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Sociedade

UMA CIDADE SEM FRONTEIRAS

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capa_Porto_Nicolau-final_FINAL-7MAIOs desígnios portuenses atraem à Invicta estrangeiros e nacionais provenientes das mais diversas zonas do país. O Porto apresenta traços culturais muito peculiares que fascinam quem o visita. É, no entanto, recetivo e adaptável aos diferentes tipos de cultura, deixando-se contagiar pelos povos que com ele contactam e nele coabitam. As especificidades desta cidade apaixonam, assim, o país e os turistas e fizeram emergir o nome do Porto enquanto “Melhor Destino Europeu 2014”, destacando-se de muitas outras cidades de grande notoriedade.

 

De portas abertas para os imigrantes

A partir da revolução industrial, uma vez que os centros urbanos passaram a ter maior capacidade para fixar a população, deu-se o despoletar das migrações nas cidades europeias. E o Porto não foi exceção. Inicialmente, o êxodo rural trouxe para o Porto inúmeras pessoas das várias zonas do país, nomeadamente do Interior, atraídas por melhores condições de vida, postos de trabalho, maior atividade económica e equipamentos sociais a nível de saúde e ensino. Com o passar dos anos, as pessoas passaram a fixar-se nas periferias, em municípios como Valongo, Santo Tirso, Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Maia e Gondomar.

Assim, de 1960 para 2011, registou-se, segundo os censos 2011, um decréscimo, na cidade do Porto, do número de imigrantes provenientes de outros municípios.

A presença de estrangeiros no Porto, pelo contrário, tem vindo a aumentar, o que contribui para o facto de esta ser a segunda maior cidade do país com cerca de 25 mil pessoas. Ao passo que em 1960 havia apenas 280 imigrantes estrangeiros residentes na cidade, até 2011, este número cresceu significativamente para 1922 pessoas.

 

Uma cidade com história

A cidade do Porto foi palco de alguns dos principais acontecimentos históricos portugueses.

A segunda invasão francesa, em 1809, teve lugar em Portugal, no Porto, comandada pelo marechal Soult. Os franceses invadiram, inicialmente, Chaves e, de seguida, Braga, onde derrotaram, em Carvalho d’Este, as forças portuguesas, tendo assim as portas abertas para a invasão no Porto. Embora tenham conseguido oferecer resistência, no Rio Ave, em Ponte de Ave e Trofa, não foram capazes de impedir a passagem das forças napoleónicas. Uma vez que os portugueses recusaram as propostas de Soult para se renderem, deu-se a Batalha do Porto, em que os invasores derrotaram as forças portuguesas que se viram, então, obrigadas a fugir para Trás-os-Montes ou para o sul do Douro.

Também a Revolução Liberal viria a constituir um marco para a história da Invicta. Em 1820, vivia-se, em todo o país, um conflito ideológico, entre absolutistas e liberais. Membros da burguesia, do clero e militares, aproveitando o facto de o rei estar fora do país, organizaram um movimento revolucionário liberal que se estendeu a todo o país. Criou-se, desta forma, um governo provisório que instituiu a convocação das Cortes, no sentido de limitar a atuação da autoridade monárquica, bem como dar mais atenção às necessidades do povo português.

 

Sabores invencíveis da Invicta

A gastronomia do Porto faz parte da cultura da cidade e funciona como uma das imagens de marca da cidade.

Quando se fala da gastronomia portuense é imperativo falar de Tripas à moda do Porto e da famosa Francesinha. O prato que dá nome aos habitantes do Porto, aos “tripeiros”, agrada pelas iguarias e aromas. Desde os cominhos à pimenta preta, até aos enchidos e galinha, este é um prato que emana a identidade e cultura de uma cidade. A francesinha, por sua vez, sustenta a paixão portuense pelos sabores carregados e inventivos.

No que a vinho diz respeito, importa não esquecer o Vinho do Porto que é há muito tempo distinguido e apreciado a nível mundial. A bebida que “quanto mais velha, melhor” contempla uma intensidade de sabores e aromas incomparável, resultante, normalmente, da junção de vinhos de diferentes anos.

 

Frescura, cores e sabores

Assim se caracteriza o mercado mais emblemático da cidade do Porto, o Mercado do Bolhão, que teve origem em 1838.

A monumentalidade do edifício neoclássico, desenhado pelo arquiteto Correia da Silva, confere exuberância ao mercado. No interior, o mercado encontra-se dividido por secções especializadas. Existem as zonas de peixarias, talhos, hortícolas e florais. Já no exterior do edifício existem lojas de produtos mais variados, tais como perfumarias e cafetarias, entre outros.

O edifício homologado, em 2006, como imóvel de interesse público tem sido, ao longo dos últimos anos, alvo de remodelações.

 

A cidade do Porto é a segunda maior cidade de Portugal e um aclamado destino turístico. Enquanto dona de uma irrefutável riqueza monumental e paisagística, esta cidade mobiliza inúmeras pessoas provenientes das mais diversas partes do mundo e do próprio país para presenciar a sua beleza sem par. Entre alguns dos aspectos que lhe conferem identidade, energia e vitalidade encontra-se a extraordinária arquitectura e a tão rica e apreciada gastronomia. No entanto, também as assombrosas paisagens do Douro, os carismáticos mercados, o dinâmico calendário cultural, a vibrante vida noturna, os magníficos painéis de azulejos, os jardins românticos, as tasquinhas típicas, o famoso vinho e o sotaque inconfundível identificam a cidade situada no Norte de Portugal e motivam a visita e revisita de cidadãos de outras províncias. E, para além dos que o visitam, existem aqueles que encontram no Porto motivos suficientes para ficar, ou porque a cidade oferece melhores condições de vida a nível económico ou porque a cultura e o povo portuenses os incitam a querer fazer do Porto a sua cidade.

 

Claire Binyon

_DSC3092Claire Binyon realizou a sua primeira licenciatura em teatro e literatura inglesa, entre 1983 e 1986, na Universidade de Warwick, em Inglaterra. Após ter trabalhado como encenadora, formadora e facilitadora de projectos de teatro de comunidade, em Liverpool, tirou o mestrado em estudos teatrais na Universidade de Leeds, uma das maiores universidades do Reino Unido. A sua dissertação de mestrado foi em dança-teatro e a sua aplicação em contexto comunitário e educativo e no universo de companhias profissionais.

No início dos anos 90, estudou movimento em Paris e em 1994 foi convidada a colaborar num projeto que viria a originar a Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), tendo ajudado na criação de um departamento de teatro e no desenvolvimento do curso de interpretação. Os seus mais recentes projetos passam pelo desenvolvimento de cursos de mestrado em encenação e interpretação, encontrando-se, ainda, este ano a trabalhar no progresso de um novo curso de pós-graduação em Teatro e Comunidade. Neste momento, a sua área de investigação e grande paixão é o método de Feldenkrais que consiste num método somático de aprendizagem, ou seja, um método que tem por base a relação entre o movimento corporal e consciencialização.

Foi em 1994 que Claire Binyon, natural de Inglaterra, chegou à cidade invicta. Depois de leccionar um workshop com a duração de duas semanas, foi convidada para colaborar no âmbito de um projeto que viria a dar nome à Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), antiga Escola Superior de Música. Após seis meses já se sentia integrada no seio de uma comunidade que desconhecia e faz agora 20 anos que aqui reside.

No Porto, aprecia o clima, o facto de estar perto do mar e do rio, o ritmo de vida, a beleza e potencialidade da cidade, a generosidade dos artistas, o entusiasmo dos jovens e a própria cultura. Na verdade, ficou até bastante surpreendida pela “ligação que os jovens têm com a tradição”, pois “lá na Inglaterra nós perdemos muito a nossa cultura tradicional”, por isso admira “essa ligação que, sobretudo, os jovens têm com o seu passado”. No entanto, considera que devia haver mais “valorização, apoios e estruturas” para a área das artes, pelo que gostava que o Rivoli voltasse a funcionar como funcionava em 2001 quando o Porto foi eleito Capital Europeia da Cultura e como funcionava “nos tempos de Isabel Alves Costa”, ex-responsável artística do Rivoli Teatro Municipal.

No que se refere ao ambiente, “há muito convívio, muita comunidade” e, apesar de no início as pessoas serem “um bocadinho reticentes, (…) depois de conhecê-las são cada vez mais simpáticas.” Também a arquitectura, o São João, a Ribeira, o Palácio de Cristal e a Casa da Música são muito elogiados por esta profissional do mundo das artes que considera que nesta cidade “há uma qualidade de vida que é diferente do que tem em outros sítios”. A respeito de qualidade, Claire evoca particularmente o tema da gastronomia, pois “a qualidade da comida é incrível mesmo nos cafés, nos sítios muito baratos”.

E para caracterizar a cidade invicta a palavra de ordem é animação, já que o Porto tem “uma grande capacidade de animação, de alegria, de entusiasmo” que a todos contagia e fascina mesmo quem com ele contacta uma só vez.

 

Ianina Khmelik

ImageGenIanina é uma violinista russa que desde cedo sentiu paixão pela música. Com apenas cinco anos, ainda em Moscovo, iniciou os estudos musicais. Mais tarde, ingressou na Escola Profissional de Música Gnessin na classe de L. Shevrekuko. Em 1995, ganhou o 2º Prémio no Concurso para Jovens Músicos de Moscovo. No ano seguinte, foi estudar para a Alemanha.

Quando chegou a Portugal, em 1999, continuou a sua formação musical. Terminou o curso da Escola Profissional de Música de Espinho e em 2006 terminou a Licenciatura em Violino na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo. Depois de ter ido a várias audiências, entrou na orquestra sinfónica da Casa da Música no Porto, onde é violinista.

A primeira cidade a acolhê-la foi Espinho, onde frequentou a Escola Profissional de Música e terminou o 9º grau, bem como o 12º ano. Mas rapidamente se rendeu aos encantos da Invicta. O facto de haver “mais movimento” e de ser “ a segunda maior cidade de Portugal” impeliu-a a ficar na cidade.

Desde logo, envolveu-se em projetos musicais e culturais. Frequentou a ESMAE – Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo – e, mais tarde, assinou um contrato “por tempo indeterminado” na orquestra Sinfónica da Casa da Música, o que, para si, “foi muito valioso”e constituiu um dos principais motivos que a prenderam ao Porto.

Enquanto profissional do mundo das artes, tem uma visão profunda da ligação que os portuenses têm com a cultura. Anima-a que, desde 1999, tenha havido “uma evolução enorme quanto à apreciação das artes”. Embora, como refere, “muita coisa aconteça na capital”, graças à Casa da Música, por exemplo, “as pessoas passaram a aderir mais aos concertos e a interessar-se mais pelos diferentes tipos de música”. Também Serralves e os projetos artísticos recentes da rua Miguel Bombarda têm funcionado como impulsionadores da cultura e arte na cidade do Porto. “Os portuenses aderiram muito bem a isso”, o que confere “uma movida diferente à cidade”.

Não foi só a sua experiência no mundo artístico da cidade que fez de Ianina uma apaixonada pelo Porto. A hospitalidade que reconhece no povo portuense fá-la afirmar, de forma imediata, que o que mais a apaixonou foram “as pessoas, em primeiro lugar”. Ao início, são “introvertidas”, afirma, mas, ao mesmo tempo, “muito acolhedoras”. Reconhece nos portuenses virtudes que “põem os estrangeiros à vontade, fazem-nos sentir que a cidade é deles”.

“Eu já vivi na Alemanha, na Rússia e já viajei muito, mas o Porto… A baixa…”, disserta. O que mais fascina Ianina é “viver na baixa, acordar e ouvir a senhora que traz o primeiro peixe de manhã”.

É a naturalidade das pessoas e a sua “generosidade” que a fazem sentir que a cidade já é mais sua do aquela de onde é natural, porque, como afirma, “considero o Porto a minha cidade já, nem é Moscovo”.

 

Ricardo Duarte

1397771_603560203019334_1789681326_oRicardo Duarte é natural dos Açores e mudou-se para o Porto há 8 anos, “por motivos de estudo, por ter das melhores instituições de ensino do país”.

No entanto, quando chegou à cidade Invicta, percebeu que o que esta cidade tem de especial vai muito além dos motivos académicos. Para este jovem, o Porto é “dos locais de Portugal continental com mais simpatia”. Aprecia, ainda, “a arquitetura e o ar envelhecido da cidade”.

Apesar de vir de um meio muito distinto, não teve dificuldade em adaptar-se à cidade do Porto. Primeiro, porque teve “a sorte de ter cá amigos conterrâneos e a adaptação tornou-se fácil”. Segundo, por causa das qualidades que reconhece no povo portuense, que é “atencioso, prestável e simpático”. Além de ajudarem, os portuenses “importam-se que a sua ajuda seja de qualidade”, como afirma.

Ricardo sente-se já um verdadeiro portuense e agrada-o vestir essa pele, “é sentires que a cidade onde vives, é especial, sempre foi especial e o vai continuar a ser.”

Viver na cidade Invicta é, no fundo, contactar com uma cultura “única”, com que “não há nada que se assemelhe”. É viver numa cidade que, em relação a outras, oferece boas oportunidades, tais como o facto de possuir “Excelentes meios de transporte que nos fazem a cidade parecer mais pequena”.

Reconhece no Porto algumas fragilidades que se pudesse mudaria, tais como, “a falta de apoio aos movimentos artísticos”. Apesar disso, a cidade que considera “única” não deixa de o apaixonar todos os dias.

 

Tatiana Moutinho

302703_10151245471109354_1050256639_nTatiana Moutinho veio para o Porto há 22 anos, para estudar Bioquímica na Faculdade de Ciências.

Confessa que a adaptação à nova cidade não foi fácil, pois, como afirma, “a maioria dos meus colegas de faculdade eram todos do Porto, já tinham o seu núcleo de amigos, pelo que eu não era fácil estabelecer novas amizades”. Entretanto, foi estabelecendo amizade com pessoas fora do Porto, nomeadamente madeirenses. Porém, ficou “de novo só” quando, no fim do curso, “praticamente toda a gente se foi embora”, o que não constituiu, ainda assim, um obstáculo porque o gosto pelo Porto facilitava a adaptação, “sempre gostei da cidade e o facto de, por vezes estar mais sozinha, nunca me incomodou muito”, refere.

A hospitalidade e boa disposição características dos portuenses deixam, na opinião de Tatiana que já viveu em diferentes zonas do Porto, as pessoas à vontade e “em poucas semanas o senhor do café, a senhora da mercearia ou da lojinha de solas e cabedais já te reconhecem e rapidamente o “bom dia, menina” se torna um hábito”. No entanto, embora o primeiro impacto com o povo portuense seja agradável, reconhece que estabelecer relações com este não é fácil, “têm algo de granítico: se o primeiro impacto é amistoso, criar laços com os portuenses pode não ser assim tão fácil”, são “capazes do melhor e do pior, por vezes ao mesmo tempo”, refere.

Esta “tripeirinha de adopção”, como se auto-intitula, já passa por verdadeira portuense, quer pelo sotaque, quer pelo facto de torcer pelo clube da cidade. Mas só “as pessoas mais ao sul” é que “se deixam enganar”, porque, tal como reconhece, “perante os portuenses de gema, tenho que aceitar que não serei propriamente uma”.

Tatiana considera que o “problema número um da cidade”é o facto de estar cada vez mais degradada. Afirma que “é lastimável o estado em que se encontra o edificado antigo na baixa da cidade”. Apesar disso, não nega que no Porto “há coisas lindíssimas para ver” e que, por isso, “vale a pena deambular pela cidade”.

Para Tatiana, a cidade Invicta é uma cidade “fantástica”, pelo que, apesar de todas as fragilidades que lhe identifica, continua a ser uma “oportunidade viver numa cidade com alguma dimensão mas onde ainda se pode ter bastante qualidade de vida.”

 

David1David Campos

Há 14 anos que David Campos reside no Porto. Proveniente de Coimbra, mudou-se para a cidade invicta devido ao emprego dos pais, “que decidiram viver numa cidade com mais oportunidades e com um ambiente melhor para os filhos crescerem”.

Orgulhoso por “viver numa cidade que é uma das boas referências que Portugal deixa no estrangeiro”, enquanto estudante, destaca “a grande qualidade do ambiente académico e os bons exemplos dados pela nossa Universidade, relativamente a outras cidades”. Para David, o Porto “respira história e um dinamismo raro nas cidades portuguesas (…) e apesar da sua dimensão, o Porto transmite um conforto familiar, que proporciona uma boa qualidade de vida”. Na verdade, a Invicta “deixa qualquer um «preso» à sua mística”, pelo que que cada turista deve “ «perder-se» na cidade, procurando os locais comuns, os tesouros esquecidos.”

Ainda que o Porto albergue verdadeiros tesouros, David elege “toda a parte da cidade banhada pelo mar ou o rio, como a Ribeira ou a Foz do Douro”. No entanto, considera que ainda existem algumas fragilidades na cidade do Porto que é necessário combater, pelo que este estudante universitário “tentaria atenuar os problemas sociais e de desemprego desta região, bem como uma pontual degradação de alguns pontos da cidade”.

E embora não conheça “muita da cultura nortenha fora do Porto”, evidencia que “a região que é o berço da nossa nacionalidade (…) está sempre aliada a uma valentia de espírito de mudança que mudou a história nacional em numerosas ocasiões”, o que o leva a considerar, por tudo isto, que, “numa só palavra, o Porto é diferente”.

 

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