Artigo de Opinião
DISCURSO DOS EXTREMOS
Tão longe, mas ao mesmo tempo tão perto, a União Euroasiática torna-se num sério aviso a Europa, uma vez que na vertente económica poderá ser um sério concorrente num espaço que se queria comum: a Europa. Esta nova organização, criada com o alto patrocínio da Federação Russa, agrupa nas suas fileiras países que outrora pertenceram à então União Soviética. Torna-se num sério aviso à União Europeia, que se vê mergulhada numa encruzilhada entre extremos. De um lado, o ressurgimento dos nacionalismos, como foi expresso nestas eleições europeias, onde os partidos com conotação anti-Europa se afirmaram, naquele que será porventura o Parlamento Europeu, mais anti-europeu, desde a realização das primeiras eleições para o Parlamento Europeu realizadas em 1979.
Do outro lado, (re)nasce uma Federação Russa, onde a problemática da Crimeia desencadeou numa espécie de “crise dos mísseis de 1962”, onde ninguém sabe o que poderá acontecer, um mundo em suspenso, neste autêntico jogo de estratégia, em que não se pode reiniciar, mas que poderá mudar a configuração do mapa político naquela região do leste europeu.
Todas estas variáveis são acrescidas da profunda crise económica, social e politica em que o “velho continente” se encontra. As altas taxas de abstenção sentidas na esmagadora dos países que integram União Europeia deverão alertar os dirigentes europeus para a necessidade de uma Europa voltada para os cidadãos, estabelecendo-os como indispensáveis para a (re)afirmação do projeto europeu.
Uns resquícios de uma “velha Europa”, alicerçada em valores individualistas e profundamente conservadores, põe em causa uma “nova Europa” erguida em 1989 aquando da queda do Muro de Berlim. Restabelecer um pacto entre os estados no sentido de estes estabelecerem pontes com o futuro guiados pela esperança mas sobretudo na valorização dos cidadãos.
Substituir os ecos da ameaça, da represália ou até mesmo da força, pelo diálogo no esforço conjunto de superação das atuais dificuldades que assolam o nosso continente. O nosso tempo exige desafio, eis a Europa.
Raquel Valverde
30 Mai 2014 at 20:22
“A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando” ,
já escrevia Fernando Pessoa.
Porém, este olhar por parte da Europa precisa de se materializar na construção de uma identidade europeia, coisa que se afigura (ainda) como uma utopia. A «Era dos Extremos» (numa alusão clara ao nosso caro Hobsbawm) que (re)vivemos hoje parece-me fruto desta falta de unidade, desta visão fragmentada, desta Europa que não é verdadeiramente fitada por europeus. Antes de fitar o horizonte (entenda-se o Oriente que refere o texto), esta Europa desacreditada deveria reavivar a fé naqueles que compõem o seu (velho) “corpo”. Só assim o (jovem) espírito da (velha) Europa poderá ser reavivado.
David Guimarães
31 Mai 2014 at 1:00
Caro Tiago Aboim,
Como diz, a abstenção é um problema per si e também o foi nestas eleições europeias. Também concordo que para o “velho continente” se metamorfosear num bloco unido é muito importante uma consciencialização social. Julgo que essa abordagem teoricamente tem lógica, mas creio que estamos perante um problema com raízes históricas muito remotas e de difícil debelação. As identidades nacionais, cimentadas a partir de Estados centralizados de cariz nacionalista embrumam e desvitalizam um forte sentimento unitário europeu desde o século XIX . Só através da solidariedade europeia é que se poderá vislumbrar um novo rumo.
Espero que o Tiago, como eurofilo utilize este espaço para descortinar eventuais caminhos que calcifiquem este projecto. Eu admito que não tenho esperança nesse desfecho. Talvez me faça mudar de opinião.
Espero com expectativa os próximos artigos.
Um forte Abraço!