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Ciência e Saúde

Agricultura Regenerativa: do Solo à Sustentabilidade

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Fonte: Unsplash

A agricultura regenerativa é uma estratégia agrícola que não só aumenta a produção agrícola como também, através de práticas sustentáveis, pode contribuir para o combate às alterações climáticas.

 

Segundo um artigo do Público de fevereiro deste ano o setor da agricultura é um dos mais afetados pelas alterações climáticas, sofrendo com as inundações e aumento da temperatura. Estes fenómenos são aqueles que as políticas verdes da UE têm vindo a tentar mitigar e os quais têm vindo a ser alvo de polémica (como se pôde observar com as manifestações de agricultores em toda a Europa, no início deste ano) devido à tensão entre uma visão mais conservadora e focada na produção e economia e uma visão mais sustentável.

 

O que é a agricultura regenerativa?

O conceito já teve definições variadas, no entanto, partilha muitos dos ideais da agroecologia, agricultura de conservação, agricultura orgânica, intensificação ecológica e agricultura de carbono.

Segundo um relatório da EASAC (abril de 2022), a agricultura regenerativa é uma proposta como alternativa às atividades agrícolas convencionais de modo a:

  1. Restaurar a saúde do solo, incluindo o aumento da capacidade de captura de carbono para mitigar as alterações climáticas;
  2. Garantir a reposição e proteção da biodiversidade.

Diversas estratégias têm sido aplicadas para práticas agrícolas mais sustentáveis, propostas no Pacto Ecológico Europeu (acordo que pretende diminuir a emissão de gases contribuintes para o efeito de estufa em 55% até 2030, relativamente a 1990, e atingir a neutralidade carbónica em 2050):

  1. Captura e armazenamento de carbono através de práticas regenerativas:
      • Aumento da diversidade de espécies intra e interculturas;

     

    Introdução de plantações perenes: enquanto uma planta anual completa o seu ciclo de vida numa estação, as permanentes podem durar anos sem necessidade de serem replantadas;

    • Expansão de agroflorestas: uma das mais antigas técnicas agrícolas praticadas por povos indígenas há muitas gerações, mimetiza a biodiversidade da natureza, permitindo a coexistência de árvores e
      cultivações;
    • Redução e/ou eliminação da lavoura: uma prática muito violenta para os solos, uma vez que consiste na criação de sulcos para preparar a terra para cultivo de sementes;
    • Produção de composto orgânico (compostagem): proveniente da decomposição de resíduos de plantas e alimentos, reciclagem de materiais orgânicos e esterco;
    • Culturas de cobertura: preferência a utilização de culturas que não têm como objetivo ser colhidas, ao invés do uso de herbicidas que têm impacto negativo no ambiente e na saúde humana
    • Rotação de culturas: diminui a exaustão do solo, alternando espécies vegetais para interromper os ciclos de pestes e doenças, e repondo ingredientes e introduzindo diversidade no solo que também aumenta a variedade dos insetos e polinizadores;
    • Adubação verde: incorporação de plantas leguminosas para o enriquecimento do solo com nitrogénio;
    • Produção orgânica: sem recurso a produtos químicos sintéticos que minimiza os riscos de perda de nutrientes dos solos.

      Infográfico criado por Diana Correia.

 

  1. Restauração, criação e expansão de habitats, para um reforço da biodiversidade.
  2. Gestão sustentável dos terrenos.
  3. Inovação, a partir da adoção de novas tecnologias e adaptação às mesmas.

 

Empresas agroalimentares com objetivos relativos à agricultura em 2024

Carslberg, Coca-Cola, Danone, General Mills, Kellogg, Nestlé e muitas outras empresas já apoiam iniciativas regenerativas. Além disso, algumas delas já têm objetivos concretos e datas previstas para a sua concretização.

 

E eu, o que posso fazer?

Segundo o Projeto Drawdawn, (a principal fonte mundial de soluções climáticas que possui uma biblioteca das soluções mais eficientes, seguras e equilibradas de hoje em dia, bem como, uma diversidade de infográficos explicativos baseados em estratégias científicas e algoritmos complexos) cada indivíduo pode contribuir para a aposta na agricultura regenerativa se:

  • utilizar o seu poder de compra em alimentos que provenham de quintas que utilizem práticas agrícolas regenerativas;
  • no caso de o próprio praticar agricultura, pode apostar na implementação de práticas regenerativas adaptadas às suas circunstâncias.

 

A Agricultura regenerativa oferece uma abordagem holística do cultivo, não só apostando numa produção alimentar sustentável, como também alinhando com os valores da EU relativamente ao ambiente e à conservação da biodiversidade. A promoção de práticas que melhoram a saúde dos solos, ajudam na conservação da biodiversidade e permitem a fixação do carbono, torna esta estratégia uma das protagonistas na construção de um sistema agrícola europeu sustentável e resiliente.

Artigo redigido por Diana Correia. Revisto por Diana Cunha.