Artigo de Opinião

The Cure confirmado no Primavera Sound: Robert Smith um tesouro a proteger

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The Cure atravessa gerações, resiste ao tempo e mantém a sua intensidade emocional intacta. A edição do Primavera Sound de Barcelona está marcada para 4, 5 e 6 de Junho de 2026. Será que também receberemos The Cure na Invicta? | Imagem: Reprodução internet

Lembrei-me hoje, no artigo de opinião do JUP, de vos trazer um tema diferente: música. Mais concretamente, falar sobre o vocalista dos The Cure, Robert Smith. Sendo apaixonado por música e até colecionador de discos, depois de ter visto no YouTube uma das suas últimas aparições no Glastonbury 2025, em dueto com Olivia Rodrigo, senti vontade de escrever sobre este senhor. Será que encontramos ele em 2026, no na edição do Primavera Sound Porto? 

Num mundo em que a música parece cada vez mais descartável, de consumo rápido e com letras sem grande significado — em que muitas vezes se valoriza mais a imagem do cantor ou da cantora do que a qualidade da produção —, valorizo cada vez mais a personalidade e a identidade dos The Cure e de Robert Smith. Porque ele é mais do que um cantor: é uma forma de estar e um ícone mundial intemporal.

O The Cure é daquelas bandas que atravessam gerações sem perder a relevância — e não só porque Robert Smith continua com o mesmo visual icônico desde os anos 80, mas porque as músicas ainda soam como trilha sonora de emoções reais. Entre guitarras melancólicas e refrões que grudam na memória, o grupo inglês ajudou a dar corpo ao pós-punk e ao gótico, mas sem nunca se prender a rótulos. É música de verdade porque não tem medo de ser intensa, vulnerável e, ao mesmo tempo, pop — algo raro numa indústria cada vez mais feita de descartáveis.

O cabelo, a maquilhagem e a autenticidade de sempre

Parte do tesouro está, claro, na imagem. O cabelo despenteado, os olhos carregados de maquilhagem preta e o batom borrado são mais do que estilo: tornaram-se uma assinatura. Num mundo cada vez mais obcecado pela aparência, em que todos parecem ter de estar “perfeitos”, Robert Smith criou um caminho próprio. Não tentou acompanhar modas passageiras nem se reinventar para agradar ao mercado. Pelo contrário: manteve-se fiel ao visual que o tornou reconhecível desde os anos 80.

Essa fidelidade é, a meu ver, uma verdadeira declaração de autenticidade. E é justamente esse carisma que o torna intemporal. Robert Smith não envelheceu mal: transformou-se num clássico.

O lado humano de uma estrela improvável

Parte do encanto de Robert Smith está também no facto de nunca se ter comportado como uma estrela de rock tradicional. Não há escândalos extravagantes, poses artificiais ou egos desmedidos. Pelo contrário, existe uma fidelidade rara — à sua banda, à sua visão artística e aos seus fãs. Basta ver como Smith sempre se mostrou disponível, mantendo proximidade com o público, criticando preços excessivos de bilhetes e defendendo a sua música e integridade artística, sem ceder à pressão de produzir hits fáceis ou mudar drasticamente o estilo para agradar ao mercado.

Apesar de ser para muitos conhecido como o “rei da melancolia”, Smith tem um humor surpreendente e ri-se da forma como é constantemente retratado como alguém sombrio. Ele próprio já disse que canções como Friday I’m in Love são a prova de que os The Cure não são apenas uma banda de tristeza, mas também capazes de criar hinos luminosos e alegres. Essa ironia e leveza desmontam qualquer tentativa de o reduzir a uma caricatura gótica.

As próprias letras das suas canções revelam essa faceta múltipla: há o romantismo profundo de Lovesong, a energia melancólica mas dançável de Just Like Heaven e o otimismo quase infantil de Friday I’m in Love. Todas são marcadas pela autenticidade e pelo compromisso de Smith em criar música verdadeira, que toque as pessoas de diferentes formas.

Smith nunca precisou de se reinventar para estar na moda. A sua carreira é um testemunho de que consistência pode ser mais poderosa do que reinvenção constante. Num tempo em que muitos artistas moldam a sua imagem ao sabor dos algoritmos, ele prova que a verdadeira força está em permanecer fiel ao que se é. E isso, em tempos de consumo rápido, é ouro puro.

The Cure: música que atravessa gerações

Uma das coisas mais fascinantes sobre Robert Smith e os The Cure é como a sua música consegue atravessar diversas gerações. Considero-me fã da banda, e ouvir os The Cure na universidade, no ginásio ou enquanto passeio é uma experiência inexplicável.

Músicas como Pictures of You têm uma filosofia própria. A canção fala de memórias, nostalgia e do impacto que certas pessoas e momentos têm na nossa vida. Mas não é melancolia pura; há também beleza e contemplação. É esse equilíbrio entre tristeza e beleza, entre introspeção e celebração da vida, que torna a obra de Robert Smith tão fantástica. Ele consegue transformar sentimentos pessoais em experiências coletivas, permitindo que qualquer pessoa, jovem ou mais velha, se identifique.

E não são só as letras: a produção musical também transmite essa filosofia. Os riffs etéreos, os sintetizadores e a voz inconfundível de Smith criam atmosferas que nos transportam para outra dimensão. É música que não se limita ao som, mas que se sente, envolve-nos e faz revisitar emoções e memórias próprias.

A Forest é outro exemplo do talento da banda para transformar sentimentos pessoais em experiências universais. A canção captura uma sensação de mistério e procura, como se estivéssemos a caminhar numa floresta com os nossos próprios pensamentos. Mesmo décadas depois, continua a ser um ponto de referência para fãs novos e antigos, mostrando que a música dos The Cure atravessa gerações, resiste ao tempo e mantém a sua intensidade emocional intacta.

Set List Me

É impossível falar de Robert Smith sem mencionar Friday I’m in Love, talvez a canção mais luminosa e otimista da banda — e a minha favorita. Apesar de ser frequentemente lembrado pelo lado melancólico, este tema prova que os The Cure também sabem criar hinos alegres. O álbum Wish, com faixas icónicas como High e Friday I’m in Love, mostra que a banda sabe ser leve e contagiante, capaz de pôr qualquer um a sorrir. Smith próprio já afirmou que a música é “uma canção pop idiota, mas excelente”, refletindo o humor e a ironia que sempre acompanharam a banda.

Os videoclips dos The Cure também refletem a filosofia da banda. Muitos deles, como o vídeo de Friday I’m in Love, são propositalmente simplistas: coreografias básicas, cenários minimalistas e uma estética direta. Mas é exatamente essa simplicidade que realça a força da canção, mostrando que não é necessário recorrer a produções extravagantes para criar impacto. O foco está na música, nas emoções que transmite e na personalidade de Robert Smith, reforçando o charme descontraído e autêntico da banda.

É por isso que Robert Smith é um verdadeiro tesouro combina melancolia, otimismo e simplicidade de forma única, com Filosofia  permitindo que a banda continue a encantar e
atravessar gerações.

Conclusão

Robert Smith não é apenas um músico: é um ícone de autenticidade, criatividade e intemporalidade. A sua carreira mostra que é possível permanecer fiel a si próprio, criar música que atravessa gerações e manter uma relação genuína com os fãs, sem vender a sua imagem em prol das pressões do mercado ou das modas passageiras. Cada vez mais valorizo artistas com identidade própria, que não mudam a sua imagem apenas para se manter populares, ao contrário de muitas bandas que, após atingirem o auge, alteram a sua marca em função de interesses comerciais.

Combinando melancolia e otimismo, letras profundas e canções leves, produções sofisticadas e videoclips minimalistas, Robert Smith transformou os The Cure num fenómeno cultural que continua a influenciar e emocionar pessoas de todas as idades. Mesmo para quem não viveu o auge da banda nos anos 80, a sua música permanece atual, capaz de tocar corações e criar memórias.

Artigo da autoria de  Alexandre Ribeiro

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