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Artigo de Opinião

Somos realmente livres ou apenas ignorantes?

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Quando pensamos na questão de sermos ou não livres, pensamos na liberdade que temos,
sendo esta definida como algo que nos permite ser autodeterminados, independentes e
autónomos. Mas será que realmente existe o livre arbítrio ou somos condicionados pela
sociedade nas nossas escolhas?

Para entender melhor como a cultura nos condiciona, basta começar a pensar na nossa
infância. Desde crianças que estas regras culturais e de género começam a ser incutidas e
dependem do género que a sociedade nos atribui. Para as raparigas, estas regras vão desde
pequenas coisas como usar vestidos, não ser resmungona nem líder, porque os rapazes não
gostam de mulheres poderosas, não usar roupa demasiado curta, não usar demasiada roupa,
não ser desleixada com a imagem, não usar tanta maquilhagem, não estar acima do peso, não
ser demasiado magra, porque temos de obedecer aos padrões de beleza atuais, até que
condicionam a nossa carreira e família. Dizem sempre que temos de casar para nos sentirmos
realizadas, temos de tomar conta dos filhos, ser donas de casa, dizem-nos que os piropos
são elogios, para não andarmos sozinhas à noite, entre outras regras ridículas e sem
fundamento. Além disto, a sociedade incute-nos a ideia de que temos de estudar até, pelo
menos, uma licenciatura para depois trabalhar, casar e ter filhos, como se fosse a única opção e
fossemos todos iguais e tivéssemos os mesmos objetivos pessoais e profissionais.

É claro que somos mais livres do que no século passado, porque a qualidade de vida aumentou
e já não vivemos em ditadura, temos liberdade de expressão, de opinião e de
autodeterminação. No entanto, os nossos pensamentos são condicionados pela sociedade que
nos coloca rótulos, dependendo da nossa idade, género, classe social e etnia, bem como a forma como
somos tratados pela sociedade depende destes fatores. Por exemplo, as feministas ainda são vistas,
muitas vezes, como desnecessárias porque supostamente já não têm pelo que lutar, as pessoas
de diferentes etnias continuam a ser discriminadas, a comunidade LGBT+ continua a ser mal
tratada e os imigrantes, bem como todas as minorias no nosso país, continuam a ser tratados de forma
preconceituosa e como seres inferiores.

Por outro lado, existe, também, a questão filosófica do livre arbítrio, onde existem várias teorias
desde a determinista, defendida por Espinosa, que considera que tudo está destinado e que
não temos liberdade de escolha, indo de encontro à ideologia do catolicismo, onde o nosso
destino depende de Deus. Já em oposição a esta teoria existe o libertismo que defende que
somos totalmente responsáveis pelo nosso destino, que este depende das nossas ações. Eu prefiro
acreditar que somos donos do nosso destino e temos livre-arbítrio nas nossas decisões, mas
estas são condicionadas pela cultura. Por isso, é importante ao longo da vida
desconstruirmos as crenças que nos condicionam para nos tornarmos mais livres. Mas, o mais
importante para perceber a nossa liberdade é a educação sobre o mundo à nossa volta, pois só
percebemos como somos privilegiados, como a sociedade funciona e nos condiciona, quando
nos educamos e questionamos sobre o que se passa realmente e saímos da ignorância, embora
seja o caminho mais fácil ignorar tudo e viver obedecendo cegamente às regras impostas
pela sociedade, embora considere que é uma vida de prisão mental.

Por tudo isto, não me considero totalmente livre porque, embora acredite que sou dona do
meu destino, ainda tenho de desconstruir muitas crenças que me foram incutidas, o que é uma
luta constante e desgastante, tenho também de lutar por alguns dos meus direitos, mas
também sinto-me na obrigação de ajudar todas as minorias na sua luta, visto que só serei
totalmente livre quando todas as pessoas forem tratadas de forma igual, tendo os mesmos
direitos e privilégios. Só numa sociedade livre e igualitária é que existe total liberdade de
autodeterminação e estamos mais perto de a alcançar, mas ainda há muito a fazer e a
conquistar.

Artigo da autoria de Inês Amorim

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