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Cultura

CAPITÃO FAUSTO: “É FAZER AS COISAS DA MANEIRA QUE MAIS GOSTAMOS”

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A poucas horas de subirem ao palco do FUSING Culture Experience, a banda lisboeta navegou em conversa pelos tempos do “soldado” Fausto na garragem, pelos saltos de “Gazela”, até ser chegada a hora de “Pesar o Sol”.

D’ “O Sol da Caparica”, os Capitão Fausto trouxeram boas recordações de um concerto com amigos. Chegados à Figueira, para Francisco, o teclista, e Tomás, vocalista e guitarrista, o ambiente já lhes parece familiar: a música nacional foi a palavra de ordem em ambos os festivais e não escondem a admiração por haver “tanta gente disposta a ouvir música só portuguesa”.

 

JUP: No vosso primeiro álbum (Gazela) o psicadélico nota-se mais nas últimas músicas, ao contrário do Pesar o Sol, em que essas influências já se encontram presentes ao longo de todo o alinhamento. Isto foi uma opção? 

Francisco Ferreira: Eu acho que não foi uma opção. Acho que o que aconteceu foi que o Gazela é mais ou menos uma junção de todas as músicas que tínhamos até à altura e nós organizamo-lo por ordem cronológica.

Tomas Wallenstein: Aliás havia canções que já existiam antes de irmos fazer o disco e que só lhes demos uma volta e canções que surgiram durante a fase de fazer o disco.

FF: De tal maneira que ficou tão cronologicamente organizado que a última música que fizemos, um dia antes de começar a gravar, é a última música do disco, a “Raposa”. E de facto nota-se numas músicas já uma diferença de som e de estética bastante diferente das primeiras músicas do disco. Essa evolução foi natural, não foi uma decisão. O segundo disco foi gravado nem um ano depois de lançarmos o primeiro, mas não foi uma decisão em que batemos com a mão na mesa e dizemos “Olha, este disco vai soar assim!”

TW: O próprio Gazela demonstra um bocadinho esse progresso, e portanto era natural que nós estivéssemos a pegar a partir dali para fazer o seguinte. Tem a ver com a música que fomos ouvindo e com aquilo que fomos passando.

 

JUP: A vossa digressão está a ser bastante heterogénea em termos de espaços. Gostam mais de  concertos intimistas, em bares e salas pequenas, ou grandes concertos de apresentação, como foi no Hard Club e no Lux?

FF: As duas coisas. É bastante diferente, são dois mundos completamente diferentes.

TW: É a mesma coisa que perguntar se gostas mais de carne ou peixe. Peixe é bom numas alturas e não noutras.

 

JUP: E qual é o tipo de concerto com o qual se identificam mais?

FF: Acredito que haja bandas que se identificam mais com aquilo que agora já não existe muito, que é o grande marco de ser uma banda de estádio. Já não há muitos concertos em estádios, mas há as bandas dos festivais. Nós gostamos muito das duas coisas, mas são coisas completamente diferentes que nos obrigam a pensar de maneira completamente diferente de um concerto para o outro. E o público reage de maneira diferente.

TW: Claro, há muito mais variáveis que só o tipo de palco.

FF: Normalmente se formos tocar a um bar as pessoas estão a pagar só para nos ver a nós. Se formos para um festival, as pessoas estão a pagar para ver uma data de bandas, mas depois decidiram ver-nos a nós em vez de ver outro ao mesmo tempo. Nós felizmente pudemos, neste verão, o auge dos festivais, tocar em bastantes e ainda faltam mais uns quantos. Fizemos umas quantas digressões de inverno e de primavera só por bares, e até agora não conseguimos decidir o que é que gostamos mais. [risos]

 

JUP: Acham que já se vive, em Portugal, aquele american dream dos artistas criarem uma banda de garagem e depois saírem cá para fora e terem sucesso? Acham que vivemos num país em que é possível as bandas de garagem se afirmarem perante grandes públicos?

FF: Não, aliás isso chama-se american dream por alguma razão!

TW: O que nós sentimos é que houve alguns passos que fomos dando em que também tivemos sorte e houve alguma evolução. Mas as coisas andam aos poucos.

FF: As coisas demoram a avançar também porque as pessoas têm como objetivo ser o tal american dream, mas isso está errado, da mesma maneira que agora querem fazer o Shark Tank em Portugal. O Shark Tank só funciona porque é nos Estados Unidos, onde qualquer pessoa pode vender um trapo e conseguir fazê-lo chegar a milhões de pessoas. Nós temos de pensar é de maneira diferente. As bandas e as pessoas que promovem os concertos não devem sequer ter como objetivo ser o american dream, seja de festivalões gigantes seja uma banda que quer ser a maior banda do mundo. Acho que não é dessa maneira que temos que pensar. Temos que pensar de maneira a atingir o nosso maior potencial.

TW: Eu acho que é isso, é fazer as coisas da maneira que mais gostamos de fazer, em vez de ser da maneira certa ou mais recomendada e podermos continuar a trabalhar. Independentemente de uma pessoa se tornar uma banda enorme, até prefiro ficar uma banda média e trabalhar muito tempo, fazer muitos discos nesta onda e conseguir sustentar-nos.

FF: E respondendo à pergunta, não é o american dream que é possível agora para as bandas de garagem portuguesas, mas há uma coisa muito fixe que há uns anos atrás não havia. Como no festival “O Sol da Caparica”, onde eram só bandas portuguesas e o festival estava cheio. Há mais procura por música portuguesa e as bandas que sempre quiseram fazer música têm mais oportunidades de se atirar e ir tocar.

 

JUP: E como é que eram os Capitão Fausto na garagem?

FF: Ainda são os mesmos! [risos] Nós ensaiamos no mesmo sítio desde que temos catorze anos.

 

JUP: E o que é que mudou em vocês?

TW: Eu acho que tenho mais barba.

FF: Eu acho que não é só mais um bocadinho. Eu antes não tinha e de repente fiquei assim, do nada.

TW: Eu fiquei com mais pares de sapatos, também.

FF: E a nossa garagem ganhou umas cortinas novas, mas se as levantarmos continua a mesma porcaria de sempre.

TW: Aliás, não é bem uma garagem, é uma cave.

FF: Tem uma garagem, à entrada, mas chama-se a “Cave”. A cave dos Capitão Fausto.

 

JUP: Uma pergunta que devem ouvir imensas vezes: como é que se pesa o sol?

FF: É com um astrolábio que se pesa o sol. Já não há muitos por aí espalhados, mas é com um astrolábio que se pesa o sol, para conseguir coordenadas.

TW: É uma técnica de orientação que tem a ver com a posição do sol.

FF: Nós não sabemos as especificidades.

TW: Eu nunca aprendi a pesar o sol!

FF: Nunca aprendemos, até porque não temos um astrolábio.

TW: Nem estamos no mar alto! Aí sim podemos pesar o sol. Aliás, podíamos ter lançado o disco no mar alto! Isso é que era.

 

JUP: Por fim, queremos saber que novos projetos têm em mente?

FF: Gravar e tocar mais. Nessa resposta não conseguimos ser muito originais, porque é esse o nosso objetivo para o resto da vida. É a coisa que mais gostamos de fazer. É tocar e gravar mais.

TW: É, acho que é simples. Fazer mais malhas! Nós temos feito planos curtos, com objetivos com prazo curto. Por exemplo, “agora vamos fazer um disco e lança-lo até aqui, agora fazemos malhas, agora vamos gravar vídeos”…

FF: “Bora fazer uma digressão”

TW: Exato, vamos tendo fases e as coisas vão acontecendo.

 

Ao sabor do vento,  os Capitão Fausto continuam pela estrada dos Festivais. Na agenda, está marcado o concerto de hoje (5) no Indie Music Fest e o regresso a casa, no próximo dia 30, para a abertura do concerto dos Xutos & Pontapés, no MEO Arena.

 

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