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Artigo de Opinião

Mulheres Afegãs: Um Clamor Mudo por Liberdade

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Caminhamos em direção a um mundo novo em que a revolta assinala a mudança, mas e se fôssemos silenciados por normas que condicionam toda a nossa existência?

O movimento Talibã detém o género feminino como as principais vítimas da sua idealizada crueldade. Os direitos das mulheres são  rigidamente limitados através da imposição de preceitos que negam o seu o direito à educação, ao trabalho, à livre comunicação e circulação, a rir, fotografar, à utilização de qualquer cosmético, calças, saias acima do tornozelo ou até cores mais evidenciadas, estando elas inteiramente à mercê de uma figura masculina que as acompanhe na realização de qualquer atividade exterior. Como tal, ao violar indeterminada regra aqui proferida, sujeitam-se ainda a chicotadas, torturas, espancamentos e todo o tipo de abusos verbais.

Coagidas também à escravidão sexual, à utilização de burca, ao casamento combinado e à cedência dos seus cargos e estudos, as mulheres afegãs viram como único escape abandonar o seu país de origem. De rostos vazios e objetivos destruídos, muitas foram aquelas que procuraram salvar-se do terror desumano a que estavam expostas. Ainda assim, viram-se impossibilitadas de recorrer a transportes públicos, bem como nenhum motorista parecia manifestar interesse em conceder-lhes boleia, sendo que o pavor em se declarar como seus cúmplices papeava mais alto.

A conturbação foi rapidamente instalada em qualquer parte do mundo, apelando ao aumento da atenção e visibilidade de uma causa tão séria quanto esta. Porém, a incessante luta em prol dos direitos sociais destas mulheres encontra-se, lamentavelmente, ainda distante da sua atual realidade. Desde figuras públicas e influencers até ao mero vizinho do lado, muitos são aqueles que, privilegiados, optam pelo silêncio. Sob o contexto do recente fenómeno denominado por “cultura do cancelamento”, denota-se um maior incómodo, bem como preocupação, na expressão acerca de determinadas temáticas consideradas controversas, porém, será a quietude a resposta que salvaguarda a reputação?

Detendo ou não uma vasta liga de seguidores, as redes sociais concedem-nos abertura para informar e consciencializar quem quer que seja. Um simples post, foto ou hashtag, impacta uma série de pessoas, unindo-as a esta maratona contra a desigualdade que percorremos todos os dias. Mesmo que de modo inconsciente, tapar os olhos a um caso desta dimensão é aliar-se à ignorância. Ainda que inseridos no seio de uma pandemia – esta que nos consome faz dois anos -, são mentes retrógradas e adeptas de tais normas que, em verdade, adoecem a nossa sociedade.

E nós? Possuímos a liberdade que as mulheres afegãs não portam, a voz que a elas fraqueja. Dispomos de toda a informação e ferramentas para que nos reivindiquemos face a desmesurada inquietação e, ainda assim, não o fazemos. “Não é uma adversidade nossa nem do nosso país” – explicamos. A verdade é que cogitamos viver num mundo justo, onde não mora desigualdade ou opressão mas, assim que o alvoroço não corresponde à nossa realidade, entendemo-nos como hipócritas, desmerecendo um problema que, ainda que corrente num país que não o nosso, nos exige idêntica responsabilidade.

Refiro-me a vidas postas em causa justo a uma crise humana, a mulheres percebidas como objetos extraviando-se da sua respetiva identidade. É essencial não menosprezar o sucedido e, especialmente, afastar-se do receio de lutar por aquilo que é o correto. Desde partilhar posts no Instagram, a doar dinheiro e assinar petições. Informa-te, fala e ajuda. Só seremos verdadeiramente livres assim que todos o forem.

 

Artigo da autoria de Sara Terroso