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Sociedade

SLUTWALK: MARCHA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO DE GÉNERO

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“Vestida ou Nua a Rua também é tua”. Este era um entre muitos cartazes que pintou a “SlutWalk”, uma marcha que no sábado, dia 11, saiu da Praça Carlos Alberto por volta das 22h15 e terminou no Jardim da Cordoaria. O grupo que conduzia o evento gritava pela igualdade de géneros e contra a discriminação e assédio sexual.

Viam-se erguidos no ar cartazes com várias mensagens. “O meu corpo não é nenhuma vergonha”. “Não é não. Se for sim eu aviso!”. “Toca-me sem permissão e perdes a mão!”. Na Cordoaria, no fim da marcha, vários membros condutores do evento discursaram com base num manifesto que iam distribuindo às pessoas na rua.

“Queremos romper com a objetificação de género, que divide a sociedade de acordo com as tradições de conduta associadas ao seu sexo biológico” podia ler-se no manifesto desta iniciativa, cujo objetivo principal passa por criticar e contestar a culpabilização da vítima de um caso de assédio ou violação sexual.

Slut Walk: marchando desde 2011

A “SlutWalk – Marcha das Galdérias” surgiu pela primeira vez em Toronto, Canadá a 3 de abril de 2011. Durante uma série de casos de assédio na Osgoode Hall Law School, um polícia, de nome Michael Sanguinetti, fez um comentário no qual sugeria que as mulheres “deveriam evitar vestir-se como galdérias” de modo a evitar serem vítimas de assédio sexual.

Essa declaração provocou reações ultrajadas. Apesar de mais tarde Michael ter pedido desculpa publicamente pelo que disse, meses depois foi organizada a primeira marcha em Toronto, Ontario. O evento juntou mais de três mil pessoas durante um dia em Queen’s Park.

Luísa Cativo, membro da organização do “SlutWalk Porto”, refere que aquilo que impulsionou o movimento foi o objetivo de contestar uma mentalidade de “culpabilização da vítima”. “Quando uma pessoa é vítima de assédio sexual a culpa é exclusivamente do agressor, não de quem sofreu a agressão. Enquanto noutros crimes conseguimos culpar o criminoso, no que toca a assédio sexual e outros casos relacionados com violência de género culpamos mais facilmente as vítimas do que os agressores”. A jovem acredita, ainda, que se os portugueses forem educando as gerações mais jovens de modo a contrariar mentalidades mais retrógradas face ao sexo feminino.

Desde 2011 a iniciativa espalhou-se pelos EUA, assim como por países tais como Jerusalém, Argentina, Brasil, Índia, Coreia do Sul, Londres, Paris, entre outros. Em Portugal, para já, apenas as cidades Lisboa e Portoreceberam o “SlutWalk”, tendo ambos a primeira marcha em 2011. Este ano no nosso país só a cidade Invicta realizou uma marcha.

Inês, 27 anos, é natural de Lisboa, no entanto, deslocou-se ao Porto para participar no evento. Por duas vezes já participou em duas “SlutWalks” organizadas em Lisboa, no entanto este ano só o Porto organizou o evento. Inês referiu ao JUP que, enquanto mulher, e lésbica, se sente oprimida todos os dias por vários estigmas sociais. “É uma realidade que me faz ter medo de ir sozinha para casa à noite. Todas as minhas ações tem de ser pensadas mais do que uma vez. Um homem não tem a mínima noção do que isso é. É importante estarem aqui homens que tenham consciência; isto é algo que eles não sabem experienciar na pele mas que podem denunciar também.”

Contra a opressão para com o sexo feminino

Feminismo, violência doméstica, abuso sexual, estereótipos, homossexualidade, entre outros tópicos, foram alguns dos temas que também foram abordados durante a “SlutWalk Porto”. A pressão da parte da sociedade em relação aos sexos, nomeadamente para com a mulher foi também uma forte motivação que moveu a marcha no sábado à noite.

Apesar de existirem várias iniciativas e mesmo dias dedicados à mulher, várias pessoas sentem que ainda existe muito estigma para com o sexo feminino, seja na empregabilidade, seja nos papéis que são esperados da parte de uma mulher.

“A mulher acaba por ser encarada quase com um certo misticismo: é suposto ser mãe, trabalhadora, dona de casa, enfim, é suposto ser de tudo e mais alguma coisa. Mas a mulher é uma pessoa. É humana. Tem limitações como os homens, que por sua vez têm que ser frios, distantes, não podem usar cor-de-rosa, nem maquilhagem, como se isso fizesse deles menos homens”, defende Luísa Cativo, salientando as limitações que a sociedade impõe para com ambos os sexos.

A questão do peso da imagem exterior da mulher também foi um tema abordado. “A questão da beleza tem um peso muito maior para a mulher. Uma mulher mesmo que seja bem-sucedida dão-lhe mais valor se for bonita do que por ser bem-sucedida. Ser for ambas, melhor ainda. Uma mulher tem sempre de ser bonita para ser encarada como bem-sucedida”, considera Luísa.

“A própria sociedade está virada para o físico das mulheres. Temos uma sociedade que é extremamente violenta para o corpo das mulheres a vários níveis. As próprias mulheres são as maiores polícias disto tudo. São elas que fazem comentários e se tentam motivar umas às outras. Tenho um nojo profundo desse tipo de conversas” reprovou Inês.

António Fernandes, membro do Núcleo Antifacista do Porto, criticou a exploração que muitas indústrias, nomeadamente a indústria musical, têm para com o corpo das mulheres. “Se fores à indústria da música eles querem sex symbols, não apenas cantoras. A mulher agora é como se fosse um mercado. Quanto mais descascadas melhor.”

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