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Cultura

Primavera Sound Porto 2023: chuva não afogou os ânimos no primeiro dia do festival

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O novo e maior recinto do Primavera Sound abriu as portas, pelas 16 horas de ontem (07/06), para receber as milhares de pessoas, ansiosas por ver a maior atração da noite: Kendrick Lamar. Apesar de uma boa diversidade de nomes, ainda que reduzida para o primeiro dia do festival, era clara a preferência pelo espetáculo do rapper norte-americano.

O artista de Compton, na Califórnia, vencedor de 17 prémios Grammy e criador dos álbuns Overly Dedicated, Section.80, Good Kid, M.A.A.D City, To Pimp a Butterfly, DAMN e, ainda, do mais recente Mr. Morale & The Big Steppers subiria ao palco pouco depois da meia-noite, debaixo de uma chuva pesada mas que não serviu para deitar abaixo os ânimos dos fãs que se juntaram para assistir.

Antes, passou Baby Keem pelo palco principal, o palco Porto. Keem, de 22 anos, é considerado uma das nova revelações do hip-hop – em 2020, foi incluído na lista da “Freshman Class” da Revista “XXL”. Cantou algum dos seus maiores êxitos, tais como “lost souls”, “ORANGE SODA” ou “HONEST”. Mais tarde, durante o espetáculo do primo, Kendrick Lamar, regressou ao palco para interpretar, em conjunto, “family ties” do álbum de Keem, The Melodic Blues. Apesar da sua recente carreira, Keem conseguiu agarrar e aguentar o público, o que foi uma proeza, tendo em conta que a chuva já estava a começar a aparecer.

Pelo Palco Porto, passou ainda Alison Goldfrapp, mais conhecida como parte integrante do duo “Goldfrapp”. Para além das músicas a solo, cantou “Ooh La La”, tema de 2007, gravado em dueto. No Palco Vodafone, encarregaram-se do final do dia as britânicas Holly Humberstone, Georgia e Beatriz Pessoa. As três foram uma forte presença feminina e poucas pessoas arredaram pé. Os aplausos e as vibrações que se sentiram avizinham bons tempos para as três artistas em ascensão.

Humberstone, que começou a carreira em 2019, no Festival de Glastonbury, terminou o set com “Scarlett”, que tem 25 milhões de reproduções no Spotify. Tem contrato com a Interscope Records e um álbum editado (Can You Afford to Lose Me). Já Georgia, que iniciou o seu percurso como baterista de Kwes e Kae Tempest, é filha do co-fundador do duo britânico e electrónico dos anos 90, “Leftfield” e já lançou dois álbuns marcados pelo synthpop. Beatriz Pessoa apresentou “Prazer Prazer” de 2023, produzido por Marcelo Camelo. Sendo um álbum influenciado por MPB e com laivos de “Tropicália”, Beatriz cantou ainda uma versão de “Lança Perfume” de Rita Lee.

O céu tornou-se mais escuro e foi hora do Palco Vodafone vibrar com The Comet Is Coming e twoshell. Foi um mix de jazz, dancemusic e música eletrónica, que trouxe ritmos mais frenéticos e muito bem-vindos aos jardins do Parque da Cidade.

Fotografia: Inês Aires

The Comet is Coming Primeiro dia do festival Primavera Sound Porto 23 Fotografia: Inês Aires

Quem encerrou o palco principal do dia 7 de junho, foi, evidentemente, Kendrick Lamar. Quando pisou o palco do Primavera Sound Porto pela primeira vez, em 2014, ainda não tinha lançado os álbuns que o catapultaram para a ribalta mas já contava com uma sólida base de fãs. Nove anos depois, voltaram muitos dos que já estavam presentes na altura, desta vez acompanhados por um maior número de aficionados pelo hip-hop de um dos maiores nomes da música internacional.

Nem a forte chuva que caía demoveu os mais fervorosos de acompanharem o artista, que revisitou a sua carreira ao longo do concerto. Passando praticamente por todos os álbuns, Kendrick deu ainda primazia ao seu trabalho mais recente, “Mr. Morales & The Big Steppers”, um dos seus discos mais pessoais. É o seu trabalho mais confessional e toca em vários temas íntimos, tais como a sua infância, religião, racismo, violência, quebra de padrões e a forma como encara relações, para além da se fazer acompanhar sempre pela sua visão crítica do mundo e com referências políticas.

“N95”, referência evidente às máscaras com o mesmo nome e “Savior” foram o ponto de partida e chegada de uma experiência sonora, mas também visual. A mais de hora e meia de espetáculo foi transmitida por vários ecrãs espalhados pela zona próxima do palco, permitindo que até aqueles que tentavam abrigar-se da chuva, conseguissem aproveitar a noite.

Kendrick estava introspectivo, como já é costume, interagindo esporadicamente com o público – agradeceu o apoio e lealdade, referindo a forte chuva e pediu várias vezes para a audiência o acompanhar. Concentrou-se, sobretudo, na sua setlist, sem grandes distrações.  Em particular, em “Bitch, Don’t Kill My Vibe”, “Money Trees”, “Humble” ou “DNA”, assim como em “Loyalty”, o público cantava muito e alto, usando de todas as suas energias e dedicação, ouvindo-se por todo o recinto.“Alright”, tema de To Pimp a Butterfly, de 2015 e um dos hinos do movimento Black Lives Matter era, talvez, o mais esperado da noite. 

Afinal, independentemente do que aconteça, com chuva ou sol, “we gon’be alright”. E se Kendrick o diz, para quê contradizer um artista que arrasta multidões sob uma tempestade.

Mesmo com chuva e com um cartaz reduzido, comparativamente aos dias que se seguem, o Primavera Sound Porto 2022 arranca a temporada de festivais de verão com bastante euforia. Nos próximos dias, nomes como Pet Shop Boys, Rosalía, Halsey, Blur e New Order visitam o Parque da Cidade e prometem unir vozes e gerações em torno dos palcos daquela que é a 10ª e maior edição do Primavera Sound.

Artigo escrito por Francisca Costa

Fotografia por Inês Aires