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Cultura

A CHUVA QUE SE ESQUECEU EM FUZZ E SE RELEMBROU EM LYKKE LI

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O último dia de Paredes amanheceu mais tarde, devido ao céu enublado e à permanente ameaça de precipitação. As tendas, fechadas até ao meio-dia, escorriam a chuva da noite e as margens do rio não contavam nem com metade dos habitantes habituais.

Talvez tenha sido mesmo a mudança meteorológica a razão pela qual, por volta das 18h00, havia já fila para entrar no recinto. Passado meia hora, já a Banda do Mar atuava perante uma multidão nunca antes vista àquela hora, ultrapassando claramente a multidão de X-Wife. “Hey Nana” despoletou uma série de aplausos, “Mais Ninguém” foi cantada em uníssono e “Velha e Louca” mexeu muitos pés e ancas. Mallu e Marcelo sorriam compulsivamente ao apelo do público e, ao anunciarem que este seria o último concerto da tour, não pouparam elogios. “Que lindos, vocês. Muito obrigada pelo carinho”, disseram.

Perto do fim do concerto cantado a português do Brasil, Natalie Prass estreou-se em solo lusitano. A artista, extrovertida e bem-humorada, apresentou o seu primeiro álbum lançado a Janeiro deste ano e coproduzido por Matthew E. White. Foi com “Your Fool” que abriu e em poucos minutos já incentivava os aplausos de um recinto cheio. No meio de muita brincadeira e alguma improvisação a acompanhar, apelou as pessoas a aproximarem-se em “Why Don’t You Believe In Me” e, após a atuação, questionou se “alguém teve sorte”, rindo-se. Ainda antes do final, fez sucesso com “My Baby Don’t Understand Me” e expressou o desejo de ver Sylvan Esso.

E foi às 20h30 que o duo americano de pop eletrónico surgiu em palco. Com apenas um computador e um sintetizador em palco, contagiaram os presentes com a energia transpirada na apresentação do álbum homónimo de estreia e algumas músicas novas. “Could I Be” revelou de imediato os movimentos sensuais e afirmativos de Amelia Meath bem como a envolvência de Nick Sanborn. E a plateia reagiu e explodiu em clamores. Ao revelar que era a primeira vez que visitavam Portugal, mostraram-se abismados com a entusiasta receção da audiência, que se estendia para além dos limites do palco secundário.

Perto do fim de Sylvan Esso, já se amontoava gente no palco principal que ansiava a aparição de Temples. A banda de indie rock com um cheirinho de psicadélico abriu com a faixa homónima do seu último álbum, “Sun Structures”, mas, apesar da excitação permanente, foi só com “Ankh” e “Keep in the Dark” que se levantou pó do chão devido à maratona de salto sincronizado que se realizou nas filas mais próximas do palco. “Henry’s Cake”, a nova música que apresentaram, obteve uma boa reação da plateia e manteve o revivalismo óbvio de bandas como The Beatles ou Beach Boys.

O início de Fuzz deslocou um mar de gente até ao palco secundário. Os riffs pesados do power trio que anda em tour para apresentar o segundo álbum – II – levaram a plateia, cheia de potência, a realizar o maior moche do festival, que se prolongou até à cabine de som. Voaram camisolas, sapatos, cervejas e pessoas à mesma pulsação da bateria de Ty Segall que, de cara pintada como os mesmos padrões que um panda, pautava o compasso de faixas como “Fuzz’s Fourth Dream” e “Hazemaze”. No entanto, apesar da nítida presença de fãs que voavam por entre a plateia, mas que também sabiam entoar todos os riffs tocados, destacavam-se elementos que tinham o moche e a libertação de energia através do violento contacto físico como objetivos essenciais, o que despoletou frustração nuns e provocou o abandono do palco de outros.

Eram 23h30 quando a cantora sueca Lykke Li surgiu em palco, com o retorno da chuva. A abertura fez-se ao som de “I Never Learn”, com a banda vestida a negro e um espetáculo de luzes belo e minimalista. No interregno de faixas, a cantora exibiu o seu português surpreendentemente afinado. “Isto é como um sonho”, disse antes de iniciar a faixa “Just Like a Dream”. No entanto, não foi a única surpresa da noite: na setlist, além de faixas do novo álbum e êxitos antigos, comparecia uma versão (muito bem conseguida) da música “Hold On, We’re Going Home”, de Drake. Tanto a meteorologia, como espetáculo de luminotecnia, a voz fragilizada da cantora e a sonoridade melancólica do instrumental contribuíram para que o concerto fosse bem-sucedido, apesar da disforia da plateia mais afastada do palco.

O fecho oficial dos concertos desta edição do Vodafone Paredes de Coura, realizar-se-ia à 01h00, com Ratatat como protagonistas. Já sem chuva, o duo de Brooklyn especializado em indietronica, aqueceu os pés do público. Com imagens e um intenso jogo de luzes a acompanhar os loops de guitarra e as batidas dançáveis, não foi necessário que a banda interagisse muito para que a audiência se deixasse convencer por faixas como “Wildcat” e “Nostrand”. O palco principal encerrou definitivamente com um solo de percussão dos dois artistas que, apesar do chamamento, não voltaram para encore.

The Soft Moon e Sascha Funk prolongaram, ainda, a estadia no recinto dos que quiseram festejar até à última.

Terminou assim a mais concorrida edição do festival, que mobilizou 25.000 pessoas por dia e esgotou todos os bilhetes (gerais e diários). As datas da 24ª edição do Vodafone Paredes de Coura estão agendadas para os dias 17, 18, 19 e 20 de Agosto.

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