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Cultura

Oficina Cobalto recebe a distopia da paisagem

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A Oficina Cobalto surgiu no início de 2020, situa-se na Rua de São Brás, no Porto, e tem-se assumido como uma casa segura e espaço de experimentação para a criação livre de artistas emergentes. Ana Pinho é fundadora deste “spot” cheio de vida – que funciona como espaço de co-work para artistas dos mais diversos meios e com as mais variadas aspirações – e não se deixa intimidar pela pequenez. Há espaço para tudo: zona de exposição, salas para produção artística, divisões para aulas e workshops e um jardim exterior capaz de servir tanto como zona de lazer como de palco para atividades, instalações e performances.

Este sábado, dia 3, inaugurou-se a primeira parte de “LANDSCAPES: Ciclos da Paisagem”, uma exposição coletiva assinada por Henrik Ferrara, Simão Collares, Francisca Dores, Teresa Zagalo, Filipe Tootil e a própria Ana Pinho. Os artistas atreveram-se corajosamente a olhar para a paisagem como uma realidade estranha e distópica e, agora, em conjunto, expõe o resultado desta reflexão e manipulação.

São peças e imagens palpáveis, sóbrias mas intensas, com um percurso tão vivo como a própria paisagem em que se inspiraram. 

No jardim exterior da Oficina, aconteceu a performance “Rito: Acordar a Montanha”, uma criação do Coletivo Lick Sick Dick. Interpretado por Simão Collares e com Miguel Serrão Pereira no som, esta foi uma das mais bonitas homenagens feitas a uma cenografia e a performance mais “companhia” que se podia pedir neste início de verão pandémico, onde todos temos saudades de “só estar”.

Rita Cruz e Inês Sarmento, cenógrafas, em conjunto com Beatriz Veríssimo, figurinista, idealizaram uma estrutura esbranquiçada, com relevos, para a qual o espectador simplesmente olhava. Ou não. Podia preferir só ouvir os sinos, os risos, os cânticos, os beijos, as palavras inventadas e estrangeiras que iam sendo pronunciadas atrás desse telão, por não se sabia quem. Podia apenas preferir apreciar o estar num jardim, com sol, com amigos e conhecidos, enquanto ia sendo surpreendido por uma linguagem sonora louca e micro-detalhes que iam sendo alterados na parede – que aos poucos, quando menos esperávamos, ia perdendo o branco e ganhando buracos.

Fotografia: Daniel Teixeira

“Rito: Acordar a Montanha” foi tão louco quanto transcendente, tão arriscado quanto saudável, e conseguiu balançar o relaxamento de estar a admirar uma paisagem e a frustração de estar à espera que um ovo acabe de cozer. Lick Sick Dick vêm elevar a fasquia da performance, improvisar sem pudor, provar que a espera tem humor e que a atenção é uma grande virtude. No fim: o ovo parte, o tronco estala, a parede quebra e de lá sai a criatura que todos criamos a expectativa de conhecer. Há um ano e meio que não havia, artisticamente falando, interação com o público. Mas até isso Simão Collares veio matar as saudades.


“LANDSCAPES: Ciclos da Paisagem” inaugurou cheia de força e loucura esta primeira parte da exposição, que continua até 23 de Julho. A casa é pequenina, mas cabem lá todas as ideias do mundo – cabem mesmo.

Artigo da autoria de Inês Sincero

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