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Cultura

A SUGGIA LEVANTOU-SE POR TRICKY

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Faltava meia-hora para o concerto e já a fila para a sala principal da Casa da Música se adensava. Na bilheteira, anunciava-se “Bilhetes esgotados” para Tricky, bem como para todos os concertos pagos da noite. A Casa da Música estava a rebentar pelas costuras.

O mesmo se poderia dizer da própria sala Suggia que, pouco depois da meia-noite, tinha já todos os lugares sentados ocupados e as escadarias laterais cheíssimas.

Não foi preciso esperar muito para que as luzes se apagassem e o palco se enchesse de fumo. Foi neste ambiente, com o seu quê de sinistro, que a banda de Tricky abriu o concerto com o habitual instrumental “You Don’t Wanna”. Após a longa abertura, seguiu-se o cover da “Do You Love Me Now”, dos The Breeders. Ouviram-se fortes aplausos a um registo tão distinto do trabalho em estúdio de Tricky. A bela “Overcome” seguir-se-ia se, a meio dos vocais da cantora de apoio, a música não tivesse sido cortada subitamente.

Como se nada tivesse ocorrido, a banda seguiu para um novo cover: “I Wanna Be Your Dog”, original dos The Stooges. “Nothing’s Changed” foi a faixa seguinte, mas tão desfigurada, repleta de riffs pesados e repetitivos, distorção e um baixo (demasiado) intenso, que nem parecia uma das principais músicas do reconhecido “False Idols”.

Chega, finalmente, “Palestine Girl”, em que Tricky torna-se parte central do espetáculo – até lá, parecia que a cantora secundária era a atração principal. Novamente, a faixa tocada em nada se compara à do álbum, muito mais extensa e noisy, como uma versão alternativa à sua própria música. Parte do público aplaude intensamente e parte do público abandona a sala.

Faixas como “Puppy Toy” e “Why Don’t You” seguiram-se e, aquando a chegada de “Really Real”, o público empatiza com a energética dança de Tricky em palco e levanta-se. Ao longe, via-se o headbanging homogéneo da sala em pé. Após este apogeu, a banda abandona o palco, para voltar largos minutos a seguir. “Gangster Chronicle” e “Lonnie Listen” fizeram parte do encore.

Na realidade, a fama de Tricky ao vivo não é, de todo, uniforme – diz-se que o artista é capaz do seu pior e do seu melhor ao vivo. E, desta vez, não estando no seu pior, ofereceu uma prestação inconsistente, aluado, por vezes, e descontrolado noutras, dando à banda as rédeas de um concerto em nome próprio. Mas ainda que o trip-hop tenha fugido por entre os riffs exaustivos, ainda que a corista K Bleax tenha feito a maior parte do trabalho e ainda que do novo álbum só se tivessem ouvido “versões”, o público estava, indubitavelmente, em êxtase com a simples presença daquele que é, por muitos, considerado um génio.

Com Tricky é mesmo assim: o melhor é esperar o inesperado.

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