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Cultura

FANTASPORTO (DIA 1)

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Rivoli’s Haunted

É indubitável que, e sem menosprezar The Crypt de Marc Murphy e O Espinho da Rosa de Filipe Henriques, os filmes que monopolizaram boa parte das expectativas dos habitués do Fantas foram Cheatin’ de Bill Plympton e Haunter de Vicenzo Natali. Ou não fossem estes multi-galardoados realizadores anteriormente agraciados com o Grande Prémio do festival portuense – no caso do primeiro por Idiots and Angels (2009); no caso do segundo por Cube (1999) e Nothing (2005).

Preaching to the perverted (1997), filme culto BDSM de Suart Urban, abandonado pela BBC, proibido na Irlanda, recentemente resgatado por fãs, terá sido o principal motivo de interesse de um Pequeno Auditório. A sala acolheu igualmente a seleção de curtas-metragens catalãs Short Cat, e as longas Jonnhy Christ de Mark Maggiori e Viral de Lucas Figueroa.

Decidimos então centrar a nossa conversa nas sessões que acabáramos de ver: Primeiramente, Besos de Azúcar, obra de Carlos Cuarón, irmão do recém-oscarizado Alfonso Cuarón de Gravity. Nela acompanhamos Nacho, um rapaz desafortunado cuja mãe vive com um vendedor ambulante de pornografia a soldo da “Diaba”, a sua paixão pela filha desta, Mayra, e o início do amor pueril e impossível, com todo o esplendor da inocência a ele associado. Embora Besos de Azúcar concorre na Semana dos Realizadores, ele não deixa de participar de um certo “fantástico” religioso – percetível na preponderância das referências católicas no apartamento familiar de Nacho e, de modo antagónico, no folclore necrológico mexicano simbolizado pelo altar consagrada à Santa Muerte presente na vivenda da “Diaba”. Fervor simultaneamente maniqueísta e ecuménico; incompatibilidade Capuleto-Montecchios… Um filme para descontrair enquanto se aguardam emoções fortes; um Romeu e Julieta latino através do qual Cuarón retrata um México putrefacto…

Haunter foi o filme que se seguiu. Natali apropria-se do célebre leitmotiv de Pedro e o Lobo de Prokofiev a fim de sintetizar um thriller que assenta numa premissa interessante: e se, após morrer, o ser humano ficasse aprisionado ao seu último dia de vida e descobrisse este loop eterno a que estava preso? Lisa (Abigail Breslin) “acorda” e começa a investigar até perceber que foi assassinada, juntamente com a família, pelo espírito de um serial killer.

Uma menção para as duas curtas que antecederam Haunter: Blind Date, de Cláudia Clemente e Anger of the Dead, de Francesco Picone. A primeira, baseada numa ideia ironicamente original, resume a realização ao “estilo” Edgar Pêra (que desnecessariamente assina a montagem); A segunda, mais uma incursão ao mundo pós-apocalíptico zombie e uma tentativa de surpreender no manejar da câmara.