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Ciência e Saúde

Primeiro transplante de bexiga realizado com sucesso

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Dr. Nima Nassiri com o paciente Oscar Larrainzar, crédito da fot: Nick Carranza - UCLAHealth

Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos realizou o primeiro transplante de bexiga totalmente funcional retirada de um doador humano e implantada num paciente sem bexiga e rim, permitindo-lhe abandonar a diálise.

 

O primeiro transplante de bexiga humana obtida de um dador falecido foi realizado com sucesso nos Estados Unidos. Uma intervenção pioneira levada a cabo por uma equipa conjunta da University of Southern California (USC) e da University of California, Los Angeles (UCLA). Até agora, os doentes cuja bexiga tinha de ser removida — por razões oncológicas, congénitas ou traumáticas — viam-se obrigados a viver com soluções paliativas. O tratamento atual para casos terminais graves de disfunção da bexiga ou uma bexiga que foi removida inclui a substituição ou aumento do reservatório urinário. Os reservatórios urinários feitos com segmentos intestinais, embora perspicazes, acarretam desvantagens: infeções frequentes, complicações metabólicas e, em muitos casos, perda de qualidade de vida. Um avanço que junta cirurgia, imunologia e reconstrução funcional começa hoje a superar o que ontem se tratava como inevitável.

 

Uma cirurgia complicada, mas bem-sucedida

Oscar Larrainzar, de 41 anos, estava dependente de diálise há sete anos. Uma cirurgia para tratar o cancro levou à remoção da maior parte da bexiga, comprometendo a sua função fisiológica normal. E, devido ao cancro renal, os médicos também removeram ambos os rins.

Realizada em maio, a operação teve a duração de cerca de oito horas e envolveu o transplante simultâneo de um rim e de uma bexiga, permitindo, dessa forma ao paciente recuperar tanto a função renal como a capacidade de urinar de forma natural.

“O rim produziu imediatamente um grande volume de urina, e a função renal do paciente melhorou imediatamente”, disse o Dr. Nima Nassiri, líder da cirurgia de transplante urológico. “Não havia necessidade de realizar novamente diálise após a cirurgia, e a urina drenava adequadamente para a nova bexiga.”

 

Como é que um transplante pode mudar vidas

“Esta cirurgia é um momento histórico na medicina e afetará a forma como gerimos pacientes cuidadosamente selecionados com bexigas ‘terminais’ altamente sintomáticas, que não estão a funcionar” – afirmou o Dr. Gill, cirurgião e diretor executivo e fundador da USC Urology.

Mais do que prolongar a vida, esta cirurgia restitui autonomia — um fator muitas vezes esquecido nas métricas clínicas, mas central no bem-estar do ser humano. Ainda assim, os especialistas alertam para a importância de equilibrar o entusiasmo com uma análise crítica e ponderada. Este é apenas um caso, com um acompanhamento clínico ainda limitado no tempo. Apenas ensaios clínicos rigorosos e um seguimento prolongado poderão esclarecer, nos próximos anos, a eficácia a longo prazo, a viabilidade reprodutiva da técnica e os riscos ligados à imunossupressão.

O feito norte-americano não é apenas um triunfo técnico: é uma afirmação de que a medicina pode, e deve, aspirar a devolver aos doentes não só a sobrevivência, mas a integridade da sua vida.

 

Artigo da autoria de Rafael Maria Pires e Marinho. Revisão por Ana Luísa Silva.

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