Ciência e Saúde
Mexilhões tornam-se guardiões da qualidade da água

Uma abordagem inovadora e natural está a ganhar destaque no controlo da qualidade da água potável, com mexilhões a ser utilizados como bioindicadores em estações de tratamento de água.
A estação de tratamento de água Debiec, na cidade de Poznan na Polónia utiliza a inteligência natural dos mexilhões como sensores para mudanças na qualidade da água no rio Warta, a principal fonte de abastecimento de água de superfície da cidade.
Os mexilhões são organismos filtradores que retiram nutrientes e impurezas da água, funcionando como bioindicadores naturais. Estes moluscos bivalves, sensíveis a alterações químicas no ambiente, são conhecidos por fecharem as suas conchas quando a qualidade da água está comprometida. Dessa forma, são agora parte integrante de sistemas de monitorização ambiental em tempo real. O mecanismo baseia-se na observação dos padrões de abertura e fecho das suas conchas: quando expostos a substâncias tóxicas, como metais pesados ou produtos químicos industriais, os mexilhões reagem e fecham as suas conchas — um comportamento que é imediatamente detetado por sensores ligados aos seus cascos.
Este sistema, implementado também em cidades como Cracóvia e Varsóvia, permite uma resposta rápida por parte das autoridades caso haja contaminação da água. Oito mexilhões compõem este sistema. Em situações em que quatro mexilhões fechem, o sistema desliga-se automaticamente e suspende o abastecimento de água. E, logo em seguida, o sistema emite um alerta sobre a possibilidade de contaminação da água.
Cada mexilhão está no ativo durante três meses. Após este período de monitorização das águas, e visto que passam demasiado tempo naquele ambiente, os moluscos acabam por perder a sensibilidade necessária para realizar uma monitorização precisa. E, por isso, os técnicos levam-nos de volta ao seu habitat de origem. A escolha dos mexilhões não é aleatória. Espécies como o o Unio tumidus e o Dreissena polymorpha são comuns nos rios polacos e altamente sensíveis a mudanças na composição da água, tornando-os ideais para este tipo de vigilância ecológica.
A utilização de mexilhões para monitorizar a qualidade da água apresenta diversas vantagens. Para além de ser um sistema ecológico e sustentável, permite a deteção precoce de contaminantes sem necessidade de processos laboratoriais demorados. Além disso, a resposta biológica destes moluscos é altamente fiável. Uma vez que reagem diretamente à presença de toxinas que podem ser prejudiciais para os seres humanos.
Este tipo de abordagem biotecnológica destaca-se por exemplificar a integração de processos naturais em sistemas modernos de segurança ambiental, contribuindo para proteger a saúde pública e gerir de forma mais eficiente os recursos hídricos. A iniciativa polaca tem despertado o interesse de outros países europeus, sendo apontada como exemplo de inovação sustentável e de valorização da biodiversidade local no combate à poluição.
Artigo da autoria de Rafael Maria Pires e Marinho. Revisão por Ana Luísa Silva.
