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Ciência e Saúde

NUTRIÇÃO: OMS REPORTA O PANORAMA ATUAL

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O Global Nutrition Policy Review (GNPR), publicado pela primeira vez pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para os anos de 2009 e 2010, é um documento de referência relativamente às políticas de promoção de alimentação saudável a nível mundial. Dos países que fazem parte da OMS, 176 estados-membros responderam ao inquérito que deu origem ao GNPR. Destes, 95% declarou possuir políticas, estratégias ou planos de nutrição relevantes.

Em 80% dos estados inquiridos existem organizações que supervisionam os projetos relacionados com nutrição. Ainda assim, um terço dos países na Europa e na região do Pacífico Oeste não possui qualquer organização com este intuito. Já em relação a profissionais qualificados na área da nutrição, embora a maioria dos países os possua, eles existem ainda em baixo número no continente africano.

Fonte: GNPR (2016-2017), OMS.

Fonte: GNPR (2016-2017), OMS.

Imagem: Densidade de nutricionistas por 100.000 habitantes em AFR (África), AMR (América), EMR (Mediterrâneo Este), EUR (Europa), SEAR (Sudeste Asiático) e WPR (Pacífico Oeste).

A OMS estima que, em 2016, mais de 340 milhões de crianças entre os 5 e os 19 anos de idade sofriam de excesso de peso ou obesidade. No outro extremo, 192 milhões de crianças da mesma faixa etária tinham baixo peso, sendo que subnutrição é a causa de morte de aproximadamente metade das crianças com menos de 5 anos.

Um dos passos importantes no estabelecimento de políticas de nutrição foi a declaração da década de 2016 a 2025 como a Década de Ação das Nações Unidas sobre a Nutrição. A OMS definiu, assim, um conjunto de metas a alcançar até ao ano de 2025:

  • Redução em 40% do número de crianças subdesenvolvidas com menos de 5 anos de idade;
  • Redução em 50% no desenvolvimento de anemia em mulheres em idade reprodutiva;
  • Redução de 30% em baixo peso ao nascimento;
  • Não aumento da obesidade infantil;
  • Aumento de pelo menos 50% na taxa de amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses;
  • Redução e estabilização do emaciamento infantil para menos de 5%.

Mais de metade dos estados membros inquiridos incluíram as metas nos seus planos de nutrição, com particular ênfase na obesidade infantil e amamentação exclusiva. No entanto, foi na Europa que se verificou mais disparidade na inclusão da meta relativa à amamentação exclusiva nas políticas de nutrição (apenas 40% dos estados inquiridos terão incluído esta meta).

relatório indica que em apenas 71% dos países inquiridos se implementou a Baby-friendly Hospital Initiative (designada por Comissão Nacional Iniciativa Amiga dos Bebés, em Portugal). Esta iniciativa, lançada pela UNICEF (Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas) e pela OMS em 1991, visa proteger e promover a amamentação. Ainda assim, o aconselhamento relativamente à amamentação foi implementado em 99% dos países desde do primeiro GNPR (2009-2010).  De acordo com a OMS, a amamentação exclusiva durante os primeiros seis meses de vida é essencial para o ótimo crescimento e desenvolvimento da criança, apresentando também benefícios para a saúde da mãe.

Em 160 países, 89% reporta possuir programas de saúde e nutrição em ambiente escolar. Nos continentes americano, europeu e na região do Pacífico Oeste, a maioria dos programas de nutrição têm como objetivo prevenir ou reduzir o excesso de peso, enquanto no continente africano e na região do Sudeste Asiático os mesmos programas visam reduzir ou prevenir a subnutrição. Nas escolas, mais de metade dos países estabeleceram regulação relativa a comida e bebidas, tendo também providenciado refeições e água gratuita. É em África e no Sudeste Asiático que é mais comum a disponibilização de refeições, embora alguns dos países não regulem as mesmas de acordo com os padrões requeridos.

A abolição de máquinas de venda automática em escolas é apenas aplicada por 18% dos países, embora 30% dos países implementem estratégias de encorajamento ao consumo de fruta e legumes nas suas escolas. Estas estratégias consistem principalmente no fornecimento de fruta ou legumes em refeições escolares. Por outro lado, alguns países reportam o uso de sumo com 100% de fruta como alternativa. De acordo com Susan Jebb, professora de saúde nutricional e dietética na Universidade de Oxford, estes sumos possuem um conteúdo em açúcar equivalente aos das bebidas açucaradas e refrigerantes e devem, por isso, ser evitados. A ingestão de açúcares está diretamente relacionada com o desenvolvimento de cáries dentárias e pode contribuir para o agravamento de outros problemas de saúde, segundo estudos realizados pela OMS.

Fonte: GNPR (2016-2017), OMS

Fonte: GNPR (2016-2017), OMS

Imagem: Percentagem de países que aplicam padrões para comida e bebidas disponíveis em escolas, abolição de máquinas de venda automática em escolas, estabelecimento de ambientes limpos e higienizados para alimentação escolar e fornecimento de refeições escolares para AFR (África), AMR (América), EMR (Mediterrâneo Este), EUR (Europa), SEAR (Sudeste Asiático) e WPR (Pacífico Oeste).

A suplementação de vitaminas e minerais foi implementada sobretudo em crianças e mulheres grávidas. A suplementação em ferro é essencial para atingir a meta que visa reduzir em 50% a prevalência de anemia em mulheres em idade reprodutiva. Em mulheres grávidas ou em idade reprodutiva, os nutrientes mais frequentemente suplementados são o ferro e o ácido fólico, essencial para a prevenção de defeitos no tubo neural nos fetos. Em crianças, a suplementação é frequentemente realizada através de múltiplos micronutrientes em pó, que são adicionados a farinhas e outros alimentos em 52% de 144 países inquiridos. A iodização do sal é também praticada por 80% dos 148 países inquiridos. De acordo com a OMS, a deficiência em iodo é a causa mais comum de dano cerebral.

Por cá, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elabora, todos os anos, o relatório do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, documento que sumariza o estado alimentar e nutricional no país. A DGS concluiu que a obesidade e outras doenças relacionadas com a malnutrição, como a diabetes, são mais prevalentes na classe social mais baixa e na faixa etária idosa. Por outro lado, mais habilitações literárias estão associadas a uma melhor alimentação.

Fonte: Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF) com os dados recolhidos entre 2015 e 2016.

Fonte: Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF), 2017.

Imagem: Prevalência de obesidade e pré-obesidade ponderada para a distribuição da população portuguesa (por sexo e grupo etário), com dados recolhidos entre 2015 e 2016.

Em Portugal, o consumo de fruta e produtos hortícolas encontra-se abaixo do recomendado, enquanto o consumo de produtos derivados de animais (como carne, pescado e ovos) se encontra acima do recomendado. A inadequação do consumo de frutas e hortícolas é particularmente elevada nas crianças e adolescentes. No que ao consumo de sumos e refrigerantes diz respeito,  são também os adolescentes quem mais apresenta um comportamento inadequado. Em média, cada adolescente consome o equivalente a mais do que um refrigerante por dia, sendo que 43% dos adolescentes consomem estas bebidas diariamente. Em idosos portugueses, foi registado risco de desnutrição em 14,8% e desnutrição em 1,3%.