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Artigo de Opinião

ENSAIO SOBRE DORMIR EM PÉ

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Nuno Silva

Nuno Silva

Acordamos para dormir em pé,
Escurecendo as nossas visões
Não sonhamos, mas vivemos em fé,
Não pelo mundo, mas melhores promoções

Promovemos o zé povinho
Mesmo que este seja um zé ninguém
Na tasca a beber cimbalino
E uma dose de mentiras também…

 

Começo assim com esta brincadeira mordaz para representar algo do que é um paradigma à la lusitana.

Durante anos, fui obcecado com a arte de prever o futuro. Ainda o sou para ser sincero. Em 2035, a Cristina Ferreira vai abrir um programa chamado conversas com Deus. Como Deus é uma conceção estrambólica e abstrata demais (e muitas vezes representada como um pai natal para “adultos”), vai ser escolhida uma entidade suprema com uma alcunha meia alienígena: “CR7”.

Se neste momento não está a ter uma catarse de humilhação, continue a ler.

Acordamos para dormir em pé, somos sonâmbulos altamente disfuncionais, sardaniscas achando-se dragões, usando a máscara de “as minhas asas crescem se eu obedecer ao dragão maior”. O dragão maior muda de forma, começa com a forma de pais ou irmãos mais velhos, muda para o macho/fêmea alfa da nossa turma, para o nosso chefe de trabalho. E chegamos a uma certa idade em que o dragão que tanto idealizávamos não é nenhum sparkle que habita nas pessoas de sucesso, mas sim no nosso medo de falhar, nos nossos bloqueios, na admiração cega e na dissertação dos nossos valores e integridade.  Não digo com isto que devemos desvalorizar os outros, mas sim, que não nos podemos camuflar na marcha e que devemos seguir a nossa marcha pessoal. Há quem se esqueça que o Ronaldo (dou este exemplo por causa da personalidade histriónica futebolística, que espero ver no próximo DSM) não é um Deus. É um homem que trabalhou para aperfeiçoar um talento sobreexplorado pela sociedade, just that.

As flores murcham e o cravo é uma flor, e por esse silogismo, os cravos vão murchando, especialmente se não forem bem tratados durante 41 anos. Portugal está a murchar e apenas o regamos com lágrimas, lágrimas essas que não cultivam. Sou apologista da espiritualidade, das terapias alternativas, da procura de novos métodos, novas perguntas… Infelizmente, não sou um interessado por modinha, pois talvez fosse mais feliz. Sou interessado em espiritualidade, pois ela permite que as pessoas procurem a sua identidade mais a fundo, que se libertem do sistema burocrático e cínico que existe, em que tudo o que é verdade tem de vir, supostamente, em papel rubricado. Há dias, a minha namorada comentou comigo (indignada como seria de compreender) que uma deputada afirmou que as crianças não sofrem de ansiedade. Mais uma vez constatei que não existe correlação direta com inteligência e escolaridade, ou pelo menos bom senso e escolaridade. É com isto que moldamos soldados do sistema, como uma Al-Qaeda mais pela calada, que suicidam o seu eu interior, matam os seus sonhos e, eventualmente, os dos outros. Temos estádios e feiras populares que custam um balúrdio mas não temos uma educação forte, onde nos ensinam a cuidar, amar, aonde “aprendemos” sem sabermos como aprender.

Tenho 19 anos e fui vítima de bullying, de outros répteis achando-se dragões. Não tenho vergonha de o afirmar. Não tenho vergonha de dizer que caí fora do jogo, que não estou onde podia estar no ensino, pois eu não perdi a luta, apenas mudei de estratégia, e mais importante… eu não me rendi!

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5 Comments

5 Comments

  1. Paulo Carvalho

    21 Jun 2015 at 23:23

    Que texto incrível! Muitos Parabéns por este texto que reflete as normas convencionais e que todos tentam seguir. Simplesmente fantástico.

  2. Paulo Carvalho

    21 Jun 2015 at 23:23

    Que texto incrível! Muitos Parabéns por este texto que reflete as normas convencionais e que todos tentam seguir. Simplesmente fantástico.

  3. Ana Correia

    21 Jun 2015 at 23:43

    Um ensaio realista e reflexivo. O que não falta são dragões que que usam mascaras.

  4. Laura Dias

    22 Jun 2015 at 22:38

    “que se libertem do sistema burocrático e cínico que existe, em que tudo o que é verdade tem de vir, supostamente, em papel rubricado” simplesmente maravilhoso! Ainda bem que não te deixaste ir pelo caminho que todos levam! Parabéns

  5. Nuno Silva

    13 Jul 2015 at 10:47

    Obrigado pelo vosso feedback, pela compreensão e palavras generosas!
    De facto vale ainda mais a pena escrever um artigo quando sei que as leituras não foram em vão.
    Prometo escrever mais em breve, cheers!

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