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Ciência e Saúde

Eduarda Fernandes: “É importante destacar e celebrar as contribuições das mulheres na ciência e trabalhar para promover a igualdade de género”

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No âmbito da 4ª edição da distinção “Mulheres na Ciência”, apresentada pela Ciência Viva no dia 8 de março, o JUP esteve à conversa com a Professora Doutora Eduarda Fernandes. Farmacêutica de formação, alia à docência, a investigação na área da química farmacêutica, na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. O seu grupo de investigação trabalha no desenvolvimento e aplicação de metodologias para o estudo das propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e anti-diabéticas de compostos naturais e sintéticos.

Apaixonada pela área das Ciências Farmacêuticas, a sua motivação é poder contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com o trabalho que desenvolve. É autora de inúmeras publicações científicas, tendo grande impacto a nível internacional. Numa breve entrevista, Eduarda Fernandes fala do seu percurso e do que significa esta distinção.

O que significa para si esta distinção – “Mulher na Ciência”?

A distinção “Mulher na Ciência” é de grande importância para mim, pois reconhece o meu trabalho e dedicação na busca do conhecimento e na resolução de problemas complexos, e ainda o meu compromisso com a descoberta e inovação. Receber esta distinção faz-me sentir valorizada enquanto cientista e enquanto Mulher, motivando-me a continuar a trabalhar para alcançar os meus objetivos.

No entanto, é  importante salientar que a ciência é um trabalho de equipa. Não teria sido possível realizar as minhas pesquisas e alcançar estas realizações sem a colaboração e apoio dos meus estudantes e colegas. A distinção “Mulher na Ciência” não é apenas uma honra para mim, mas também para a minha equipa e todos os que me têm apoiado na minha jornada científica.

Durante a sua juventude, já sabia o que queria fazer no futuro?

Durante a minha juventude, embora não tivesse certeza do que queria fazer no futuro, sempre tive um forte interesse no estudo de determinadas áreas, tais como as ciências da saúde, incluindo as ciências farmacêuticas. Convivi durante muitos anos com um tio avô que era farmacêutico (Dr. Vasco da Gama Rodrigues) e o tema da saúde foi sempre muito discutido no seio familiar. Mas foi depois de ingressar no curso de Ciências Farmacêuticas na Universidade do Porto (FFUP) que comecei a ter mais certeza sobre o que queria para o meu futuro em termos profissionais.

Decidi seguir a minha paixão pela ciência e após terminar a licenciatura ingressei no curso de doutoramento em Química Farmacêutica da FFUP. Após concluir o doutoramento, descobri outra paixão: a docência. Sempre gostei de compartilhar os meus conhecimentos com outras pessoas e ajudá-las a entender melhor conceitos científicos complexos. Hoje, além de continuar a minha investigação na área da Química Farmacêutica e Medicinal, também dedico boa parte do meu tempo a ministrar aulas e orientar estudantes de vários graus académicos.

“Sempre gostei de compartilhar os meus conhecimentos com outras pessoas e ajudá-las a entender melhor conceitos científicos complexos.”

Ser mulher alguma vez teve algum impacto positivo ou negativo para si a nível profissional? Pode dar alguns exemplos?

Infelizmente, ainda existem desafios e preconceitos de género que afetam as mulheres em muitas áreas profissionais, inclusive na ciência. Já me deparei com a suposição de que, como mulher, eu poderia ter menos tempo para me dedicar ao trabalho, especialmente por atividades relacionadas com a maternidade. Desvantagens por ser mulher eu acho que estão mais relacionadas com um mundo que é ainda muito machista. Nós temos de provar mais que somos boas para conseguir às vezes chegar a determinados patamares.

Por outro lado, também já experimentei momentos em que ser mulher me deu uma vantagem. Por exemplo, em alguns projetos em equipa, fui capaz de trazer uma perspetiva diferente e inovadora que levou a soluções mais criativas e eficazes e pude estabelecer relações de confiança e colaboração mais próximas com colegas do sexo feminino, o que resultou numa dinâmica de equipa mais forte e produtiva. O trabalho deve ser avaliado com base no mérito e na capacidade, independentemente do género do profissional. As empresas e instituições devem trabalhar para criar um ambiente de trabalho equitativo e inclusivo para que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades de crescer e desenvolver o seu potencial.

“Nós temos de provar mais que somos boas para conseguir às vezes chegar a determinados patamares.”

Para além da carreira científica, porque escolheu ensinar e o que a motiva?

Durante o meu doutoramento, tive a oportunidade de ministrar algumas aulas e, nessa altura, descobri que realmente gostava de compartilhar os meus conhecimentos e ajudar os estudantes a aprender. O que me motiva hoje como professora é ver os meus estudantes desenvolverem-se e alcançarem os seus objetivos académicos e profissionais. Nós, professores, temos a capacidade de moldar a vida de algumas pessoas sem termos noção às vezes do poder que temos. Quando ensinamos, ajudamos a construir a base do conhecimento que os estudantes usarão na sua vida futura, seja na ciência ou em qualquer outra área.

Além disso, ensinar é uma atividade que também me ajuda a crescer e a aprender. É uma experiência enriquecedora, tanto para mim quanto para os meus estudantes. Em resumo, escolhi ensinar porque acredito que é uma forma verdadeiramente significativa de influenciar positivamente a vida de outras pessoas, o que me traz uma grande satisfação pessoal e profissional

“Nós professores, temos a capacidade de moldar a vida de algumas pessoas sem termos noção às vezes do poder que temos.”

Para além deste prémio, que outros podem destacar o seu percurso profissional?

Em termos académicos foram-me atribuídos, enquanto estudante da licenciatura em Ciências Farmacêuticas, dois prémios, dos quais destaco o seguinte: Prémio Engenheiro António de Almeida, destinado ao estudante com melhor média do curso de Ciências Farmacêuticas, do ano letivo 1990/91.

Durante a minha atividade profissional foram-me atribuídos dois prémios referentes a artigos científicos publicados em revistas internacionais indexadas, e ainda oito prémios atribuídos a comunicações científicas apresentadas em congressos internacionais.

A publicação de artigos científicos e as comunicações em congressos nacionais e internacionais são fundamentais para a divulgação do conhecimento e para se avançar na compreensão científica em determinada área de investigação. Também são uma prova do esforço e da dedicação à investigação científica.

O que diria a todas as meninas/jovens/mulheres que gostariam de construir uma carreira científica?

Acredita em ti própria: És tão capaz como qualquer outra pessoa de ter sucesso numa carreira científica. Tem confiança no teu conhecimento e nas tuas capacidades.

Procura mentores: Procura mentores na área científica que mais te agrada para que estes te possam ajudar a desenvolver as tuas capacidades e orientar-te na tua carreira. 

Persegue as tuas paixões: Encontra uma área de investigação que te apaixone e segue em frente! Se estás apaixonada pelo que fazes, será mais fácil manter a motivação num meio desafiante.

Sê perseverante: A ciência pode ser um campo competitivo e desafiador, mas não desistas. Lembra-te de que cada falha é uma oportunidade de aprendizagem e crescimento.

Conecta-te com outras mulheres na área: Procura grupos de mulheres cientistas e eventos que promovam a diversidade na ciência. Essas conexões podem ajudar-te a sentires-te apoiada e inspirada.

Alguma vez pensou em desistir?

Desistir nunca! Na fase da licenciatura tudo corria bem, só dependia de mim e das minhas escolhas. No Doutoramento já é diferente; não é uma profissão, é um estudo mas nem sempre corre bem. Muitas vezes senti-me triste quando as coisas não corriam bem, mas nunca coloquei a hipótese de desistir. A entrada no doutoramento foi algo que eu sempre quis.

O que acha que ainda lhe falta fazer/conquistar a nível académico e/ou científico?

A nível científico, tive um percurso académico em que me sinto muito realizada, e tudo aconteceu muito rápido. Sinto-me realizada, por tudo o que atingi até ao momento. Agora o que me preocupa são as pessoas que estão a trabalhar comigo. Ajudá-los a encontrar o local que lhes dê estabilidade em termos profissionais.

“É importante destacar e celebrar as contribuições das mulheres na ciência e trabalhar para promover a igualdade de género e a diversidade na área, criando um ambiente inclusivo e equitativo para todos os profissionais.”

O que é para si ser uma “Mulher na Ciência”?

Ser uma “Mulher na Ciência” é ser uma profissional dedicada ao estudo e à investigação científica numa área que, historicamente, tem sido dominada por homens. Além disso, ser uma “Mulher na Ciência” é também ser uma inspiração e um modelo para outras mulheres que desejam seguir carreira na área científica. É importante destacar e celebrar as contribuições das mulheres na ciência e trabalhar para promover a igualdade de género e a diversidade na área, criando um ambiente inclusivo e equitativo para todos os profissionais.

 

Artigo escrito por: Carina Vieira e Joana Monteiro

Editado por: Inês Miranda e Maria Teresa Martins