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Editorial

Como estudantes universitários, merecíamos mais

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O sacudir das responsabilidades do futuro (por parte dos responsáveis pelo presente) para os jovens adultos tem vindo a tornar-se uma espécie de tradição. Provavelmente porque as dificuldades vindouras, quer do ponto de vista ambiental, quer dos pontos de vista económico e social serão megalómanas. E claro está, só uma geração nos seus vinte e poucos anos que já viveu duas grandes crises económicas, uma pandemia mundial e ouve constantemente “a salvação da Terra é inevitável” parece ter a resiliência necessária para tal heróica tarefa.

De qualquer forma, a verdade é que os mesmos que responsabilizam os jovens pela correção de erros de várias gerações, fizeram o seu papel (e ter-se-á de lhes tirar o chapéu por isso) de conseguir conceder aos próximos adultos deste país uma educação mais robusta e a possibilidade de enveredar mais facilmente e com mais condições no ensino superior. Nos últimos dois anos, em Portugal, atingiram-se os números mais elevados de candidatos ao Ensino Superior dos últimos trinta e tal facto é notável.

Tão notável, mas por razões contrárias, são os recentes casos inexplicáveis de conduta lamentável por parte de docentes em diversas instituições de ensino, perante a tal geração promissora cujos pais lutam para criar.  Vejamos, por exemplo, o caso do professor de Bioética e Deontologia Médica do ICBAS, no Porto, que afirmou que os homossexuais não deveriam dar sangue pois podiam transmitir às gerações futuras um gene indutor da homossexualidade. Ainda que o professor catedrático tenha vindo a pedir desculpas, quão válidas serão estas, tendo em conta a aberrante afronta manifestação de discriminação sem qualquer ponta de suporte científico?

Ainda assim, não se torna, infelizmente e incompreensivelmente, o único caso recente destes. Lembremo-nos, em primeiro lugar, do caso da suspensão do professor da Faculdade de Economia que, no início deste ano, manifestou atitudes de incitação ao ódio, de assédio e de discriminação em pleno ambiente de aula. Um professor que havia sido sancionado anteriormente, mas que, sem explicação, continuou a dar aulas. Também na Faculdade de Direito, um professor recusou entregar um enunciado de exame a uma aluna, por esta estar “muito destapada”. Em Lisboa, na Faculdade de Direito, em outubro do ano passado, um professor foi suspenso depois de comparar o feminismo ao nazismo e de incluir nos mestrados lecionados por si ideias que consideram a “violência doméstica como disciplina doméstica”.

Torna-se imperdoável em pleno século XXI, no espaço de um ano, haver três casos tão gritantes de desrespeito pelos alunos, pela comunidade académica e pela sociedade por parte de indivíduos cuja missão deveria passar por educar e preparar os jovens para o futuro.

Tratando-se de instituições públicas, temos ainda o acréscimo do Estado financiar (e ainda bem) estas instituições de ensino, o que faz com que algum fluxo monetário dos contribuintes – muitos deles, pais dos estudantes que estavam nas salas de aula nos casos mencionados – seja direcionado para pagar o ordenado a professores que passam mensagens racistas, misóginas, homofóbicas e discriminatórias de qualquer índole. Enquanto jovens adultos, enquanto “futuro do país” e enquanto estudantes que usufruem das ferramentas que o Ensino Superior nos fornece, merecíamos mais.