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Cultura

Né Barros apresenta “Distante”: Uma Nova Forma de Pensar a Técnica

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“Distante” é o último espetáculo da peça “Paisagens, Máquinas e Animais”, um ciclo com três espetáculos autónomos com foco em três dimensões, nas quais o corpo se explora e se expõe nas diferentes possibilidades que se criam em cada variável. Segundo a coreógrafa, com a qual tivemos a oportunidade de conversar, nesta peça final “há um enfoque na ideia de um corpo-máquina” (máquina como conceito de técnica e tecnológico), apesar de ser também atravessada pelas outras dimensões.

A dicotomia corpo-máquina é expressa pelos quatro intérpretes, Afonso Cunha, Beatriz Valentim, Bruno Senune e Vivien Ingrams, que aparecem em palco como verdadeiros lutadores de esgrima. A técnica da esgrima, que os bailarinos tiveram de aprender ao longo deste processo criativo, acaba por contaminar toda a sua movimentação, resultando naquilo que Né Barros descreve como “um jogo mais abstrato”.  

 

O uso desta forma ancestral de luta tornou-se, então, no interveniente da mensagem ética desta peça, por ser uma forma de combate que evoluiu e se libertou da sua carga violenta, como nos foi explicado pela autora. É neste salto evolutivo da esgrima, que deixou de ser luta e se transformou num jogo onde há total respeito pelo outro, que se manifesta a possibilidade de usar a técnica para chegar a um fim positivo, neste caso, “de algo que vem de uma certa carnificina, para algo de uma alta sofisticação”

Esta criação surge assim na série “Paisagens, Máquinas e Animais”, que a coreógrafa diz ser como um resultado das pesquisas dos seus trabalhos anteriores, como uma peça em que se brinca com as distâncias entre o que sou e o que faço, e entre o que algo é na sua origem, e no que tem a capacidade de se tornar. Este olhar inovador sobre a técnica, como “algo que nos permite alguma distância para podermos utilizá-la e fazer uma outra coisa”, é, no fundo, a essência desta terceira peça. 

Né Barros completa, desta forma, mais uma obra no seu já longo leque artístico, demarcado pela sua formação no mundo académico e pela sua ousadia em explorar o “diferente” no mundo da dança. “Distante” prova, mais uma vez, a originalidade e transdisciplinaridade dos seus trabalhos, brincando com os paradoxos e passando uma mensagem da necessidade de se humanizar a máquina.  

Artigo escrito por Luísa Garcia

Multimédia por Bárbara Pedrosa (vídeo) e Inês Aires (fotografia)