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Educação

Alunos e professores com visões diferentes sobre o ensino pós-pandemia

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Reitoria da Universidade do Porto

Esta nova forma de adaptação também chega ao mundo do ensino, seja ele básico, secundário ou superior. As aulas foram suspensas durante um primeiro período de confinamento, tendo-se depois o governo e as escolas moldado às necessidades. O que se questiona é o quão fidedigna será esta nova realidade do ensino à distância. Novos cursos poderiam surgir, futuramente, nos moldes de ensino à distância? Estes tempos são de novo desafio para alunos, professores e governantes. Contudo, as respostas e visões deste “novo modelo de ensino” são muito diversas.

Professores entrevistados pelo JUP afirmam que este modelo, possivelmente um “novo modelo de ensino”, fica “muito aquém das expectativas”. Palmira Rodrigues, professora na Escola Secundária Almeida Garrett, afirma que este tipo de ensino é possível “se alunos e professores tiverem os meios tecnológicos e os dominarem, mas não se assemelha à escola presencial e querer reproduzir o modelo é um erro”.

Quanto à avaliação, Palmira Rodrigues defende que “depende do que se pretende avaliar”. “Se não se conhecer previamente o aluno, mais difícil é”, frisa, dizendo ainda que esta “não é uma mobilidade que melhore o ensino”. “São os professores e alunos que têm que alterar as suas conceções de ensino e aprendizagem”, diz a professora, para que “os professores deixem de ser o centro e transmissores de conhecimento, e os alunos passem a desenvolver a sua autonomia e responsabilidade, tornando-se o centro da aprendizagem e os construtores do seu próprio conhecimento”.

As respostas do lado docente são variadas, com a necessidade de adaptarem o seu método às novas tecnologias sendo um dos pontos comuns. Já os alunos deparam-se com novas avaliações e interações, que antes não eram tão usuais. Rui Vieira Cunha, aluno de Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), afirma que “é possível desenvolver um ensino à distância fidedigno e de excelência”. “Tendo em conta que esta modalidade de ensino foi impulsionada pela COVID-19, penso que é preciso bom senso por parte de toda a comunidade escolar”, acrescenta ainda.

As novas aprendizagens podem ser uma nova realidade numa era pós-Covid, segundo Rui Vieira Cunha: “Considero que a aprendizagem via web vai continuar na era pós-Covid. Mas de uma forma diferente, como um complemento essencial ao ensino presencial com um peso significativo.”

A produção de conhecimento acaba por atingir novas realidades com este “modelo de ensino” questionado e criticado por muitos docentes. Os alunos acabam por tentar gerir a resposta digital, de acordo com as suas capacidades e condições socioeconómicas. As disparidades são muitas, em todos os aspetos, desde a capacidade ter um computador até ao acesso à internet. 

Eugénia Cunha, professora na Escola Secundária de São Pedro da Cova, diz ao JUP que “o ensino é uma troca de saberes e nada substitui isso”. A posição face ao ensino digital torna-se menos favorável por parte desta professora, uma vez que acredita nos benefícios do ensino presencial. “Não se deve servir um ensino presencial no digital ou literalmente, só em situações pontuais”, frisa.

Relativamente ao ensino via web, Mariana Silva, estudante da Licenciatura em História na FLUP, refere que “possa existir um novo conceito de aprendizagem via web, contudo existe um longo caminho a percorrer para que este novo ensino seja mais eficaz”.

Mariana Silva refere-se a um “mundo pós-COVID, com novas alternativas à realidade que conhecíamos antes“. A questão da mobilidade é para ela uma vantagem, uma vez que o ensino via web pode ser feito a partir de casa e abre portas às oportunidades dos cursos internacionais.

As principais adaptações que porventura podem existir são ao nível do papado dos professores, que começa ser questionado, a falta de competências no processo de educação e formação, que são perdidas neste novo modelo via web e por fim o processo de adaptação diferente de alunos e professores, no ano letivo de 2019/20.

Os espaços, as experiências em sala de aula e a “troca de saberes” parecem, por um lado, ser fundamentais no processo de aprendizagem dos alunos, tanto no Ensino Secundário como no Ensino Superior. Por mais documentação e apoio digital que os alunos tenham, certas situações de aula são, na opinião dos professores entrevistados, fundamentais.

O modelo à distância fica como uma “tentativa” de responder às necessidades quando o mundo não estava preparado, a todos os níveis, para uma situação de calamidade. As vozes que se fazem ouvir, tanto por parte dos alunos como dos professores, são por vezes discordantes, mas o ensino digital pode tornar-se uma realidade bem presente num futuro próximo.

 

Bruno Almeida