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Artigo de Opinião

The Walt Disney Company, vilã suprema

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Atualmente, tem-se disseminado a consciência do papel dos media no desenvolvimento das crianças. O facto de a Disney ser um nome tão relevante no entretenimento infantil, atraiu o olhar mais atento de pais e outros educadores. Neste seguimento, têm vindo a crescer as acusações de que a Disney é responsável por perpetuar estereótipos prejudiciais relativos a grupos sociais marginalizados como, por exemplo, as mulheres. As críticas passam pela hipersexualização e falta de representação de personagens femininas, bem como a falta de representação de personagens LGBTQI+. Isto afeta a maneira como as crianças se veem e como veem os outros. Embora a Disney tenha declarado que tomou medidas para melhorar a representação feminina nos seus filmes, muitas das personagens femininos continuam a espelhar ideias preconceituosas e conservadoras.

Nos últimos anos, houve um aumento da representação feminina em papéis de vilãs em filmes e séries de televisão, incluindo no universo Disney. Certo é que este crescimento pode ser algo positivo. No entanto, há que atentar à forma como tal é feito.

Tradicionalmente, as vilãs da Disney possuem atributos físicos de índole masculina, que as afasta da beleza ideal exibida pelas princesas. Tipicamente, as vilãs são maiores do que as princesas e possuem atributos como excesso de peso, como Úrsula de A Pequena Sereia, e chegam mesmo a ser assimétricas. Geralmente, os rostos das antagonistas são alongados e as suas vozes mais profundas ou ásperas, como a Rainha Má em Branca de Neve quando se transforma em idosa. Deste modo, incute-se, subtilmente, que a beleza das princesas contribui para o seu sucesso e bom caráter, enquanto as vilãs se afastam dessa beleza e pertencem, portanto, às trevas. Perpetua-se o desprezo pela diversidade de corpos, o que prejudica a imagem que cada pessoa tem de si própria e a forma como irá trata os outros.

Acrescente-se que, por norma, as antagonistas são mulheres poderosas e retratadas com padrões de beleza negativos enquanto que as princesas, indefesas e desejáveis, são construídas à luz do padrão de beleza tradicional. Ou seja, a Disney reforça que tipo de mulher a sociedade favorece, inculcando às meninas que só têm duas opções na vida: serem como a princesa, linda, magra e sempre dependente da ajuda de homens, ou serem a vilã feia, poderosa mas que é temida por todos e que, inevitavelmente,  acaba por ser derrotada.

Além disso, as vilãs da Disney não traduzem a complexidade humana aos mais novos. Sim, filmes para crianças devem ser simples e adequados às suas capacidades cognitivas e emocionais. No entanto, o que acontece é a redução das motivações das vilãs a algo trivial, estando ausente um certo tom de profundidade, em particular nos filmes mais antigos. As vilãs da Disney são movidas pela busca da beleza ou por ciúmes. A Rainha Má quer ser a mais bela do reino, a madrasta de Cinderela tem ciúmes de sua beleza e Mãe Gothel rapta Rapunzel para permanecer jovem. Esta visão das vilãs pode conduzir à ideia de que as mulheres são mais propensas a ficar com raiva por motivos mesquinhos.

Em suma, é claro que existem muitas lacunas na representação de género no universo da The Walt Disney Company, que têm por base a repetição constante de premissas problemáticas através do aspeto das suas personagens, interações entre as mesmos, bem como os seus sistemas de crença. Embora já existam esforços por parte da companhia em reverter esta situação, ainda existe um longo caminho até que o paradigma machista, outrora defendido, desapareça das convicções formadas na infância da maioria.

Artigo da autoria de Beatriz Costa

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