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Cultura

PÂNTANO, O LIBERTAR DO DESCONFORTO

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Pântano terminou ontem a sua breve estadia no Teatro Carlos Alberto (TECA), não deixando indiferentes aqueles que assistiram. A peça esteve em exibição de 9 a 11 de Abril.

Com uma apresentação que agrada a poucos pela falta de diálogo, a peça priorizou os sentidos e a percepção do espectador. O silêncio fez-se sagrado diante da desenvoltura dos corpos e da fragilidade humana exposta e em foco.

Todo o sentimentalismo mostrou-se vivo e da forma mais feroz e selvagem que se possa imaginar. O homem nu que se encontrava nos conflitos internos dos seus desejos e anseios; a jovem dançarina que tanto dançava quanto se despia em prazer enquanto o seu corpo balançava.

«Há um palhaço louco que espera por si próprio. Há uma mulher magra que finge a dança que foi clássica, lugar. Há o homem nu perdido.»

                           (“Uma carta para este lugar sombrio”, Miguel Moreira)      

Francisco Camacho, Catarina Félix e Romeu Runa dão vida a essas personagens, que se movem pelo palco e pela plateia como se este fosse o seu pequeno mundo. A sua dança perturba tanto que chega ao ponto de nos ferir. O corpo é desconstruído pelo movimento, o corpo torce-se, roça o chão, agita-se.

A zona de conflito atenuou-se e o clímax da cena deu-se quando todos os personagens se confundiam entre amor, ódio, solidão e dor. As luzes utilizadas foram esclarecedoras nos seus tons quentes e frios. Cada sentimento na sua essência era representado por um holofote da cor que lhe dava mais ênfase.

Enfático e preciso, Rui Bentes, do Projeto Shhh, cuidou de toda a faixa sonora, produzida ao vivo. Terror e até agonias foram expressas através de graves notas de contrabaixo e piano. Era o convite para mergulhar em situações selvagens que, quando analisadas com afinco, lembram as rotinas habituais.

A peça assume-se como uma finalização do ciclo iniciado por The Old King (2011), daí a libertação total de sentimentos, a mistura dos mesmos, o soltar do corpo confinado em si mesmo para algo maior, mais livre.

Pântano pode não agradar a todos quer pela exaltação do silêncio quer pela complexidade dos movimentos, mas é, sem margem para dúvidas, a afirmação do movimento enquanto algo maior que um simples gesto, algo desconfortavelmente libertador.

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