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Cultura

“THE PICTURE OF DORIAN GRAY”: O BELO NA INGLATERRA VITORIANA

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The artist is the creator of beautiful things.

To reveal art and conceal the artist is art’s aim

 

Assim se inicia o prefácio de “The Picture of Dorian Gray”, uma introdução ao romance que permite sintetizar algumas noções nele veiculadas. Trata-se, portanto, de uma série de epigramas que laconizam as perspetivas de Wilde relativamente ao movimento estético.

Publicado em 1891, o romance de Oscar Wilde constitui um notável documento para uma avaliação das implicações do Esteticismo Finissecular no panorama literário inglês. Esta corrente de pensamento do final do século XIX sobrevalorizava o belo e a arte, advogando uma arte autónoma, autossuficiente e que não serve outro propósito que não a si mesma; uma arte cuja finalidade é existir na sua perfeição, livre de qualquer intenção moral. Esta visão da arte como Art for Art’s sake sugere o valor do belo e a importância do prazer da contemplação.

Apenas através da consciencialização desta perspetiva anti-didática da arte se pode compreender, plenamente, “The Picture of Dorian Gray”. Wilde procede à apresentação de Basil Hallward e Lord Henry Wotton no primeiro capítulo da sua obra, personagens com as quais Dorian Gray se envolve e que influenciam a sua conduta. Hallward é o pintor responsável pelo retrato que dá título à obra e Henry Wotton é um amigo seu que, no momento em que vê o retrato, fica fascinado com o sujeito nele captado.

 

Youth! Youth! There is absolutely nothing in the world but youth!

 

Encantado com a beleza de Dorian, Henry encoraja-o a tirar partido da sua juventude e a reger a sua vida segundo uma atitude hedonista. Uma vez que são efémeras, Dorian deve servir-se da sua juventude e beleza enquanto ele próprio as incorpora, pois chegará o dia em que só restará o seu retrato para o relembrar de quem ele já foi e não é mais. “Time is jealous of you”, refere Henry a certo momento. Atemorizado com a possibilidade de perder o seu bem mais precioso, e de que há tão pouco tempo se apercebera, Dorian deseja permanecer para sempre jovem e que seja o seu retrato a carregar o peso da passagem do tempo. Para esse efeito, Dorian Gray daria a própria alma.

 

The less said about life’s sores, the better

 

Em “The Picture of Dorian Gray”, Henry Wotton comunica as suas convicções quanto à vida – que se aproximam da filosofia estética – e, consequentemente, inspira Dorian a viver segundo elas. Lord Henry, mais do que uma personagem, é a personificação de uma das atitudes quanto à literatura na Inglaterra vitoriana. Realmente, durante o reinado da rainha Vitória, o país sofreu graves perturbações sociais e demográficas. O rápido crescimento urbano, estimulado pela crescente atividade industrial nas cidades, levou a uma deterioração das condições de vida e de higiene. Os pobres viviam na miséria e o trabalho infantil e a prostituição tornavam-se uma realidade do quotidiano. Surge, assim, o romance social, no qual são abordados os problemas da sociedade vitoriana. Romances de Charles Dickens como “Hard Times” ou “Oliver Twist” constituem exemplos dessa vertente literária. Por outro lado, a crença de que a literatura não deveria refletir a realidade deteriorada da sociedade fustigava a mente de alguns autores, os estetas. Esses perspetivavam a literatura como um lugar de evasão e de contemplação do belo. Oscar Wilde é um desses autores e, no seu romance, transparece as suas filosofias estéticas. Contudo, “The Picture of Dorian Gray” vai mais longe do que isso.

 

There were no signs of any change when he looked into the actual painting, and yet there was no doubt that the whole expression had altered

 

Através da figura de Dorian Gray, Wilde personifica o estilo de vida estético e alerta para os perigos desse comportamento. A demanda pelo prazer e pela satisfação de desejos a que Dorian se entrega, por influência das filosofias de Henry, levam-no à própria corrupção e à degradação moral. Dorian esquece qualquer moralidade, rende-se à vaidade e ao egoísmo e envolve-se de objetos belos para se distanciar do horror das suas ações e da sua própria consciência.

Paralelamente, o retrato assinala, fisicamente, a constante degradação psicológica do seu sujeito. De facto, o desejo de Dorian parece ter-lhe sido concebido e, à medida que os anos passam, Gray permanece jovem e belo como no dia em que lhe foi pintado o retrato e este, por sua vez, acompanha o seu envelhecimento e a sua corrupção moral. Numa sociedade que tanto preza a beleza, esta parece ditar quem é puro e quem não o é. Embora corram rumores das ações vis em que Dorian Gray, alegadamente, se envolve, a sua inocência permanece intacta aos olhos dos seus conterrâneos porque uma cara tão bela nunca seria capaz de executar feitos tão reles.

 

A Story with a Moral

 

Dorian Gray envereda por um caminho imoral e narcisista, fomentado pela segurança de uma juventude e beleza incessantes. Contudo, a desfiguração do seu retrato sugere a inviabilidade de semelhante estilo de vida. Embora defenda a maximização do belo e do prazer através das ações, Wilde reconhece a necessidade de uma abordagem mais deliberada relativamente ao Esteticismo. A moralidade assere-se, afinal, como necessária para um equilibrado comportamento estético. Todo o excesso, tal como toda a renúncia são punidos e essa, disse Wilde, é a moral desta história.