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Cultura

PDC: JAMES BLAKE FECHA FESTIVAL COM ELETRÓNICA SARAPINTADA DE SOUL

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James Blake viria a atuar sob um céu estrelado, mas primeiro foi a vez de Sequin, princesa da beat dos anos 80, que subiu ao palco secundário às 18:00. A cantora é na verdade Ana Miró, que apesar de sempre de mãos dadas ao sintetizador, não deixou de dançar, olhar e sorrir para o público que se ia aproximando.

A música de Sequin (que, em português, significa lantejoula) fez juz ao nome da artista: os ritmos dos anos 80 soaram e a cantora ainda não terminara “Beijing” quando os Sensible Soccers subiram ao palco principal, para onde um rapaz de boxers coloridos veio da backstage dançar. O quarteto português trouxe aos palcos o seu disco “8”, que saiu no início deste ano, e encheu a atmosfera solarenga do recinto com o seu psicadelismo.

No palco secundário, The Dodos, duo californiano que já lançou cinco álbuns, enfrentou um público algo disperso, mas entusiasmado. Os jogos de ritmo da bateria de Logan Kroeber e a voz de Meric Long trouxeram animação, mas também quietude e, do último álbum, “Carrier”, ouviu-se, por exemplo, “Substance” e “Confidence“.

A seguir à banda californiana, quando a escuridão já se aproximava, subiu ao mesmo palco Hamilton Leithauser, ex-vocalista de The Walkmen, que apresentou o seu projeto a solo, o álbum de junho deste ano, “Black Hours”. O público que já havia adensado grandemente em frente ao palco secundário, desfrutou de músicas como “Alexandra“.

Kurt Vile & The Violators, que atuaram no palco principal após Sensible Soccers, contaram com um público algo anestesiado, que assim permaneceu até que Beirut chegassem. Kurt Vile, com o seu icónico cabelo comprido em frente aos olhos, acompanhado da sua banda The Violators, deixou o recinto confortável no abraço do seu indie folk lo-fi.

Uma hora e meia depois, The Growlers subiriam ao palco e tentariam também lutar contra o entorpecimento das pernas que levava a maioria do público a permanecer sentada. Conhecidos pelas atuações extravagantes, a banda convidou ao palco membros da plateia e enquanto percorriam canções do mais recente álbum, como “Naked Kids” e “One Million Lovers“, mas também antigas como “Hiding Under Covers“,  gritavam “Yeah!” e pediam à plateia para fazer a onda.

Goat subiram entretanto ao palco secundário: a banda sueca diz basear a sua música na sua vila de origem, Korpilombolo, onde alegadamente havia um grande historial de voodoo. Goat são uma experiência única, mais do que apenas uma atuação musical, deram um espetáculo extremamente visual, com máscaras que lembravam índios e coreografias parecidas à dança da chuva. “Estes são muito tribais!”, disse-se no público.

Finalmente, às 23:15, Beirut, aguardada banda do dia de ontem, subiram ao palco.  No seu indie folk de trompetes, ukuleles e trombones, a banda, que já não lança um álbum desde 2011, trouxe um espetáculo de celebração dos três discos que compõem a sua discografia. O projeto de Zach Condon fez a multidão que preenchia todo o relvado sorrir e recuperou, como não podia deixar de ser, “A Sunday Smile“, “Elephant Gun” e “Nantes“. A banda americana, que já conta com 8 anos de carreira, deu um espetáculo envolvente e precedeu o que seria o concerto da noite.

O último concerto surgiu à 1:00, no palco principal, pela profunda voz de James Blake. O cantor de 25 anos entregou-se a um concerto intimista e surpreendentemente próximo de todos os que punham os olhos no rapaz maravilha da eletrónica: “Daqui consigo ver cada um de vocês!”. Blake, acompanhado de baterista e guitarrista, conseguiu reunir a atenção da multidão, que então se erguia bem de pé para assistir àquele último concerto. Numa noite de frio cerrado e cansaço acumulado, o recinto pôs os olhos em Blake que banhou o festival com uma eletrónica às vezes melancólica, às vezes com pitada de soul. A setlist contou com “Limit to Your Love“, “The Wilhelm Scream“,”To The Last” e “Retrograde“. O cantor rendeu-se a uma performance emocionada, alternando entre as batidas que faziam os corpos abanar e a melancolia de uma voz que apenas acompanhava um piano. O britânico fechou o palco principal por volta das 2:30 sobre um céu estrelado frio mas brilhante. Um pouco mais tarde, Blake participou no DJ set juntamente com Dan Foat, Airhead e Mr.Assister, que em conjunto são 1-800 Dinosaur.

O festival Paredes de Coura terminou assim este ano numa edição de muito sucesso. Pela primeira vez na história do festival, esgotou-se a lotação do recinto no último dia, com 28 mil pessoas a comparecerem, e mais de cem mil pessoas a pisarem o solo do festival da praia fluvial do Taboão na totalidade dos dias. As tendas floriram com o sol de Agosto e deixaram claro que a edição do próximo ano contará igualmente com uma grande multidão de festivaleiros para mergulhar no frio do Coura e no calor da música de Coura. A edição de 2014 foi marcada por uma multiplicidade de estilos – percorreu o rock, a eletrónica, os blues, o punk, a música portuguesa e estrangeira – e provou que o Paredes é de todos e para todos. E se faltar alguma coisa, pede-se ao vizinho. Porque, no Paredes, toda a gente ajuda e toda a gente sorri.