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Ciência e Saúde

O verão de 2023: uma anomalia ou um vislumbre do nosso futuro?

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No terceiro dia de julho, foi noticiado ao mundo que a temperatura média global tinha atingido, pela primeira vez, os 17,01ºC. Com o pânico instalado na comunidade científica, no quarto dia do mês voltou-se a testemunhar um novo recorde de temperatura de 17,18ºC. Em seguida, já no sexto dia do mesmo mês, um novo máximo de temperatura média global foi registado: 17,23ºC. No entanto, o que catalisou estes marcos meteorológicos sem paralelo, que catapultaram este verão para o livro dos recordes como o mais quente de sempre?

O principal destes motivos recai sobre um padrão climático natural conhecido por “El Niño”, que desencadeia temperaturas invulgarmente elevadas da superfície do mar o que, por sua vez, resulta na injeção adicional de calor na atmosfera, por um período de nove a doze meses. Este fenómeno conduziu, assim, a que as temperaturas nas águas do Atlântico Norte estivessem 1,05ºC acima da média anteriormente registada para o mês de julho. É de salientar que, embora o “El Niño” seja um evento natural, o aquecimento global induzido pelo Homem desempenha um papel crucial na alteração tanto da frequência como da intensidade do mesmo.

Um dos outros fatores adicionais que contribuíram para a singularidade deste verão, levando-o a ser o mais quente desde há cerca de 120 mil anos, relaciona-se com uma série de eventos desencadeados pelas alterações climáticas antropogénicas. Entre elas, destacam-se os incêndios florestais em regiões como Canadá e Havai. Entre as diversas formas de influência dos incêndios no clima, destaca-se a sua capacidade de libertar, para a atmosfera, elevados volumes de carbono previamente armazenado nas árvores e nos solos. Num ciclo vicioso, esse dióxido de carbono adicional contribui posteriormente para o aumento das temperaturas globais, criando condições mais propícias para futuros incêndios florestais.

A instituição Climate Central chegou ao ponto de delinear um nexo causal que vincula as alterações climáticas aos elevados índices termométricos. Segundo estes, uma proporção de quase metade da população global vivenciou, pelo menos, 30 dias, temperaturas que se tornaram pelo menos três vezes mais prováveis devido às transformações climáticas acima referidas.

Prevê-se que os próximos verões, impelidos pelo agravamento das alterações climáticas, a incessante emissão de combustíveis fósseis, e uma potencial exacerbação de padrões climáticos como “El Niño”, possam igualar ou até mesmo, potencialmente ultrapassar os extremos meteorológicos atingidos no curso deste verão, que agora termina. Como proclamou António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, “Os dias quentes de verão, não estão apenas a ladrar, estão a morder…”.

Texto por Beatriz Quezada. Revisto por Diana Cunha e Joana Silva.