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Ciência e Saúde

CureVac: a Esperança dos Países em Desenvolvimento

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Duas das primeiras vacinas sobre as quais se ouviu falar foram a da Pfizer/BioNTech (parceria entre um laboratório alemão e uma farmacêutica americana) e a da Moderna, ambas desenvolvidas com moléculas de RNA mensageiro (mRNA) do SARS-CoV-2. Estas vacinas foram as primeiras a utilizar este método e a serem aceites pelas entidades reguladoras para o combate à COVID-19. No entanto, estas empresas não são pioneiras no ramo.

A CureVac, empresa de biotecnologia alemã, estuda o desenvolvimento de vacinas com tecnologia que utiliza mRNA desde 2006. Ainda assim, não conseguiu ganhar “a corrida” para a criação da vacina contra o coronavírus devido à falta de verbas.

Este atraso pode ter sido, no entanto, uma vantagem. Com a situação atual na Índia, a iniciativa COVAX, co-liderada pela Organização Mundial de Saúde, precisará de um “salva-vidas”. Isto acontece uma vez que o Serum Institute, sediado na Índia, falhou no cumprimento da promessa de produzir e exportar doses suficientes da vacina para os países mais pobres. A iniciativa tinha “apostado todas as fichas” na farmacêutica, que acabou por ter de deixar de produzir internacionalmente para lidar com a situação nacional.

A iniciativa COVAX foi criada com a premissa de levar a vacina para os países que não têm fácil acesso à vacinação, ao contrário dos Estados Unidos e dos países europeus. As vacinas da Moderna e da Pfizer-BioNTech apresentam algumas desvantagens para serem utilizadas nesses locais, uma vez que é necessário equipamento especial e muita energia para congelá-las, o que leva ao aumento de investimentos no transporte e no armazenamento destas.

Por outro lado, a vacina da CureVac pode permanecer estável até 3 meses a uma temperatura de 5ºC e pode ficar fora de um frigorífico, à temperatura ambiente, até 24 horas antes de ser utilizada.

O fardo da pandemia para a maior parte do mundo já tem sido grande, mas é ainda mais pesado para países que necessitam de ajuda da COVAX e não têm a capacidade para lidar com esta crise sozinhos. Uma vacina que apresenta maior estabilidade durante todo o processo (desde a sua produção até à sua administração) é um auxílio tremendo para os países mais necessitados.

A farmacêutica alemã Bayer já anunciou um acordo com a CureVac para a produção desta vacina. “Temos capacidade para produzir a vacina de mRNA da CureVac”, disse Stefan Oelrich, numa conferência online, acrescentando que a meta é produzir 160 milhões de doses em 2022.

Atualmente, a companhia está apenas à espera da “luz verde” da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), prevista para junho deste ano.

Países africanos pedem socorro, com medo de se tornarem “nova Índia”

O impacto do coronavírus na Índia chegou a níveis catastróficos nas últimas semanas, e teme-se que os países vizinhos acompanhem a situação. Nepal, Sri Lanka e o sul das Maldivas já apresentaram subidas drásticas nos casos de COVID-19. Além destes, Tailândia, Cambójia e Indonésia seguem o mesmo caminho.

De acordo com o jornal CNN, o rápido ressurgimento do vírus na região colocou uma pressão acrescida nos sistemas de saúde e aumentou a procura por recursos médicos.

Adicionalmente, países africanos como o Quénia, altamente dependentes da iniciativa COVAX (que, por sua vez, depende do controlo do coronavírus na Índia), podem não ter segundas doses para administrar à população. De acordo com a OMS, este atraso pode provocar uma nova onda de infeções no continente africano.

Desde o início da pandemia que os profissionais de saúde alertam para o facto de que até todos os países estarem a salvo da COVID-19, nenhum estará. Portanto, é imperativo que países com menos recursos e infraestruturas também tenham a oportunidade de vacinar rapidamente as suas populações.

Nesse sentido, a vacina da CureVac, que apresenta maior resistência e estabilidade do que outras, pode ser “a luz ao fundo do túnel” para os países mais necessitados, e, em última análise, para o mundo.

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Texto por Domitilla Mariotti Rosa. Revisto por Eva Pinto e Maria Teresa Martins.