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Artigo de Opinião

GUERRA OU PAZ DE RUI SIMÕES

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Adriano Campos

Adriano Campos

“A forma mais rápida de terminar uma guerra é perdê-la”. Assim escreveu George Orwell, na certeza de ser lido pelas gerações futuras, lançadas, também elas, no flagelo da guerra. Muitos dos cem mil portugueses que durante os longos treze anos de guerra colonial saíram do país partilharam, em algum momento, essa ideia. Recusar o belicismo de uma incursão autoritária e imperialista pela manutenção de um território e um modo de espoliação dos povos africanos apresentava-se como a escolha de uma vida. Partir era, pois, uma decisão total, tida como irreversível e carregada pela incógnita de um futuro além-fronteiras.

O documentário de Rui Simões faz-se dessas histórias. Do casamento apressado e necessário à fuga conjunta, da escolha do caminho mais seguro, do planeamento incerto da chegada.  A renúncia ao combate impunha-se na capacidade de fazer cumprir a decisão, de alcançar uma escapatória no tempo possível.

Os dilemas de um confronto que marcou a história recente do país estão expostos, também, nas falas daqueles que se impuseram continuar a guerra. Mas do outro lado. A construção tenaz e decisiva dos novos exércitos de libertação contou, como sabemos, com militares que, sendo oriundos das colónias, se formaram no Exército português. O alastrar dos confrontos e o esforço de politização dos movimentos de libertação resultaram na deserção de numerosos quadros, que continuaram a guerra pelo lado que reivindicava a autodeterminação dos seus povos. O relato do ódio de um combatente angolano, relembrando a sua prostração física do cansaço da guerra é uma das imagens fortes deste documentário, que nos acompanha para lá do seu fim.

Os tortuosos caminhos de resistência que levaram ao 25 de abril de 1974 fizeram-se destas ações. A guerra colonial travada além-mares estabeleceu o primeiro embate continuado e de grande porte militar contra o fascismo que governou Portugal por 48 anos.  Os que a fizeram e os que a recusaram fizeram essa história. Possivelmente a mais importante das nossas vidas.

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