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Artigo de Opinião

XAMÃS CONTEMPORÂNEOS

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Sofia Carvalhinha

Sofia Carvalhinha

Não questiono a hipotética vocação do professor como diretor da faculdade. Opostamente, creio que o professor representa esse auge de discernimento platónico e cuja transmissão incitará as mentes jovens e em transformação a uma ação implacável em prol da implementação de uma comunidade eticamente comunicável, regida por valores de Liberdade e Amor.

A narrativa da “Ratolândia” legou-nos uma mensagem interessante: gatos feios, porcos e maus dificilmente serviriam o propósito dos ratos. Contudo, o professor contemporâneo, tipicamente contemporâneo, e candidato à direção da faculdade, discorrerá abrangentemente acerca das condições físicas (ou inexistência delas) proporcionadas pelas faculdades (leia-se concretamente: “as salas destinadas à investigação têm humidade”) ou acerca da vergonhosa ausência de detalhe infra-estrutural (diga-se: as nossas faculdades são insuficientemente exuberantes comparativamente às faculdades estrangeiras). Acerca, ainda, do investimento precário e quase nulo do governo nos projectos de investigação, todo um discurso dialeticamente correcto, minuciosamente estruturado.

Creio que o leitor atento terá extraído a essência das observações. A questão é a seguinte: todo o discurso é desencadeado em torno da condição do professor. Citando a Ratolândia, “os gatos aprovavam boas leis, que eram leis boas para gatos. Mas essas leis que eram boas para os gatos, não eram muito boas para os ratos”. É de facto chato, maçador, imperdoável, lamentável, apresentar a investigadores estrangeiros salas com humidade! Mas creio ser, na minha humilde perspetiva, ligeiramente mais aborrecido a quantia exorbitante exigida aos estudantes para a obtenção de uma mísera licenciatura, contemporaneamente e graças a determinados procedimentos oriundos de declarações comungadas algures na república Italiana, sem qualquer valor de mercado. A este propósito, informa hoje o Diário de Notícias que Portugal é “um dos países que cobram mais propinas e dão menos bolsas”.

É, de facto, embaraçoso apresentar-se a entidades proeminentes uma faculdade em decadência pela negligência na conservação do seu corpo. Mas, provavelmente, constituirá um maior embaraço a condição do estudante precário, contabilizando os trocos na algibeira para financiar os custos referentes às suas necessidades elementares. Ou o “salário discreto” do trabalhador-estudante e das famílias “que sofrem de privação material”. Designações que considero hilariantes e que estão em voga na comunicação social com intuitos claramente manipulatórios.

De facto, tudo isto é terrível. Não revejo, e esclareça-se, os malefícios do ensino universitário na figura do professor. Aliás, ousei conceber a distinção entre professor universitário e professor universitário tipicamente contemporâneo. Isto no seguimento da minha crença empírica de que paulatinamente têm-se gerado tribos patologicamente questionáveis, devotadas de modo obsessivo e doentio ao intelecto e às questões verdadeiramente excecionais. Admito que o incremento da sociedade e que a evolução espiritual do indivíduo estão inteiramente dependentes de tal devoção. Contudo, é-me difícil aceitar que o isolamento do conhecimento, detido nas mãos de xamãs proféticos, oferte à humanidade as ferramentas de que esta necessita de se munir para a sua libertação.

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