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Educação

Uma epidemia silenciosa: a saúde mental dos estudantes universitários

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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social, não sendo apenas a ausência de doença.

O bem-estar mental é um direito básico do ser humano, permitindo que um indivíduo consiga lidar com os problemas do dia-a-dia e realizar as suas tarefas diárias normalmente. Por outro lado, influencia a tomada de decisão, a construção de relações e a visão que tem do mundo que o rodeia. No entanto, diferentes condições podem pôr em causa este bem-estar, nomeadamente, burnout, depressão e ansiedade.

O burnout é uma condição caracterizada por elevadas cargas de trabalho e exigência a nível cognitivo. Está associado a sentimentos de falta de energia, exaustão e negativismo perante o trabalho, bem como diminuição da eficácia laboral. 

Nos estudantes universitários, esta síndrome pode levar a baixo rendimento académico e cognitivo, para além de poder ser responsável pelo abandono escolar. Em casos mais graves pode levar ao desenvolvimento de sintomas depressivos ou suicidas.

Já a depressão é caracterizada por sentimentos de tristeza acentuada e prolongada no tempo, em associação com perda de energia e cansaço, bem como sentimentos de desinteresse por atividades que anteriormente eram agradáveis para o indivíduo. 

É importante diferenciar a depressão das mudanças de humor naturais: em situações depressivas, os sentimentos de tristeza, desmotivação, solidão e apatia são graves, mais intensos e prolongados no tempo. Em grande parte dos casos, a condição depressiva está associada a ansiedade e/ou pânico. Em situações extremas, pode levar ao suicídio.

A depressão não tem uma causa específica, resultando de um conjunto de fatores. Pode, por exemplo, resultar de mudanças repentinas, como a entrada ou saída da universidade ou um desafio de vida diferente.

Por sua vez, a ansiedade é uma resposta do nosso organismo a uma situação interpretada como uma ameaça e que precede um perigo (real ou imaginário). A ansiedade num contexto normal é algo que permite ter motivação para resolver determinado problema ou desafio. 

Por outro lado, em condições mais graves, a ansiedade pode ser debilitante e comprometer o dia-a-dia do indivíduo. Nestes casos, são desencadeadas sensações corporais, como aperto no peito, batimento cardíaco mais rápido, tremores, tonturas ou suores. Alternativamente, surgem sensações mais relacionadas com a componente psicológica, como preocupação constante e excessiva, dificuldade de concentração, insónias, irritação ou cansaço. 

As disfunções ansiosas englobam disfunções mentais como a ansiedade generalizada, ataques de pânico, ansiedade social, transtornos obsessivo-compulsivos e stresse pós-traumático.

A saúde mental em contexto universitário

Segundo um estudo realizado pelo Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA), o burnout académico é definido como “exaustão cognitiva e emocional devido às exigências académicas, a sentimentos de incapacidade e ineficácia e uma atitude cínica em relação aos estudos, aos professores e colegas”. 

Neste estudo, onde foram avaliados estudantes de todo o país, o distrito do Porto encontra-se entre aqueles com um nível médio de burnout acima da média. Por outro lado, as ciências biológicas e as ciências exatas foram as áreas onde se registaram maiores níveis de burnout.

A pandemia COVID-19 afetou a saúde mental dos estudantes universitários, como é possível compreender por um estudo realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Segundo este estudo, entre outubro de 2019 (pré-pandemia) e março de 2021 (segundo confinamento), ocorreu um aumento do número e da gravidade dos sintomas depressivos por parte dos estudantes. No entanto, este facto não levou a um aumento da procura de ajuda.

Quase metade dos estudantes que fizeram parte da amostra em estudo mostraram sintomas de depressão moderada a grave. Os resultados apresentados pelo investigador Ricardo Gusmão mostram que os estudantes universitários são um grupo de risco, uma vez que a incidência de doenças mentais é muito maior em comparação com outros grupos.

Um terceiro estudo realizado em 987 estudantes inscritos numa faculdade da Universidade do Porto, incluindo Engenharia, Medicina, Psicologia, Direito e Ciências Farmacêuticas, mostrou que cerca de 62% dos estudantes indiciou uma probabilidade de existência de quadro depressivo e 6,4% indicaram presença de depressão grave. Os resultados mais preocupantes foram obtidos para os cursos de Direito, Engenharia e Ciências Farmacêuticas. 

Outro resultado aponta que cerca de 59% dos estudantes indicou ter tido algum tipo de pensamentos suicidas e 74,5% disse nunca ter falado sobre o assunto. Este facto é de extrema relevância, pois a não procura de ajuda é um fator de risco para o desenvolvimento de problemas psicológicos e o seu agravamento.

Promoção da saúde mental na Universidade do Porto

A promoção da saúde mental é de extrema importância e a prevenção é a chave para evitar o desenvolvimento de doenças mais graves. O apoio psicológico é crucial, não só como uma forma de autoconhecimento, mas também para se adquirirem as ferramentas necessárias para lidar com situações mais complicadas durante a vida.

A pensar nos desafios que a frequência da universidade coloca aos estudantes, a Universidade do Porto (UP) tem um conjunto de serviços de apoio disponíveis à comunidade académica. O apoio psicológico pode ser obtido através dos Serviços de Ação Social da UP (SASUP), mas as diferentes unidades orgânicas também proporcionam este tipo de serviços.

A Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação (FPCEUP) providencia um Serviço de Consultas de Psicologia, aberto a toda a comunidade e a preços mais acessíveis. Estão à disposição diferentes modalidades de intervenção psicológica como: 

  • Serviço de Consulta Psicológica de Orientação Vocacional; 
  • Serviço de Consulta Psicológica de Crianças e Adolescentes; 
  • Serviço de Psicoterapia; 
  • Serviço de Consultas em Psicologia da Saúde; 
  • Gabinete de Estudos e Atendimento a Vítimas.

A Faculdade de Engenharia (FEUP), disponibiliza o Gabinete de Orientação e Integração (GOI). As valências deste serviço abrangem áreas como a integração e o sucesso académico, apoio psicológico, workshops, aconselhamento e necessidades educativas especiais. O apoio psicológico prestado visa trabalhar questões relacionadas com a ansiedade e depressão, desmotivação e dificuldades no estudo, dúvidas relativas ao curso, dificuldades sociais, pessoais e familiares, entre outros assuntos. A intervenção é individual e confidencial.

A Faculdade de Medicina (FMUP) também disponibiliza o Serviço de Consulta Psicológica (Psi-FMUP). As consultas visam trabalhar questões como a ansiedade e stresse, fobias, depressão, luto, perturbações alimentares, entre outras, e podem ser feitas de forma presencial ou por videochamada. 

Estas consultas são realizadas por especialistas devidamente qualificados em psicologia Clínica e da Saúde. São consultas gratuitas para os estudantes e funcionários da FMUP e com preços mais acessíveis para restantes estudantes e funcionários, bem como a comunidade em geral.

A Faculdade de Farmácia (FFUP) instaurou recentemente o Núcleo de Apoio ao Estudante e Integração Profissional, cujo intuito é muito semelhante aos descritos anteriormente. O atendimento pode ser feito de forma presencial, videochamada ou e-mail, não tendo qualquer custo para a comunidade FFUP.

O Pólo do Campo Alegre apresenta o serviço de Apoio Psicológico e Integração (PsiCA), disponível para as Faculdades de Ciências, Letras, Arquitetura e Ciências da Nutrição e Alimentação. O PsiCA realiza intervenções psicológicas direcionadas para o ensino superior, mas também proporciona um serviço de consultoria para a estrutura organizacional das faculdades, de forma a promover o bem-estar dos estudantes. O atendimento é realizado por videochamada, chamada telefónica, chat, e-mail ou de forma presencial.

Existe ainda uma Plataforma de Apoio Psicológico Online – Psic.On, que foi criada na sequência da pandemia COVID-19 pela FPCEUP e com o apoio dos serviços da UP. Esta plataforma está à disposição da comunidade académica, bem como da população em geral e, de uma forma gratuita, permite prestar apoio psicológico à distância e confidencial, de acordo com procedimentos éticos uniformizados.

Os serviços incluem consultas de psicologia individual (em diferentes idiomas), consultoria especializada a pais de bebés e crianças pequenas, bem como participação em grupos de apoio. Este projeto foi implementado por profissionais da área da psicologia devidamente qualificados, contando com a supervisão de especialistas em psicologia clínica. 

O apoio pode ser feito através de diferentes formas, como suporte psicológico por escrito, live-chat, e-mail ou videochamada. Em complemento, esta plataforma tem à disposição vários recursos de auto-ajuda, direcionados para diferentes faixas etárias e temáticas.

Outros recursos disponíveis na Academia do Porto

O Instituto Politécnico do Porto apresenta também um serviço de apoio psicológico, tendo como áreas de trabalho a ansiedade, stresse, pânico, depressão, ou até dificuldades de adaptação e na tomada de decisão. 

A Universidade Católica do Porto disponibiliza serviços de psicologia através da Clínica Universitária de Psicologia que, para além de prestar consultas de psicologia, também intervém no apoio à formação complementar dos alunos de Psicologia da instituição, presta formação contínua a psicólogos da comunidade e está envolvida em projetos de investigação.

A Universidade Lusófona do Porto apresenta o Serviço de Psicologia da Universidade Lusófona do Porto (SPULP), que pretende ir de encontro às necessidades da comunidade interna e externa. São disponibilizados serviços de intervenção psicológica individual e em grupo, consulta especializada do divórcio, peritagem psicológica forense, desenvolvimento pessoal e de carreira, bem como formação e supervisão ao exterior.

Nesta universidade está a ser desenvolvido, desde fevereiro, o programa PlenaMente – Mindfulness para promover a utilização de práticas de mindfulness para a gestão de stresse.

Assim, a Academia do Porto tem à disposição da sua comunidade vários serviços de intervenção psicológica, que estão acessíveis em diferentes situações, desde acompanhamento clínico e orientação vocacional, até consultoria organizacional para as faculdades e atividades de investigação. Desta forma, estes serviços podem contribuir para uma melhoria da saúde mental de toda a comunidade académica.

Mais informação sobre cada um destes recursos e como entrar em contacto com os mesmos para agendamento de marcações pode ser encontrada nos respetivos websites ou presencialmente, nas respetivas instituições. 

 

Artigo escrito por: Carina Vieira

Editado por: Inês Miranda

Ilustração por: Alexandre Brás