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Artigo de Opinião

O MERCADO DO SEXO

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O sexo é a materialização de complexos instintivos, associados à primitividade do homem. Considerado historicamente, institucionaliza-se enquanto comportamento humano, fruto de uma tendência espontânea e biologicamente natural. São-lhe associadas interpretações diferenciadas mediante os referenciais culturais, que podem conceber o sexo desde um ato que somente deva ser praticado aquando reunidas condições como o casamento e a necessidade de procriação, a uma prática recorrente, banal e que inclua parceiros distintos, de vários sexos e entre dois indivíduos ou grupos deles.

Universalmente, aceitamos que o sexo para o homem distingue-se do estado animal, puramente selvático, pela existência da razão. A razão lega-nos um entendimento sobre o sexo para além dos estados fisiológicos, permitindo-nos alcançar o deleite espiritual. O sexo constitui uma manifestação dos nossos sistemas biológicos e emocionais, imiscuídos em complexas redes mentais.

Alheados de todas as conceções, culturas e tendências, questionamo-nos se o homem contemporâneo experiencia a sexualidade num movimento de genuína liberdade e criatividade? Neste momento, o leitor seguramente remeter-se-á às suas vivências particulares, procurando analisar se todo o seu percurso sexual até então brotou e construiu-se sem condicionamentos alguns e num processo de livre e espontânea consciência. Provavelmente será incitado a considerar que sim, que de facto experienciou o sexo conscientemente e numa lógica de absoluta liberdade.

Peço-lhe que atente nos pormenores. Lembre-se do seu primeiro contacto com o sexo. A sua primeira ideia. O seu primeiro estímulo. Recorda-se? Provavelmente surge do filme com a cena erótica, de uma foto na internet ou de uma revista dos seus pais. A verdade é que estes estímulos não são naturais. Opostamente, brotam de um processo artificial de estimulação mental. São-nos induzidos critérios do que deve ser entendido como belo ou aprazível aos sentidos, sem que o indivíduo possa tomar consciência deles. Mesmo atendendo-se às possíveis propensões biológicas, uma larga parte das conceções sexuais emanam de construções sociais, inventadas pelo Homem e promovidas pelas tecnologias de comunicação. Tomem-se exemplos.

O glorioso Mercado do Sexo: a pornografia. Se numa realidade de outrora, a descoberta do sexo decorria num movimento espontâneo e natural, munido da tão característica inocência, com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, o entendimento do sexo enquanto indústria, produto passível de mercantilizar-se, é profundamente reforçado, sofrendo um exponencial crescimento.

Se analisar minuciosamente, perceberá que a pornografia nos remete para uma conduta e psicologia sexual particulares e que, inconscientemente, moldam a mente do indivíduo.

A indústria do sexo contemporânea mune-se de instrumentos agressivos, que invadem os espaços privados dos indivíduos. Estes instrumentos atuam no seu inconsciente, despoletando instintos primitivos e que incitam a determinadas condutas sexuais e conceções mentais. O culminar deste processo respeita à interferência gradual destas imposições na densidade psicológica dos indivíduos, imiscuindo-se na formação e desenvolvimento das personalidades femininas e masculinas, e na interacção dos géneros. Analisando o panorama geral, a indústria pornográfica cultiva uma conceção de homem enquanto agente de dominação e agressão e a figura feminina posicionada enquanto agente de submissão. Poder-se-ia argumentar existirem milhentos géneros na indústria pornográfica, associadas a tantas outras preferências. Contudo, debruçamo-nos sobre as tendências comerciais.

Talvez a primeira interrogação incidiria nas intencionalidades inerentes a uma indústria desse tipo. O que motiva a indústria do sexo e os seus profissionais? O lucro, claramente. Contudo, como legitimar a mercantilização do sexo, disponibilizado gratuitamente aos seus utilizadores, sem considerar a existência de quaisquer tipos de filtros? Sabe hoje, se os seus filhos consultam pornografia quando lhes proporciona a liberdade de aos dez anos navegarem na internet?

A pornografia é um exemplo em milhares de produtos visuais e interativos com potencialidade de condicionar as mentes humanas. Poder-se-ia advogar ser a pornografia uma criação proveniente do próprio Homem e, como tal, advir de um processo de evolução natural.

Primeiramente, apelo ao argumento primeiro da razão, que nos permitem a formulação de padrões éticos, flexíveis aos contextos situacionais culturais. Se para o leitor a dimensão ética não se institui como força suficiente para repensar esta realidade, ouso à seguinte abordagem conclusiva. Atente seriamente e com o coração na seguinte reflexão: experienciaríamos a sexualidade de igual modo na ausência de tais conceitos?

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