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Cultura

JOAN BAEZ: OUVIRAM-SE DIAMANTES, NÃO HOUVE SINAL DE FERRUGEM

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Meia hora antes do concerto, o Coliseu já dava valentes sinais de vida, através das duas densas filas, diante das portas, que murmuravam excitação e ansiedade. Havia gente nova e, talvez em maior proporção, gente menos nova, que passara a adolescência apaixonada pelo folk e pelo country, numa altura em que no outro lado do mundo se realizava o que viria a ser considerado um dos melhores festivais de todos os tempos: o Woodstock.

Lá dentro, a sala, bem-acomodada, esperava a artista. Pontual e dona de uma simplicidade e energia radiantes, Joan estreou a noite, a sós no palco e de guitarra em punho, com “Donna Donna” e “God Is God”, entoadas com ternura pela audiência. Num ambiente extremamente intimista, Joan deu a entender que a idade, se lhe acrescentou suave rouquidão, não lhe tocou na magia. A banda, composta por apenas mais dois músicos, surgiu em palco pouco depois e, após uma pequena introdução ao tema, algo muito comum ao longo de todo o espetáculo, “Lily Of The West” iniciou-se, seguida pela aclamada “It’s All Over Now, Baby Blue”, um dos vários originais de Bob Dylan tocados no concerto.

Após algumas tentativas na comunicação através da língua lusitana, a artista pega, determinadamente, numa simples folha de papel e, depois de proclamar “25 de Abril, sempre!”, começa a cantar “Grândola Vila Morena”, atitude aplaudida e extremamente bem recebida pelo público em êxtase. Pouco menos seria de esperar de Joan Baez, eterna ativista e defensora dos direitos humanos e nomeada, há poucos dias, Embaixadora da Consciência 2015, pela Amnistia Internacional.

Minutos depois, soava na grande sala o tema central da noite, “Diamonds & Rust”, que nem necessitou de introdução. Já em “Swing Low, Sweet Chariot”, música com que encerrou o primeiro dia do Woodstock, Joan, ainda que sem a mesma pujança do final de 69, não temeu puxar pela voz e ofereceu um belo e nostálgico momento aos presentes.

Canções mais incomuns como uma tradicional da Tunísia e a cómica “Cornbread” animaram o público, que batia palmas e entoava os temas incansavelmente. Já “House Of The Rising Sun” e “Suzanne”, um original de Cohen, chamaram a atenção pelas melodias mais do que familiares à geração predominante na sala.

Após o western country de “Long Black Veil” e a latina e famosa “Gracias A La Vida”, a cantora despede-se do público caracterizando-o como “estupendo”. Mas não seria um concerto se não houvesse um encore. E um segundo também. Nestes, constantemente aplaudida em pé pelo público, Joan tocou “Imagine”, “Blowin In The Wind”, “Here’s To You” e terminou com “Where Have All The Flowers Gone”.

Quando acabou, ninguém queria acreditar que tinha acabado. Cravos foram atirados ao palco, a homenagear uma artista que nunca soube nem quis separar a sua música e talento das suas convicções. Uma artista com mais de 50 anos de carreira que transborda vida e ternura por todos os poros. Ontem, encantou a Invicta, hoje (1) cativará o Coliseu de Lisboa.

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