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Cultura

DEAD COMBO: UM BANDO DE SENHORES

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O palco do Rivoli vestiu-se ontem a rigor para receber a banda que comemorou há pouco os seus dez anos de carreira – Dead Combo. A celebração fez-se “à luz das velas” num cenário aconchegante em que caveiras e guitarras nasciam por entre flores vermelhas.

No centro do palco, voltados um para o outro e de cabeças mergulhadas na guitarra, os dois artistas abrem a noite com “Povo Que Cais Descalço” e com a música em que tentaram, sem sucesso, contar com a participação de Nick Cave – “Waiting for Nick at Rick’s Café”. Após a intensa introdução, a voz rouca e arrastada de Tó Trips ergue-se para agradecer e anunciar que este seria o último concerto do ano e acabaria “em grande”, incentivando as palmas e o carinho do público.

Num espaço que relembra um velho cabaré acolhedor, onde, através das guitarras e da simples melódica, se contam histórias de uma cidade burlesca e perversa, houve tempo para dedicatórias (uma muito especial à “Dona Emília”), memórias felizes em “Cachupa Man” e até humor – a enunciação do título “Sopas de Cavalo Cansado” como “algo de muito presente atualmente”.

Por entre intensos arpejos, dedilhados em que a guitarra chora e o pé de Trips bate intensamente no chão, surge um momento especialmente comovente. O duo desloca-se do centro teatral, e, de guitarras em punho e com apenas um holofote ligado, ouvem-se “Zoe Lhorando” e “Welcome Simone”, melodias estas dedicadas aos filhos de ambos, cuja irreverência dificulta a crença de “pais de família”.

De volta ao centro, retomam o ritmo com a antiguinha “Pacheco”, batalha entre o piano e a guitarra, e “Mr. Snowden’s Dream”, em que o piano sobressai numa melancolia inquietante e brilhante.

Tudo muda quando Pedro pega no contrabaixo e entra Alexandre Frazão, que, através de magia na bateria explosiva, mantém um compasso contagiante ao qual ninguém se consegue manter indiferente. Daí até toda a “matilha” surgir em palco, pouco demora. De repente, aquele pequeno altar intimista e sinistro abre-se e arranja espaço para um saxofone, um trompete, um trombone e um piano se juntarem à festa. O que fora um cabaré acolhedor torna-se num autêntico clube de Jazz em Nova Orleães – “Waits” destaca-se da compilação tão bem executada.

Após um discurso emocionado de Pedro, que dizia ser “muito esquisito estar lá, ver a sala cheia”, prometem terminar com “A Bunch Of Meninos”, mas, quando o fim é anunciado, a plateia levanta-se e pede por mais. E eles dão. Voltam com “Malibu Fair”, sobre carrinhos de choque que “infelizmente já não existem em Lisboa”, com a festiva “Dos Rios” e a conhecida e atribulada “Lisboa Mulata”.

A humildade e entrega do duo e de toda a equipa por trás do mesmo preencheram aquela sala, quente de gente, que dificilmente esquecerá a dinâmica e o poder da música feita por um bando de senhores que representam parte daquilo que se faz de melhor em Portugal.

 

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