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Opinião

JOMO: the new FOMO?

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Let´s face it: já todos inventámos desculpas para não termos de sair de casa. Marcamos planos com a devida antecedência, deixamo-nos encantar pelo entusiasmo momentâneo e, na iminência de abandonar o nosso “safe place”, algo muda. Só queremos ficar em casa a fazer binge watching da série do momento com o nosso gato – uma forma atual e muito recorrente de self-care -, ou aproveitar aqueles momentos de solidão para alimentar a nossa independência e amor-próprio. Há dias e dias. Embora nem sempre seja fácil explicar estes impulsos individualistas que temos enquanto seres sociais, é cada vez mais frequente darmos prioridade à nossa companhia.

Existirão, certamente, diversas razões para as desculpas de última hora. No último ano, a pandemia trouxe a desculpa global e obrigatória para a negação de um momento social (sem ninguém ter pedido nada). A verdade é que nunca pensamos ser subjugados a isolamentos de meses. Repito: meses. Todos os nossos desejos de ficar em casa a fazer binge watching das nossas séries favoritas foram ouvidos. A diferença é que, desta vez, esse plano tantas vezes escolhido no lugar da interação social não trouxe a aprazibilidade do costume. O mundo colapsava lá fora e, mesmo não querendo pisar esse solo perigoso, tudo o que mais desejávamos era sair do nosso tão seguro buraco de quatro paredes. “I´ve watched everything on Netflix. Now what?”. O mundo parou e a Netflix seguiu num loop infinito. A verdade é que todos fomos afetados pela falta de convívio, desde os mais caseiros aos mais sociáveis por natureza e, quiséssemos ou não, começou a insurgir nas nossas cabeças o tão famoso FOMO – fear of missing out.  Este termo tem as suas origens em 1996, quando Dan Herman – marketing strategist – começou a perceber nas pessoas o medo de perder alguma coisa, de ficar de fora ou de falhar enquanto ser social. Os isolamentos eram globais e, mesmo sabendo que não estávamos em desvantagem perante mais ninguém, essa sensação de perda mantinha-se.

Hoje, voltas e reviravoltas se deram no combate à pandemia, e a situação já não é a mesma. Enquanto outros países começam a amenizar medidas, permitindo mais convívios, festas e a possibilidade de se mostrarem novamente sorrisos, Portugal atravessa um verão menos folgado. Olhamos para outros países da Europa e vemos festas a acontecer. E renasce vezes sem conta a saudade de dançar até não se poder mais, do calor humano desconfortável das discotecas, do simples conviver – de humano para humano. Por breves momentos, começa a surgir a sensação de que os outros estão a viver mais, mas depois penso que ainda estamos a lutar contra uma pandemia. No meio de tudo isso, o mundo sofre problemas climáticos, problemas de cariz social que parecem nunca ter fim e milhares de pessoas vão perdendo a oportunidade de viver. E eu tenho momentos espontâneos de FOMO quando, na verdade, não há nada que esteja a perder que se compare com as perdas massivas que o mundo vai somando a cada dia.

Isolar o nosso corpo e a nossa mente trouxe coisas negativas, mas também nos permitiu encarar todos os momentos de FOMO com mais tolerância, abraçando os nossos impulsos individualistas de JOMO – joy of missing out. Planos cancelados, seja por obrigatoriedade ou por vontade própria, forçam-nos a encontrar maneiras de nos enlaçarmos com a nossa própria companhia, sentindo mais joy e menos fear ao pensar no que os outros poderão estar a fazer lá fora – quando já não sentimos a obrigação de inventar uma elaborada desculpa para não sair de casa e simplesmente conseguimos ser honestos e dizer que não nos apetece ir, seja por estarmos cansados ou por simplesmente não estarmos no mood. Há quem considere que JOMO é uma libertação, quando assentamos na nossa própria realidade e aprendemos realmente a ouvir as nossas vontades. E há quem diga que só assim conseguimos desfrutar genuinamente de todos os outros momentos sociais. Porque estar connosco também é um momento social, que tantas vezes exige mais coragem e paciência do que qualquer outra coisa. E é necessário perceber que estar sozinho também nos faz ganhar qualquer coisa.

Toda esta vontade de preferir a nossa companhia à de amigos pode soar egoísta ou um ato narcisista. Mas Narciso representa, acima de tudo, o amor-próprio. E não é por acaso que um dos sinónimos de “egoísmo” sugerido pelo word é “amor-próprio”. Nada em excesso é saudável, mas na quantidade certa, há aclamações pessoais que podem ser magia para o nosso bem-estar. Não tenhamos medo de abraçar o nosso lado “JOMO” quando sentimos que precisamos de cuidar da nossa aparência, saúde física ou emocional. Ter um pouco de Narciso em nós não é necessariamente mau, mesmo que na maioria das vezes o termo “narcisista” seja solto como um grande insulto e crítica. Na verdade, Narciso sempre foi reconhecido na mitologia grega como um herói. Quem nunca se inspirou nos seus heróis que atire a primeira pedra.

 

Artigo da autoria de Inês Lopes