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Educação

Estudante da FMUP vence Prémio Daniel Serrão 2022

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A média de 18,125 valores do Mestrado Integrado em Medicina, fez com que o estudante da Universidade do Porto (UP) alcançasse o primeiro lugar da edição deste ano do Prémio Daniel Serrão. A premiação é da responsabilidade da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM) e premeia o estudante com a melhor média de Medicina das três escolas médicas do norte de Portugal: Escola de Medicina da Universidade do Minho (EMed), Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Em conversa com o JUP, João Fernandes Silva conta não só sobre o empenho e dedicação que coloca no trabalho, mas também sobre as motivações e balanços pessoais que resultaram na respetiva distinção como académico.

Apesar do teu recente sucesso na academia do Porto, as tuas origens são bastante distantes da cidade e inclusive do próprio continente. Assim sendo, como é que descreverias o teu percurso geral até aqui?

Eu nasci em Santana, um concelho do norte da Madeira, conhecido pelas casinhas de palha que as pessoas vêm muito nos postais. Estive aí [em Santana] até aos 17 anos, ou seja, foi aí que fiz o meu ensino primário e depois o secundário. Vim aos 17 anos para o Porto, para a FMUP fazer o curso de Medicina que acabei no ano passado. Entretanto, fiz a prova de acesso à especialidade, a prova nacional de acesso, e este ano comecei a trabalhar no Hospital de São João, no Porto como interno de formação geral. Portanto, é aí que eu estou no meio do meu percurso todo.

Atentando ao teu processo de adaptação, quais foram os pontos positivos e as dificuldade surgidas durante esse período de transição? 

Quando estava na Madeira sempre tive a ambição de vir estudar para o continente. Sempre foi uma coisa que me mentalizei muito e que queria muito. Portanto, depois, quando prossegui efetivamente também tive aquela frieza de pensar: “Ok, tu quiseste isto, portanto agora também tens de arcar com as consequências disto”, e no meu processo de adaptação e nos momentos menos bons foi sempre esse o mindset que me guiou. No início, foi um bocadinho difícil estar longe da família e dos amigos, principalmente da família, porque sou muito próximo dos meus pais. Na altura também tinha a minha avó de quem era muito próximo e, então, passei de estar todos os dias com eles para passar a vê-los de 3 em 3 meses ou quando fosse lá. Essa foi a principal dificuldade. Só que, lá está, estava sempre com aquele mindset por detrás, de que foi este o percurso que eu escolhi.

Assim, em termos mais práticos, aqui [no Porto] não tive muita dificuldade em encontrar pessoas de quem me fui aproximando, acho que nisso até tive muita sorte na faculdade. Logo no início, na minha turma, nós demo-nos todos muito bem e temos um grupo de amigos muito coeso que até hoje se mantém. Também vim para o Porto com a minha namorada que me apoiou muito e que foi um grande pilar ao longo do curso, e ainda é hoje.

“Pretendo ficar cá em Portugal, porque apesar de tudo é o meu país, um país que gosto bastante e é um país que eu acho que ainda me consegue dar o que eu ambiciono, apesar de todos os defeitos que tem, é verdade.”

De facto, demonstraste uma prestação académica notável logo no teu primeiro ano, durante o qual foste distinguido com o Prémio Incentivo e mais recentemente, com o Prémio Daniel Serrão. Durante todos estes anos de formação, como é que conseguiste gerir os teus estudos e a tua vida pessoal e, ao mesmo tempo, manter um notável desempenho académico?   

É sempre preciso manter um equilíbrio. Não posso falar pelos outros [cursos] porque não experienciei, mas pelo menos o curso de medicina que eu conheço exige uma dedicação muito grande e exige muito trabalho por detrás para conseguir ter resultados. Portanto sempre houve esse mindset, já sabia para onde ia no sentido que ia ter muito trabalho, só que é sempre preciso saber conciliar com o resto da vida pessoal. Claro que a vida não pode ser só trabalho, ou neste caso, só estudo, porque depois também acaba por ser contraproducente, ou seja, quanto mais se estuda em certas ocasiões há um limite que nós atingimos que depois o estudo deixa de ser produtivo e é preciso fazer outras coisas para o estudo render mais. Acho que sempre fui um bocadinho por aí.

Em relação ao Prémio Incentivo, sim, foi um reconhecimento do primeiro ano, só que eu acho que na altura o fim do curso ainda parecia uma coisa muito distante, ou seja, não ambicionava ter um novo reconhecimento no fim do curso ou algo que se parece-se. Acho que fui construindo o caminho, no dia a dia e sempre com um bocadinho de desejo em fazer as coisas bem, e acho que este reconhecimento [Prémio Daniel Serrão] foi o produto de vários momentos mais pequenos.

O que é que estas distinções significam para ti? Uma prova do teu trabalho ou talvez até um objetivo alcançado? 

Objetivo alcançado não diria. Lá está, eu acho que é mais um reconhecimento do meu trabalho, mas é um trabalho que não existiu com este fim. Existiu porque eu sempre tive o desejo de fazer as coisas bem e de ter algum brio para depois também ser um bom profissional, no futuro, e conseguir responder aos desafios que me forem apresentados. Eu acho que isso foi mais um acrescento e um reconhecimento desse trabalho que houve para um fim maior. Claro que havendo esse reconhecimento, isso motiva-me para trabalha mais, só que não creio que seja esse o meu principal motivo ou a principal motivação. Acho que a principal motivação é mesmo fazer as coisas bem por um bem maior, para depois no futuro conseguir ser um bom profissional e ajudar as pessoas que precisam, acho que é mais por aí.

Mas claro que é sempre bom ver trabalho reconhecido, não só o meu, mas também o contributo de outras pessoas que foram importantes para o meu percurso. Por exemplo, os meus pais sempre me deram tudo o que eu precisei para fazer o que faço. É muito bom conseguir ter esse reconhecimento para depois também funcionar como reconhecimento para eles e deixá-los orgulhosos de certa forma, é a mesma coisa para os meus professores. Poder orgulha-los assim, deixa-me feliz. 

“Às vezes, no meio de tanta turbulência nós perdemo-nos um bocadinho e faz falta nós sentarmo-nos sozinhos e perguntarmos: “Ok, mas o que é que eu quero?”, porque nem sempre é claro.”

Atualmente, cumpres funções no Hospital de São João e a Medicina já é para ti uma profissão. Relativamente à tua futura carreira, qual é a visão que guardas sobre a mesma? Será que esta fica por Portugal? Quais são as tuas ambições como profissional de saúde? 

Eu agora estou a fazer no Hospital de São João o meu internato de formação geral, ou seja, o “ano comum” que nós fazemos depois de sair da faculdade, e no fim deste ano, em novembro, em princípio, hei de escolher a minha especialidade. Acho que o meu futuro, para já a curto/médio prazo, passa muito por aí. Vou escolher uma especialidade. Pretendo ficar cá em Portugal, porque apesar de tudo é o meu país, um país que gosto bastante e é um país que eu acho que ainda me consegue dar o que eu ambiciono, apesar de todos os defeitos que tem, é verdade. Em relação às ambições profissionais, primeiro vai passar pelo internato de formação específica. Ainda não a escolhi, mas estou a considerar áreas mais cirúrgicas. Acho que vai ser um desafio muito grande e vai exigir muita dedicação, mas estou recetivo aos desafios e ao que virá. 

Tens alguma recomendação para os estudantes que se preparam para percorrer os teus passos no início das suas carreiras académicas?

Isso é difícil porque eu não me sinto na posição de dar conselhos ou o que for, mas para os estudantes que ainda estão a escolher o curso ou a instituição de ensino superior, eu acho que nessa fase, que é determinante, é muito importante que cada um, em primeiro lugar, conheça-se a si próprio e, em segundo lugar, seja honesto consigo. Às vezes, no meio de tanta turbulência nós perdemo-nos um bocadinho e faz falta nós sentarmo-nos sozinhos e perguntarmos: “Ok, mas o que é que eu quero?”, porque nem sempre é claro e nem sempre fazemos esse exercício. Acho que é muito importante. Outra coisa que também é importante, é relembrar que as escolhas que nós fazemos não são definitivas, ou seja, em qualquer escolha que nós façamos, se virmos que essa é eventualmente o caminho errado podemos voltar atrás. Portanto, pensar assim ajuda a equilibrar um bocadinho as coisas.

Artigo escrito por: Vicente Oliveira Ribeiro

Editado por: João Múrias