o uso que é dado aqui ao jornal.
    Quanto á ponderação argumentativa, como? Falamos de um zero que vem falar de historias,das que incluem o adverbio alegadamente (sim, eu tenho a 4ª classe)…
    Achava mais graça que viessem opinar em relação as declarações que alguns diretores de faculdades cá da casa vieram proferir no inicio deste ano aos media,no âmbito disto tudo…Assim o José já não denegria mais um bocadinho a imagem de alguns dos seus colegas,porque estaria em posse de também poder dizer porque lhes faz falta certas regras..e que outras razões,digo eu, obscuras os levam a fazer parte das praxes..

    Continuação,

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