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Artigo de Opinião

VAINCRE LA HAINE! ALLONS-Y!

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Gonçalo Dias

Gonçalo Dias

O mundo tornou-se tão perigosamente sério que ter sentido de humor revela-se uma característica temerária. Todavia, apesar do risco associado, demonstra-se à luz de recentes acontecimentos, mais necessário que nunca. O humor é das formas mais inteligentes e objetivas de caracterizar conjunturas sociais, políticas, económicas e religiosas. Através de ironias pertinentes e ousadas, denunciam-se determinadas situações, muitas das vezes verdadeiramente deploráveis e gritantes. O humor tem um poder revolucionário intrínseco capaz de congregar o sisudo e o desajuizado na demanda pela justiça e dignidade, o riso partilhado parece ser a derradeira resposta às muitas e agoniantes questões humanas. Estou mesmo convencido que um dia sem rir é um dia desperdiçado, parafraseando, um dos filhos pródigos do humor, Charles Chaplin.

Mas não somos todos Charlie Hebdo! A crueldade e atentados bárbaros tem esta capacidade de solidariedade, que faz com que todos sintam uma pertença relativamente ao problema, uma compaixão desmedida e muitas das vezes incongruente com atos do passado. Recordo que antes do atentado atroz aos caricaturistas, havia quem condenasse veementemente a liberdade humorística, aliás, ser-se humorista não consistia unicamente em fazer rir, caracterizava-se também pela aprendizagem de conviver com ações cíveis de difamação e ameaças às suas integridades, de uma forma regular e assídua. Que se entenda que o humor é o filho extrovertido, gracioso, irreverente e chistoso da grandiosa mãe liberdade e que nunca se irá calar, pois o silêncio é- lhe azucrinante e antinatural.

Temo, no entanto que o acontecimento ignóbil de dia sete deste mês, não tenha sido unicamente uma violação à liberdade de expressão, não julgo que tenha sido meramente uma vendetta pelo profeta, trata-se antes de um ato de terror calculado por um movimento fundamentalista que já se encontra nocivamente enraizado na Europa. A falta de perceção deste problema não é censurável, mas a verdade é que dizer que jihadistas recrutam exacerbadamente muçulmanos europeus para as suas fileiras de combate na Síria e que há células terroristas organizadas em países europeus, apesar de aterrorizante, não é dizer tudo, pois estes não são os únicos focos de preocupação!

A Suécia tem hoje a segunda maior taxa de violações do mundo, as estatísticas sugerem que uma em cada quatro mulheres suecas será vítima de abuso sexual, com os muçulmanos fundamentalistas, e crentes fanáticos numa ideologia misógena, a representarem cerca de 77% de todas as violações. Recentemente, uma manifestação muçulmana no Reino Unido desejou que a polícia britânica ardesse no inferno, vídeos de agressões de muçulmanos racistas em transportes públicos de diversos países europeus, maioritariamente países de leste, são predominantes nas redes sociais. Estes problemas de cariz social, onde se apela ao racismo e se reivindica um mundo regido pela sharia através do derrame de sangue de eventuais “infiéis” não pode ser ignorado. A UE tem de ter uma política comum de defesa, não pode simplesmente tapar os olhos e esperar que o problema se desvaneça e que os fanáticos abdiquem do seu fanatismo.             

Um fanático fundamentalista é um desequilibrado, as suas convicções tão cismadas que chegam a justificar homicídios e genocídios são ofensas à humanidade e ao ser humano enquanto ser pensante e racional. Um fundamentalista religioso é uma ameaça à prosperidade humana enquanto espécie. Mais, a existência desta tipologia de crente é bastante perigosa, pois aparentemente consegue legitimar alegados apoiantes da eugenia e adeptos frenéticos do totalitarismo e da xenofobia. O religioso ignorante é o principal inimigo da própria religião com que se conforta.

Afirmar que se tem de dissociar o estado islâmico do Islão é absurdamente falso, é como dizer que a inquisição não tinha relação nenhuma com a igreja apostólica romana. A religião sempre teve fundamentalistas, o fanático religioso temente a Deus prevaleceu ao longo de séculos passados como o bom e derradeiro praticante, os cruzados eram figuras de respeito e devoção – “Quem morre por Jesus Cristo não vai em tal barca como essa!” – da mesma maneira que jihadistas são vistos como salvadores e mártires por determinados muçulmanos. Compete aos praticantes moderados (aqueles que procuram na religião um conforto e uma possibilidade de aprimorar a sua moralidade) fazerem ouvir a sua voz. A moderação tem de ser representativa da religião, esta nunca se pode caraterizar através de violência e ignorância. Posições extremadas são cancros no pensamento humano e por isso têm de ser combatidos com razão e afinco, tanto por crentes, como por não crentes.   

Não podemos cair na tentação de odiar, generalizando precipitadamente, todos os muçulmanos, não podemos entender soluções drásticas como únicas e imperativas, não podemos ser coagidos pelo medo nem podemos deixar de gozar a plenitude da nossa liberdade, precisamos sim de refletir com transparência sobre estes assuntos, de discutir pausadamente sobre as implicações de eventuais medidas e precisamos imperiosamente de estar unidos pela liberdade, pela igualdade e pela fraternidade!

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3 Comments

3 Comments

  1. David Guimarães

    13 Jan 2015 at 17:43

    Amigo Gonçalo,
    Ainda bem que apontas para alguns problemas de intolerância que vegetam no âmago das mais variadas comunidades muçulmanas. É que já não aguento com tanto discurso politicamente correcto e de auto mutilação culpabilizadora.
    Um forte abraço!

  2. The Magician

    13 Jan 2015 at 20:13

    Caro Gonçalo,

    No início do século XVII, um senhor chamado Cervantes publicou um livro intitulado O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de La Mancha. O que eu me ri a ler esse livro! Milhões por esse mundo fora, continuam a rir-se desbragadamente e outros tantos hão de rir-se durantes os próximos séculos. E no entanto, não me consigo rir do trabalho do Charlie Hebdo, embora, muito sinceramente, me seja completamente indiferente aquilo que eles satirizam ou deixam de satirizar, ou que continuem ou não continuem a fazê-lo. Eu sei que é muito menos trabalhoso olhar para umas imagens do que ler um calhamaço de cerca de mil páginas. No entanto, para aqueles que ainda não fizeram e desejarem aventar-se a fazê-lo, garanto que vale o esforço. Pelo humor.

    Um abraço

  3. Gonçalo Dias

    16 Jan 2015 at 17:38

    Caro The magician,

    Obrigado pela opinião pessoal, partilho inteiramente o apreço literário e recomendo veemente e de forma igual a leitura da obra supracitada.
    Relativamente ao facto de não se conseguir rir do trabalho de Charlie Hebdo, é perfeitamente natural, o humor também é caracterizado por muita falta de concordância, afinal é uma linha muito ténue que separa um trabalho humorístico de uma ofensa gratuita.
    Mais uma vez muito obrigado pelo comentário.

    Um grande abraço

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