Ciência e Saúde
Astrobiologia na U.Porto: Entre Estrelas e Microorganismos

O primeiro evento científico de Astrobiologia na Universidade do Porto contou com painéis temáticos, sessões de posters e workshops interativos, destacando a crescente relevância desta área científica em Portugal.
Nos dias 24 e 25 de maio, o Planetário do Porto foi palco do primeiro encontro científico de Astrobiologia organizado na Universidade do Porto, “Astrobiologia: Entre Estrelas e Microorganismos”. O evento juntou participantes desde o ensino secundário ao doutoramento, num fim de semana dedicado à exploração de temas que cruzam a biologia, a física e a química.
A iniciativa foi organizada pelo Grupo de Estudantes Portugueses de Astrobiologia, Astrobiolusitanos, com o apoio do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) e o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IAstro).
Um programa científico multidisciplinar
O evento contou com cinco painéis temáticos que reuniram investigadores portugueses de várias áreas-chave da astrobiologia, proporcionando uma visão abrangente e interdisciplinar desta ciência em crescimento.
No sábado, 24 de maio, o primeiro painel, “Ambientes Extremos”, convidou os participantes a explorar os habitats mais inóspitos da Terra e o seu papel no estudo dos limites da vida. A Dra. Catarina Magalhães, líder do grupo de Ecologia e Biogeoquímica dos Microbiomas, abordou a interação de microrganismos com ambientes como os fundos oceânicos e os desertos gelados da Antártica. A sessão contou ainda com a Dra. Marta Simões, investigadora na Universidade de Ciências e Tecnologias de Macau, que introduziu o campo da astromicologia, discutindo a resistência dos fungos a condições espaciais extremas e o seu potencial na exploração do espaço.
Seguiu-se o painel de “Astrofísica”, que contou com a participação do Dr. Pedro Machado, investigador do Centro de Astronomia e Astrofísica da UL, que apresentou perspetivas sobre a evolução e habitabilidade dos vários corpos celestes do Sistema Solar. A Dra. Ângela Santos, investigadora do CAUP, explicou como o magnetismo e a rotação das estrelas podem influenciar a habitabilidade de exoplanetas.
No domingo, dia 25 de maio, a manhã iniciou-se com o painel de “Microbiologia Espacial”, que trouxe ao palco a Dra. Marta Cortesão, investigadora do CAUP, que apresentou exemplos de missões espaciais envolvendo microrganismos e os seus contributos para sistemas sustentáveis. Seguiu-se a Dra. Lígia Coelho, investigadora na Universidade de Cornell, que explicou como as mudanças na Terra podem ser utilizadas para a deteção de vida em luas geladas e exoplanetas, através de bioassinaturas.
À tarde, o painel de “Exploração Espacial” trouxe o Dr. Rafael Fernandes, médico e residente de Neurocirurgia na Unidade Local de Saúde São José, que detalhou acerca dos efeitos da microgravidade e da radiação espacial na saúde dos astronautas, nomeadamente no sistema nervoso. Seguiu-se o investigador Tiago Ramalho, da Universidade de Bremen, que abordou o papel de cianobactérias na criação de sistemas sustentáveis para futuras missões a Marte.
O último painel foi o de “Comunicação de Ciência”, que contou com a presença do Fábio da Silva, criador da página Universo Perpendicular. O Fábio salientou a importância de uma comunicação científica rigorosa dentro da área da astrobiologia, centrada nos factos e promotora do pensamento crítico.

Mesa redonda, moderada pela Marina Grilo, com a participação da Dra. Marta Cortesão e do Dr. Pedro Machado.
Workshops: astrobiologia para tod@s
Os participantes tiveram ainda a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo das várias palestras em workshops práticos, conduzidos pelos membros da equipa dos Astrobiolusitanos.
No workshop “Habitabilidade: Extremófilos Fantásticos e Onde Encontrá-los”, os participantes aprenderam sobre os mais diversos microorganismos extremófilos, estudando as suas estratégias de sobrevivência. Em “Astrofísica: À procura de Krypton”, os estudantes aprenderam sobre as técnicas atuais para descoberta de exoplanetas, devendo ainda simular a deteção de um exoplaneta. O wokshop “Microbiologia: Perdidos no Espaço” debruçou-se sobre o desenvolvimento de sistemas de suporte de vida para a exploração de Marte. Os participantes foram encarregues de construir um ecossistema artificial, que garanta a produção de comida, oxigénio e água, para assegurar a sobrevivência de astronautas numa missão a Marte. Por fim, em “Exploração Espacial: 2001 ideias para o Futuro”, os participantes apresentaram soluções inovadoras para desafios da medicina e engenharia no espaço, num formato estilo Shark Tank.

Workshop “Astrofísica: À procura de Krypton”, em que os participantes aprenderam sobre técnicas de deteção de exoplanetas.
Sessão de posters: a astrobiologia entre os mais jovens
Entre workshops e painéis científicos, os participantes puderam ainda apresentar os seus trabalhos de investigação em astrobiologia durante os coffee breaks.
O poster vencedor, escolhido por voto dos participantes, foi o de Leonardo Berger, estudante do ensino secundário. O seu trabalho explora o uso de líquens para a proteção contra radiação nociva, uma aplicação relevante para a exploração espacial.

Leonardo Berger, aluno do ensino secundário, apresentou o poster premiado “Xanthoria: liquens as an UV-shield”.
Após um fim de semana entre estrelas e microorganismos, o evento terminou com uma reflexão clara: a astrobiologia está a crescer em Portugal. A forte adesão de jovens estudantes e investigadores demonstra o potencial do país em contribuir ativamente para os desafios atuais enfrentados nesta área.
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Artigo por Isabel S. Sousa. Revisto por Joana Silva.
